Troca de verbas por apoio seduz políticos
Na avaliação do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), apesar dos índices de popularidade altos, o presidente não é unanimidade (a pesquisa CNI/Ibope divulgada esta semana indicou que 69% dos brasileiros consideram o governo Lula ótimo ou bom). Por isso, para ele, a popularidade do presidente não seria o principal empecilho para a oposição. "O que acontece é que é mais fácil ser do governo do que da oposição. Criou-se esse estigma de que o parlamentar só sobrevive se estiver aliado ao Executivo", afirma Dias.
A prática de trocar apoio político por liberação de verbas para obras e emendas de parlamentares é uma das mais comuns no jogo político brasileiro. O governo precisa de maioria no Congresso para conseguir governar e os parlamentares necessitam enviar verbas do Executivo para seus estados, como forma de justificar seus mandatos para os eleitores. "Temos essa cultura de que o parlamentar precisa levar obras para as cidades para mostrar serviço. Isso acaba tornando o parlamentar refém do Executivo e dificulta a vida da oposição", comenta o cientista político da Unicamp Valeriano Costa. Para o deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR), essa prática só será diferente quando houver uma mudança cultural no país. "Não adianta apenas fazer uma reforma política, também é precisa fazer uma mudança na nossa cultura eleitoral", diz.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem batido seguidos recordes de popularidade nas pesquisas de opinião feitas por institutos como o Ibope e o Datafolha. Em Curitiba, o prefeito e candidato à reeleição, Beto Richa (PSDB), também tem conseguido altos índices de aprovação. O bom momento da economia do país também acaba favorecendo quem está no poder, independentemente da legenda do ocupante. No time contrário ao dos dois governantes está a oposição, que parece ter uma atuação cada vez menos expressiva no Brasil.
A opinião é defendida até por quem ocupa o papel do opositor, como o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). "A oposição sumiu. Não só em relação ao presidente, mas também nos governos municipais e estaduais. Em todas as situações, é mínima a oposição e independe do partido de quem está no governo", sentencia o senado, um dos poucos parlamantares que faz frente contra o governo federal atualmente.
Dias não está sozinho em sua crítica. Há algumas semanas, a fraca atuação da oposição dentro da Câmara Municipal de Curitiba recebeu críticas de candidatos à prefeitura da cidade. Para se ter uma idéia, da formatação atual da Câmara curitibana, apenas dez vereadores são de partidos que não apóiam a reeleição de Beto Richa.
A situação também está em vantagem no âmbito federal. Na Câmara dos Deputados, a base de apoio do governo conta com cerca de 380 parlamentares o suficiente para as propostas do Executivo serem aprovadas e as CPIs que não interessam ao governo, quase sempre, empacarem. Dentro do Senado, o governo Lula ainda encontra alguma resistência. Embora conte com o apoio de uma bancada de pouco mais de 50 senadores, o governo já sofreu fortes derrotas nessa Casa parlamentar o mais marcantes dele foi o fim da CPMF. É nesse espaço que a oposição parece ter um pouco mais de fôlego, mas mesmo assim ainda respira com dificuldades.
Segundo o cientista político Lúcio Rennó, da Universidade de Brasília (UnB), esse cenário é um movimento natural da democracia. "A oposição não é tão ferrenha como antes, mas não morreu. As pessoas se assustam com essa moderação da oposição, mas em democracias estáveis onde já houve maior alternância de poder , se vê que os partidos ficam mais moderados com o passar dos tempos", afirma.
Assim como Rennó, o professor de Ciências Políticas Valeriano Costa, da Universidade de Campinas (Unicamp), diz não acreditar no fim da oposição, mas apenas que essa apatia dos opositores frente ao governo federal é uma situação de momento. "A oposição não é omissa por culpa dela, apenas é muito difícil fazer oposição no contexto atual", comenta Costa.
Ele aponta a popularidade do presidente que é em grande parte baseada no bom momento econômico do país como um dos fatores que dificultam a atuação da oposição no Brasil. "Com os índices de popularidade que o presidente tem apresentado, fica difícil fazer oposição a ele. As denúncias simplesmete não o atingem e uma oposição mais forte a ele nem sempre é vista com muita simpatia pelo eleitorado", diz.
Novos tempos
O enfraquecimento da esquerda no âmbito federal acompanhou o novo cenário político que se desenhou a partir de 2003. A eleição de Lula a Presidência colocou o PT no governo e o PSDB na condição de partido opositor: posições novas para ambas as legendas. "Sem dúvida, o PSDB não tem o mesmo estilo de ataque que o PT tinha quando estava na oposição", afirma Costa.
Aliado ao estilo mais ameno da nova oposição, ainda está a capacidade do governo federal liderado por Lula de contar com o apoio de movimentos sociais e de sindicalistas. "Esses movimentos, que antes eram uma força da oposição, agora tendem a apoiar mais do que a criticar o governo", observa o deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR).
Na opinião do parlamentar, a única saída para a oposição é começar a apresentar planos para o Brasil melhores do que os do grupo da situação. "Não basta apenas o trabalho de combate à corrupção. É importante mostrar que nós temos grande importância para os resultados atuais da economia e que podemos criar um novo plano para o país."
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