Desde o aval da Câmara dos Deputados a favor do prosseguimento do pedido de impeachment da presidente da República Dilma Rousseff, siglas partidárias já começaram a se reposicionar no xadrez político, de olho nas eleições gerais de 2018. Mas, até aqui, a construção do quadro de candidatos para a próxima disputa eleitoral está entrelaçada em duas incógnitas: se o PMDB terá força para manter a ideia de candidatura própria na esteira de um eventual governo Temer – o próprio vice-presidente da República Michel Temer agora defende o fim da reeleição para atrair de imediato o PSDB e, portanto, não poderia ser um nome de cabeça de chapa; e se o PT ainda consegue se viabilizar com a candidatura do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Definições
Enquanto PT e PMDB enfrentam cenários de incertezas, outras candidaturas próprias já são colocadas para 2018, como a do PSDB de Aécio Neves e o nome de Marina Silva, via Rede Sustentabilidade. Na briga do impeachment, enquanto os tucanos conseguiram se unir fortemente a outros partidos radicais defensores do fim do mandato da presidente Dilma – como DEM, PPS e SD -, a Rede Sustentabilidade adotou um tom moderado – preferem o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral em cima da chama Dilma e Temer, em detrimento do impedimento da petista. Assim, em 2018, a Rede Sustentabilidade também pode captar o eleitorado mais desprezado da guerra do impeachment, que não aderiu integralmente a nenhum dos lados.
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“O último candidato do PMDB à presidência da República foi Orestes Quércia [ex-governador de São Paulo, falecido em 2010], em 1994, e ele perdeu feio. Como o Temer está sinalizando que não vai à reeleição, não sei se o PMDB tem algum outro nome hoje para disputar”, pontua o cientista política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleisher. Ao mesmo tempo, o professor observa que não haveria facilidade na aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para acabar com a reeleição.
“Seria impedir a reeleição também de governadores, de prefeitos, e aí há uma resistência grande”, alerta ele, indicando que a cartada final de Temer para atrair o PSDB à sua possível gestão pode não se concretizar.
Em relação ao PT, o professor afirma que, se o ex-presidente Lula se tornar inelegível até 2018, na sequência de eventuais desdobramentos da Lava Jato, o partido também pode ter dificuldade para definir um nome. Outros fatores complicam o futuro da sigla, ainda segundo Fleisher.
“Eu acho que o PT vai sentir um encolhimento já nas eleições de 2016. Não vai conseguir eleger prefeito e vereador no mesmo número de 2012. E se, concluído o impeachment, os fichas limpas do partido resolverem mesmo sair do PT para fundar outra legenda, aí ele encolhe ainda mais”, acredita o cientista político.
Alianças
No Congresso Nacional, diante de um processo de impeachment em curso, o PT tem se reaproximado dos partidos de esquerda, como os nanicos PCdoB e Psol. As duas siglas, junto com a maior parte do PDT, têm atuado com os petistas na linha de frente contra o afastamento da presidente Dilma. Hoje o grupo ensaia para assumir uma oposição radical ao virtual governo Temer, mas pode se dividir às vésperas de 2018.
Enquanto o Psol deve marcar presença nas urnas, em especial para atrair votos às suas candidaturas para deputado federal, o PDT caminha para viabilizar a candidatura de Ciro Gomes.
De olho nas eleições, PSDB prefere “governo de transição”
No PSDB, o debate sobre aderir ou não ao virtual governo Temer e quais as consequências disso para a próxima disputa eleitoral se insinua para um desfecho. Nos próximos dias, as lideranças tucanas devem dar o “sim” oficial ao vice, estimuladas com a promessa de um “governo de transição”, cartada final de Michel Temer para atrair “todo o PSDB”.
O apoio dos tucanos no Congresso Nacional a um possível governo Temer já é dado como certo desde o aval da Câmara dos Deputados ao pedido de impeachment contra a presidente Dilma, no último dia 17. Mas ainda havia dúvida sobre o grau de participação da legenda na Esplanada dos Ministérios, colocando em lados diferentes os três presidenciáveis do PSDB – os senadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) e o governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
Enquanto Alckmin defendia apenas o apoio no âmbito do Legislativo, Aécio acreditava que os quadros do PSDB até poderiam ficar à disposição do governo Temer, mas desde que fossem nomeações de caráter pessoal, ou seja, sem participação institucional da sigla. Na outra ponta, Serra queria que o PSDB entrasse de cabeça no governo Temer, não só dando respaldo no Congresso Nacional, como também indicando nomes para pastas.
No debate interno, o temor dos tucanos era pagar a conta de um eventual fracasso do governo Temer ou seguir para um papel secundário se o PMDB se saísse bem na empreitada. O “governo de transição” prometido agora por Michel Temer parece agradar. O vice prometeu apoiar uma PEC para acabar com a reeleição, o que o deixa fora da disputa de 2018, ao menos como cabeça de chapa. Sem possibilidade de sair candidato, Temer também teria mais liberdade para adotar medidas impopulares e aprovar reformas pendentes, como a previdenciária, facilitando a vida do próximo mandatário, em 2019.
A promessa de Temer já surtiu efeito entre Aécio e Alckmin, que agora admitem que o PSDB pode ter participação efetiva na administração. Serra é nome praticamente certo para um “turbinado” Ministério das Relações Exteriores.
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