A polícia divulgou uma nova identidade do bandido que faz há mais de 50 horas uma família refém em Campinas, a 92 quilômetros de São Paulo. O rapaz, que foi inicialmente identificado como Felipe e depois como Ivanildo, é Gleison Flávio de Sales, conhecido como Madrugada. Ele tem 23 anos de idade, é foragido do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Campinas-Hortolândia e responde por três tentativas de homicídio e um homicídio consumado. Segundo a polícia, ele já está com a prisão preventiva decretada.
As negociações para a rendição do seqüestrador prosseguem. Desde 16h30, a polícia conta com a ajuda de uma mulher, identificada inicialmente como ex-namorada do Sales. A presença da mulher atende a um pedido de Sales, que queria um mediador para negociar uma possível rendição.
Mara Silvia de Souza, de 29 anos, Tiago, de 10, e Vitor, de 7, estão em poder do seqüestrador desde o meio-dia de terça-feira. (Veja imagens do caso) A polícia esperava que o desfecho do caso fosse rápido, mas a tensão só vem aumentando, principalmente depois que a polícia descobriu tratar-se de um bandido com perfil mais perigoso do que se pensava inicialmente. Nesta manhã, ele propôs trocar cigarros e água por crianças, mas depois recuou. O telefone fixo da casa também foi cortado.
A madrugada desta quinta-feira foi de apreensão na casa da Rua Cneo Pompeo de Toledo, no Jardim Novo Campos Elíseos. Por volta das 0h30m, segundo o frentista Isvaldo Oliveira, pai das crianças, o criminoso pediu aos policiais dois extintores e as chaves do carro da família para fugir. Os policiais chegaram a entregar os extintores, mas o bandido voltou atrás. A conversa foi suspensa uma hora depois. Durante a noite desta quarta-feira, a polícia também tentou localizar uma irmã de Ivanildo, mas segundo a polícia, ele disse coisas desconexas em relação à família dele. No momento, as negociações estão novamente paradas.
Cerca de 50 policiais militares e do Corpo de Bombeiros cercam o local, mas a casa onde o seqüestrador está com as vítimas fica nos fundos de outra residência, o que dificulta a visualização dos policiais. Mesmo assim, a polícia garante que as vítimas estão bem, já que foram feitos contatos telefônicos pelo celular. Nesta quarta, um padre tentou ficar no lugar dos reféns, mas a polícia recusou .
O drama da família começou quando o bandido, que havia roubado uma loja de jogos eletrônicos, invadiu a residência durante a fuga de um policial. A polícia cercou o local e passou a negociar a libertação de Mara de Souza e seus filhos. No meio da tarde de terça, o menino de 4 anos foi solto em troca de um colete à prova de balas. Integrantes do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) de São Paulo acompanham o caso.
A expectativa da polícia é de que o seqüestrador seja vencido pelo cansaço, mas há informação de que há comida na casa pelo menos até o final de semana. O fornecimento de água e energia já foi cortado deste a terça-feira. O pai dos meninos não estava em casa na hora da rendição e acompanha as negociações do lado de fora.
Perfil mais perigoso
O bandido que mantém os reféns tem um perfil mais perigoso do que a polícia pensava inicialmente. Segundo os policiais, ele tem passagens por roubo, tráfico de drogas e formação de quadrilha. Antes, a informação era de que ele tinha passagem por furto - crime sem uso de arma de fogo. Também foi corrigido seu nome: ele se chama Ivanildo, e não Felipe, e tem 35 anos, e não 26. Para a polícia, este novo perfil torna a situação mais arriscada do que se imaginava. A polícia mantém o sobrenome dele em sigilo.De acordo com a polícia, Felipe seria o comparsa do acusado, que conseguiu fugir.
Segundo o major Luciano Casagrande, o diálogo está difícil já que o acusado está nervoso e falava muito, sem dar chance para o negociador. Na tarde desta quarta, houve uma tentativa de trocar uma das crianças por outro colete à prova de balas, mas a negociação não avançou. Segundo uma prima dos reféns, o criminoso deu tiros durante a noite de terça-feira e chegou a ameaçar os reféns com gás de cozinha.
- Ele não está ouvindo o negociador. Estamos deixando que ele retome as negociações - disse o policial.
Ivanildo e os reféns estão em um quarto nos fundos da casa de quatro cômodos. A porta do quarto está bloqueada por um beliche.
O assaltante pede um carro para a fuga. A dona-de-casa se dispôs a servir a ele como escudo na fuga para que seus filhos sejam liberados. A polícia, porém, afirma que só é possível qualquer negociação com a liberação de todos os reféns.
Segundo um policial, o assaltante tentou colocar a dona-de-casa Mara Souza Thomaz à frente da negociação. A proposta teria chegado aos policiais num telefonema feito pela própria vítima ao celular do marido.
A polícia, porém, descartou a proposta. O major Casagrande afirmou que a postura da vítima dificulta a situação da polícia.
- Essa atitude fortalece as exigências do seqüestrador, que acaba se sentindo dono da situação - disse o policial.
Para os policiais, Ivanildo não aparenta transtornos mentais, mas alterna períodos de nervosismo e de calma.
- Temos todo o tempo do mundo e vamos aguardar para que não ocorra nenhuma ação precipitada, nem da polícia, nem dele - afirmou o major pela manhã
A avó das crianças, que sofre de hipertensão, passou mal durante a madrugada de quarta-feira e teve de ser atendida pelo Samu. Segundo a polícia, as crianças não entendem o que está acontecendo e querem apenas sair da casa.
- Temos que aguardar com paciência. Nosso objetivo é que todos saiam ilesos - afirmou o tenente João Brás Oliveira.
Ivanildo e um comparsa assaltaram uma loja de games numa galeria do bairro e fugiram a pé. Um policial à paisana teria interceptado a fuga e, segundo vizinhos, pelo menos 4 tiros foram ouvidos. Ivanildo pulou muros, passou por um estabelecimento comercial, um terreno baldio e chegou até a residência onde estavam a mulher e seus três filhos. O outro assaltante, Felipe, conseguiu fugir.