A reação mais suave da presidente Dilma Rousseff em relação às denúncias de corrupção no Ministério da Agricultura se devem principalmente à postura do ministro Wagner Rossi, segundo a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Segundo ela, Rossi, indicado pelo PMDB, maior partido da base aliada de Dilma, tem agido antes mesmo de as denúncias virem a público, como no afastamento do ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
"Ele afastou o Jucazinho (como é conhecido Oscar Jucá), comunicou à Casa Civil e se antecipou ao problema", argumenta Ideli, que rejeita a existência de tratamento diferenciado pela importância do PMDB para a governabilidade.
Jucazinho foi afastado por Rossi depois de denúncias de irregularidades à frente da Conab.
Dilma agiu de forma bem diferente quando surgiram as primeiras denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes, determinando o afastamento da cúpula da pasta horas depois da publicação de uma denúncia da revista Veja.
A reação naquele caso causou desconforto na base aliada no Congresso e a relação com o Partido da República (PR), que comandava a pasta, ficou comprometida desde a renúncia do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que na semana passada disse na tribuna do Senado que não recebeu o apoio prometido por Dilma.
"Não há diferença de tratamento entre o PR e o PMDB, apenas houve reações diferentes dos ministros. O ministro Rossi tem demonstrado mais disposição para prestar explicações", explicou Ideli à Reuters.
Dilma também deu o recado garantindo a permanência de Rossi na Agricultura nesta segunda. "Não é ele que está em questão, ele tomou as medidas. Temos confiança no ministro Wagner Rossi", disse a presidente a jornalistas.
Rossi já foi ao Congresso prestar esclarecimentos, concedeu uma entrevista coletiva para rebater as acusações e abriu processos administrativos contra os funcionários que foram denunciados por corrupção.
"Eu vou, seja qual for o resultado, atinja a quem atingir, tomar todas as medidas", disse Rossi na entrevista. No sábado, o secretário-executivo do ministério, homem de confiança do ministro, Milton Ortolan, pediu demissão depois de novas denúncias da revista Veja.
Segundo a publicação, Ortolan teria "liberado" a ação do suposto lobista Júlio Fróes no ministério. Ele teria, inclusive, acesso a uma entrada privativa e a uma sala com computador, telefone e secretária no edifício do ministério.
Rossi deve prestar explicações nesta semana no Senado e tentar evitar que a oposição atinja a imagem do governo. Desde sábado, Ideli e o vice-presidente Michel Temer têm trabalhado para garantir que os aliados não abandonem o ministro.
Ideli telefonou para os líderes peemedebistas para traçar uma estratégia de defesa e Temer conversou com Rossi para definir quais ações deviam ser tomadas pelo peemedebista.
Na quarta-feira, Dilma reunirá o conselho político da coalizão governista, que reúne presidentes e líderes congressistas dos partidos aliados. Na pauta oficial está a agenda legislativa para o semestre e a crise econômica global, mas o relacionamento com os aliados também deve ser abordado.
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