A possibilidade de candidatura de Michel Temer a presidente da República nas eleições de 2018, ventilada nos últimos dias por aliados do peemedebista, repercutiu mal entre os tucanos.
Em meados de maio, quando o peemedebista assumiu interinamente o Executivo a partir do afastamento de Dilma Rousseff, os tucanos concordaram em dar sustentação ao governo Temer só depois de intensa negociação. A costura acabou selada especialmente por causa do compromisso de Temer em não disputar a reeleição, se confirmado na cadeira a partir da conclusão do processo de impeachment da petista.
Naquela época, Temer precisou conversar com a ala do PMDB que, na esteira do desembarque do governo Dilma, já se entusiasmava com uma candidatura própria em 2018. Apesar das negociações internas, há quem avalie que correligionários de Temer nunca se sentiram proibidos de alçá-lo candidato. Além disso, ninguém apareceu ainda para tirar da gaveta do Congresso Nacional a proposta de emenda constitucional (PEC) que acaba com a reeleição, o que asseguraria o compromisso de Temer.
Na opinião do cientista político David Fleisher, da Universidade de Brasília (UnB), a chance de o peemedebista sair candidato é “zero”. “Isso tudo é balão de ensaio, para ver se levantam o ibope do Temer”, afirmou ele. O especialista da UnB reconhece, contudo, que o fato de o assunto ter voltado à tona não agradou tucanos. “O PSDB ficou sentido”, comentou ele.
Reservadamente, tucanos admitem que não estão dispostos a enfrentar hoje o desgaste do ajuste fiscal proposto por Temer sem a contrapartida em 2018.
O PSDB tem hoje ao menos três presidenciáveis de olho no próximo pleito – Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra – e cogita uma aliança com o PMDB. Nos planos dos tucanos, Michel Temer cumpriria o mandato atual apenas para “arrumar a casa” para o próximo presidente da República. Sem necessidade de “agradar” o eleitorado, o peemedebista estaria livre para propor medidas impopulares e até capitanear reformas pesadas, como a previdenciária, trabalhista e política.
David Fleisher lembra, contudo, que o cenário de 2018 ainda não está definido e que mesmo os tucanos estão em uma situação “complicada”. “O Aécio já foi abatido pela Lava Jato, o Alckmin está concentrado nas questões de São Paulo, o Serra pode migrar de partido. Henrique Meirelles [ministro da Fazenda pelo PSD], se salvar a economia, também pode sair como candidato da situação”, lembra o cientista político.
Temer nega
Até aqui, Temer tem mantido publicamente o compromisso com os tucanos. No domingo último (31), para tentar amenizar as declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), favoráveis à possibilidade de reeleição do peemedebista, Michel Temer divulgou uma nota oficial, na qual reiterou que não cogita entrar na disputa de 2018.
“Apenas me cabe cumprir o dever constitucional de completar o mandato presidencial, se o Senado Federal assim o decidir. Todos meus esforços, e de meu governo, estão voltados exclusivamente para garantir que o Brasil retome a rota do crescimento e seja pacificado”, escreveu. Temer também teria telefonado para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), para rebater a ideia ventilada pelos aliados.
A preocupação do peemedebista é com os efeitos imediatos. O PSDB é a principal legenda da base aliada do governo Temer no Congresso Nacional. Qualquer desconfiança sobre o acordo feito no passado pode levar dificuldades para o Planalto no Legislativo, onde já há propostas polêmicas na fila de votação. Além disso, Temer ainda não está garantido no cargo e um desgaste com o PSDB agora pode contaminar a votação do processo de impeachment de Dilma Rousseff, que deve ser concluído até o final deste mês.
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