Depois de uma forte aproximação com o Irã durante o mandato de Lula, o Brasil adotou uma postura mais reservada e de afastamento em relação ao país na gestão de Dilma Rousseff. O governo iraniano estaria insatisfeito com essa nova política diplomática brasileira e já estaria dando o recado criando dificuldades para a entrada de produtos brasileiros no Irã.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o porta-voz pessoal do presidente Mahmoud Ahmadinejad e chefe da agência de notícias estatal Irna, Ali Akbar Javanfekr, afirmou que "Lula está fazendo muita falta". Na mesma entrevista, Javanfekr disse que Dilma estaria destruindo anos de relacionamento.
As declarações do porta-voz iraniano teriam surpreendido o governo brasileiro, que não identificaria abalos diplomáticos entre os dois países. O ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou ontem que vê normalidade na relação do Brasil com o Irã, tanto política quanto comercialmente. Ele evitou comentar as declarações de Javanfekr.
Apesar da negativa de Patriota, analistas de relações internacionais afirmam que há uma diferença notória entre o modo como Dilma conduz as relações diplomáticas com o Irã e a política adotada na época de Lula. "O governo Dilma é mais cauteloso e conservador em relação à política internacional", afirma o professor de geopolítica Semí Cavalcante de Oliveira, do Centro Universitário FAE, que enxerga um distanciamento do Brasil em relação ao Irã.
O filósofo Jamil Iskandar, presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, faz leitura semelhante. "Há uma notória modificação nas relações aparentes. Houve um congelamento das relações diplomáticas", avalia Iskandar. Essa mudança de rumos teria ficado evidente com o voto brasileiro na ONU a favor de investigações sobre possíveis desrespeitos aos direitos humanos no Irã. O Brasil também se afastou das negociações em relação ao programa nuclear iraniano.
Exportadores brasileiros de aves e carne já estariam sentido os reflexos da insatisfação iraniana com a nova postura do governo. A União Brasileira de Avicultura afirma que as vendas de frango para o Irã, em alta até outubro, passaram a ser vetadas sem justificativa. A empresa JBS relata ter tido milhares de toneladas de carne bovina retidas por três semanas num porto iraniano. "Quando um relacionamento diplomático diminui, isso afeta as relações comerciais também", observa Iskandar, que lamenta a situação.
Apesar das possíveis perdas econômicas, principalmente para o setor de carne e aves, Oliveira acredita que Dilma irá manter o posicionamento atual. "Dilma não vai querer se indispor com o seu eleitorado. Esse afastamento tem rendido créditos políticos. Com a situação, alguns setores podem ser fortemente atingidos. Mas seria uma crise setorial."
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