
Opinião de especialista
Prática "vicia" a democracia
O cientista político Ricardo Costa Oliveira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que a prática de escolher candidatos a cargos públicos dentre as fileiras de famílias tradicionais "vicia" a democracia brasileira.
"Eles [os sucessores] acabam herdando o capital econômico e todo o capital político de suas famílias. Têm uma rede de contatos que os beneficia e faz com que saiam em vantagem", afirma. Por outro lado, Oliveira lembra que não é possível criticar alguém apenas com base no seu parentesco, e que cada caso precisa ser julgado separadamente.
Autor do livro O Silêncio dos Vencedores, em que descreve o processo de formação da oligarquia política paranaense, o professor acredita que o fenômeno do "familismo" se agravou no Paraná nos últimos dez anos. "Basta pensar na disputa pelo governo do estado, dominada por duas famílias que estão há 30 anos no poder", diz, em referência a Osmar Dias (PDT) e Beto Richa (PSDB). O professor diz que prepara um novo livro sobre o assunto. (RWG)
A eleição de 2010 repete no Paraná um fenômeno típico da política brasileira: políticos mais experientes colocam seus filhos e sobrinhos para disputar cargos públicos. Neste ano, entre os candidatos de primeira viagem estão parentes de deputados e de ex-governadores.Em alguns casos, o novo candidato vem substituir alguém que já não pode mais se candidatar. É essa a situação de Bernardo Carli, por exemplo. Candidato a deputado estadual pelo PSDB, ele é o novo herdeiro político do prefeito de Guarapuava, Fernando Ribas Carli (PP).No ano passado, o irmão de Bernardo, Fernando Ribas Carli Filho, teve de renunciar ao mandato depois de se envolver em um acidente de trânsito em que duas pessoas morreram. Carli Filho responde a processo, mas o julgamento ainda não aconteceu. O ex-deputado é acusado de estar embriagado no momento da batida e tinha 130 pontos na carteira de habilitação. A reportagem tentou contato com Bernardo, mas não conseguiu.
Ex-presidente da Assembleia Legislativa do Paraná Hermas Brandão também está impedido por lei de disputar eleições. Ele hoje é presidente do Tribunal de Contas do Estado e, enquanto permanecer no tribunal, não pode estar filiado a partido político nem fazer campanha para ninguém. Nesta campanha, porém, dois possíveis "sucessores" dele estarão disputando o mesmo cargo.
Hermas Brandão Júnior é um deles. Serventuário como o pai, com cartório em Fazenda Rio Grande, na Grande Curitiba, herdou também a profissão de advogado e o gosto pela política. "Enquanto meu pai era deputado, não podia me candidatar. Agora, nossos amigos no interior, prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, pediram para eu sair."
O vereador Evandro Júnior (PSDB), de Maringá, é o outro herdeiro de Hermas. Sobrinho do ex-deputado, disputará contra Hermas Júnior uma vaga na Assembleia. "Eu estou de fora, não posso nem fazer campanha. Eles que decidiram concorrer", afirma o conselheiro do TC.
Em algumas situações, a "linha sucessória" já chega à terceira geração. Nas eleições deste ano, há dois novatos nesta categoria. Pedro Lupion (DEM) é um deles. Filho do deputado federal Abelardo Lupion (DEM), Pedro é bisneto do ex-governador paranaense Moysés Lupion. Ele disputará uma vaga na Assembleia em dobradinha com o pai, que tenta a reeleição para a Câmara Federal.
Antônio Anibelli Neto (PMDB), que também tenta ser deputado estadual, é filho de Antônio Anibelli Filho (PMDB), atual primeiro vice-presidente da Assembleia Legislativa. Também é neto do ex-governador Antônio Anibelli.
Também há dois parentes de políticos famosos tentando vaga na Câmara dos Deputados pelo Paraná. Um deles é João Arruda (PMDB), sobrinho do ex-governador Roberto Requião (PMDB). O outro é Zeca Dirceu (PT), filho do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT).
Arruda diz que sua candidatura, mesmo ele sendo parte de uma família tradicional na política do estado, representa renovação. "Os ideais são os mesmos da minha família. Mas eu os defendo de um jeito diferente", afirma. Segundo ele, a entrada de mais um integrante da família na política eleitoral caracterizaria um modelo oligárquico apenas se houvesse pressão da família para que ele se candidatasse e mantivesse o poder do grupo. "Mas não foi o caso. Só fui incentivado pelos parentes políticos depois de decidir que seria candidato."
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