A dois dias da eleição para a presidência da Câmara, PP, PTB e PL costuram um acordo que resulte num candidato único, formando uma terceira via na disputa. Juntos, esses partidos somam 144 votos. Os candidatos da oposição, José Thomaz Nonô (PFL-AL), e do governo, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), tentam quebrar essa unidade conversando com os líderes. Também fazem corpo-a-corpo, falando individualmente com cada um dos parlamentares.
Nessa disputa, o presidente do PMDB, o deputado Michel Temer (SP) tentou ontem garantir o apoio dos três partidos em torno de sua candidatura. Temer - cujo apoio é desejado por Aldo e por Nonô - chegou a anunciar que participaria das conversas sobre a terceira via. No entanto, no fim do dia, isso já era praticamente descartado.
- A possibilidade de apoiar Temer é quase impossível. Ele colocou as coisas de uma forma que nos deixou perplexos: "Vamos juntos, desde que seja eu" - contou o candidato do PTB, Luiz Antônio Fleury Filho (SP).
O deputado Ciro Nogueira (PP-PI) confirmou as dificuldades para um entendimento com o PMDB. Segundo ele, o acordo está mesmo fechado entre PP, PL e PTB.
- Na terça-feira, vamos colocar as cartas na mesa e quem estiver melhor ganha o apoio dos outros dois - disse Ciro.
Aldo fez campanha por telefone e se mostrava confiante em ir para o segundo turno.
- Respeitamos os concorrentes, mas confiamos na vitória - disse Aldo.
- Em qualquer cálculo Aldo está no segundo - disse o líder do PT, Henrique Fontana (RS).
O ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, negou qualquer possibilidade de o governo retirar o apoio a Aldo. Na noite de sábado, Aldo e Wagner conversaram longamente e ontem também se falaram. As conversas com os deputados da base, no entanto, podem não prosperar. O candidato do PL, deputado João Caldas (AL), disse que Aldo pediu a união dos candidatos do governo.
- O problema, e eu disse isso a Aldo, é como o governo faz as coisas. Procura a gente para comunicar o fato e não para pedir ajuda na formulação do conceito - disse Caldas.
Entre alguns aliados do governo, a união de PP, PL e PTB em torno de um candidato único é considerada improvável. O líder do PP, José Janene (PR), por exemplo, descarta essa possibilidade. Ele afirmou que o PP busca uma candidatura de consenso que poderá ser a de Aldo ou qualquer outro governista, quem tiver mais chance.
- O caso de Roberto Jefferson foi um acontecimento, já passou. Na Câmara não jogamos com o passado; nos damos bem com PTB e com PL, somos partidos irmãos. Deveríamos afunilar, mas, se não for possível, isso acontecerá no segundo turno - afirmou Janene.
Nonô pede apoio da esquerda e oferece cargo
Nonô, o candidato da oposição, também não largou o telefone. Para tentar garantir o apoio de partidos de esquerda como PV, PPS e PDT, avisou ontem que, caso vença, vai negociar a ocupação da primeira vice-presidência. Disse ter conversado com Temer e antecipou que poderão negociar um acordo no segundo turno.
- Os partidos políticos que me apoiarem em primeiro turno conduzirão as tratativas para a vacância da vice. Neste primeiro turno a negociação está descartada - avisou.
A eleição pode ser marcada pela pulverização de candidaturas. Mesmo com o crescimento da candidatura Ciro Nogueira, o ex-ministro Francisco Dornelles (RJ), lançado como alternativa de consenso semana passada pelo PP, está disposto a levar até o fim sua campanha.
- Os companheiros do PP querem que eu leve minha candidatura até o final e vou fazer isso - afirmou Dornelles.
Mesmo Fleury, que confirmou o acordo com o PP e o PL, avisou que a bancada do PTB quer a manutenção de sua candidatura. Na tarde de ontem, Temer contava com a possibilidade de apoio dos três partidos para se viabilizar como terceira via da Câmara e avisava que sua disposição era levar a campanha até o fim.
- Se for possível aglutinar, tudo bem. Numericamente são 230 votos. Mas senão, cada um vai por si. O PMDB chega na eleição com quase 92 deputados e terei entre 80 e 70 votos destes. Os últimos gestos (apoio de Renan Calheiros à candidatura Aldo Rebelo) criaram uma corrente de solidariedade, uma espécie de patriotismo interno, e a cota de traição foi reduzida - disse Temer.
Irônico, Temer disse ontem que Renan não ligou para ele para conversarem, "porque deve estar muito atarefado com a campanha de Aldo". Os candidatos têm até as 18h de amanhã para registrar oficialmente as candidaturas.
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