Nas investigações da Operação Aquarela, que desbaratou um suposto esquema de desvio de dinheiro do Banco de Brasília (BRB), a Polícia Civil do Distrito Federal flagrou uma conversa na qual o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) e o ex-presidente do BRB Tarcísio Franklin de Moura tratam da divisão de R$ 2,2 milhões.

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A origem do dinheiro sacado em uma agência do BRB seria um cheque do empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol.

Tarcísio Franklin de Moura, que presidiu o BRB durante oito anos por indicação do ex-governador Roriz, foi preso pela polícia na Operação Aquarela. Ele é apontado como chefe do esquema. Trechos dos telefonemas interceptados com autorização judicial foram reproduzidos neste sábado (23).

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Em um deles, o ex-presidente do BRB avisa ao atual senador e ex-governador do DF Joaquim Roriz que mandaria o dinheiro para a casa dele, em uma área nobre da capital federal.

Tarcísio: Não, não vai estar na minha mão, não. O dinheiro vai sair da tesouraria e vai direto. Vai num carro.

Roriz: Não, eu não quero não.

Tarcísio: Não?

Roriz: Não.

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Tarcísio: Uai, então como é que eu vou transportar esse dinheirão todo?

Roriz: O que eu faço? Mas eu não quero não.

Tarcísio: Então eu vou abortar lá, porque não tem jeito, não tem como. Onde é que vai por esse dinheiro? Saiu da tesouraria, tem que entregar pra alguém.

Roriz: Num tem um cofre aí, não?

Tarcísio: Para isso tudo, não tem não (risos).

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Minutos depois, o então presidente do BRB liga novamente para Joaquim Roriz. E sugere que a partilha do dinheiro seja feita no escritório de Nenê Constantino. O senador aprova a sugestão.

Tarcísio: Posso sugerir um negócio?

Roriz: Pode.

Tarcísio: Por que a gente não leva para o escritório do Nenê?

Roriz: É prá isso mesmo.

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Tarcísio: E de lá sai cada um com o seu.

Roriz: Era pra ser isso mesmo, mesmo porque lá não tem dúvida nenhuma.

Tarcísio: Exatamente.

Roriz: Eu tô pegando o endereço, já.

Tarcísio: Ah, então tá ótimo. Nós pensamos a mesma coisa.

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A transação, por ser superior a R$ 100 mil, deveria ter sido informada imediatamente pelo BRB ao Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf). Mas a comunicação só foi feita seis dias depois, segundo reportagem do jornal "Correio Braziliense".

Explicações

Procurado, Roriz respondeu, pelos assessores, que o dinheiro não era do banco, nem público. E distribuiu alguns documentos para mostrar que se tratava de um negócio particular. Ele teria pedido dinheiro emprestado ao empresário Nenê Constantino para comprar uma bezerra, no interior de São Paulo.

A Polícia Civil conseguiu a cópia do cheque no valor de R$ 2.231.155,60. O senador Joaquim Roriz teria pedido ao ex-presidente do BRB Tarcísio Franklin que providenciasse o desconto do cheque, do Banco do Brasil, no caixa do BRB, em uma operação ainda não explicada.

O senador Roriz diz que ficou com R$ 300 mil "emprestados" e entregou o restante para o empresário Nenê Constantino, dono do cheque. Mas no telefonema gravado diz que o dinheiro é de muita gente.

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Roriz: Dinheiro de muita gente.

Tarcício: Aham.

Roriz: Depósito mesmo é só um de duzentos e poucos mil e como é que entrega os outros? Não tem jeito. Tinha que entregar em um lugar, pra naquele lugar dividir.

Suposto empréstimo

Roriz apresentou cópias de um contrato, informal, sobre o suposto empréstimo de Nenê Constantino. E também do comprovante de depósito para a Universidade de Marília, onde a bezerra teria sido comprada, e o recibo do negócio.

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Em outro trecho da conversa, o primo de Joaquim Roriz, Benjamim Roriz, presidente do Conselho Administrativo do BRB desde junho de 2004, pergunta pela parte dele. Segundo a assessoria de Roriz, o senador repassou R$ 28 mil para o primo para um tratamento de saúde na família. Atualmente, Benjamim Roriz é também assessor especial do governador José Roberto Arruda.

Outro lado

O ex-presidente do BRB Tarcisio Franklin não é localizado desde que deixou a prisão. Em nota divulgada neste sábado (23) pela companhia aérea Gol, o empresário Nenê Constantino confirmou que fez, em março, um empréstimo pessoal de cerca de R$ 300 mil ao senador Joaquim Roriz, "de maneira regular por meio de notas promissórias e contrato mútuo". Ele negou, no entanto, que tenha repassado ao senador um cheque de R$ 2,2 milhões. Nenê Constantino disse ainda que nunca foi cliente do Banco do Brasília.