Os pedidos de prisão feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, podem ter impacto direto no comando do Senado, que atualmente analisa o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Caso o Supremo Tribunal Federal (STF) aceite o pedido de prisão e afastamento de Renan Calheiros, a presidência da Casa passará a ser ocupada pelo senador Jorge Viana (PT-AC), primeiro na linha sucessória e contrário à saída de Dilma do Palácio do Planalto. O petista já fez críticas à Lava Jato registradas em gravação divulgada em março pelo juiz Sergio Moro, da mesma forma que a cúpula do PMDB flagrada tramando contra a operação da Polícia Federal em conversas telefônicas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Na conversa com o advogado Roberto Teixeira, que representa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Viana sugeriu que Lula transformasse sua defesa na Lava Jato numa “ação política”, classificando as investigações como um “confronto” com o juiz Sergio Moro. Na ocasião, conversas entre o ex-presidente e interlocutores, entre eles Dilma, foram divulgadas pelo juiz e Lula havia sido levado para depor coercitivamente pela PF. Com o advogado, Viana falou em “forçar a mão” em Moro para ver “se ele tem coragem de prender por desacato” o petista.
“Se o presidente Lula fizer isso ele vai virar, e vai deixar de ser uma ação jurídica para se tornar uma ação política. O presidente Lula precisa transformar esse confronto numa ação política. Eles estão se rebelando, só dizendo que não aceitam mais o Moro, que agora se ele mandar um ofício ele não vai, e dizer que ele está agindo fora da lei, chamar de bandido”, disse o senador ao advogado.
Para o senador, a Justiça, Ministério Público e Polícia Federal não teriam coragem de prender Lula por desacato, pois haveria comoção no país. “E forçar a mão nele (o juiz Sergio Moro) pra ver se ele tem coragem de prender por desacato a autoridade, porque aí, aí eles vão ter uma comoção no país, porque ele vai estar defendendo a família dele, a honra dele. É dizer: ‘Olha, eu estou defendendo a minha honra, você está agindo fora da lei, e quem age fora da lei é bandido. Me sequestraram’. Eu não sei, tinham que pensar em algo parecido com isso e dar uma coletiva. Provocar e dizer que não vai aceitar mais”, afirmou o senador, dizendo que essa seria, talvez, “a única oportunidade que o presidente tem de por fim à essa perseguição”, afirmou Viana.
Ato arbitrário
Na época, Jorge Viana divulgou nota em resposta e afirmou que tomou a atitude inspirado na manifestação do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, que declarou que a condução coercitiva do presidente Lula era um ato arbitrário e que desrespeitava os princípios estabelecidos na Constituição.
“A conversa do senador com o advogado foi tão somente no sentido de passar sua opinião sobre o ato arbitrário que chocou o país praticado contra o ex-presidente, e também de passar a opinião de que o ex-presidente Lula e a sua família estavam sendo vítimas de uma verdadeira perseguição”, disse.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”