O PPS prepara para julho, sem data definida, uma Conferência Nacional para abrir o debate no Brasil sobre o papel da esquerda do século 21. A iniciativa ocorre frente à constatação do partido de que as grandes legendas de esquerda que chegaram ao poder do país não se revelaram no seu compromisso político – em uma referência direta ao PT. "Estamos vivendo com um governo que se intitulava de esquerda, assumindo o poder no Brasil, que vem no que há de mais atrasado do ponto de vista da política. Essa prática do atual governo nos dá um dilema do ponto de vista da esquerda: é isso que queremos?", questiona Rubens Bueno, secretário-geral e presidente do PPS no Paraná.

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O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, afirma que antigamente qualquer pessoa que propusesse uma revisão sobre o papel da esquerda era considerado neoliberal no Brasil. "Como em muitos países foi feito lá trás (a discussão sobre o que é ser de esquerda), nós vamos ter de fazer agora", diz.

O debate pode servir para o próprio PPS – Partido Popular Socialista – discutir sua identidade. O PPS se organizou em 1992 a partir do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB). "O PPS, nas suas origens, vem do antigo partido comunista. Com o fim da antiga União Soviética, esse grupo passa por uma grande transformação", afirma o professor em Ciência Política da UFPR Ricardo Costa de Oliveira. "Nas últimas eleições o PPS apoiou candidaturas mais à direita do de que esquerda", lembra o professor.

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Oliveira exemplifica o apoio do partido à candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) e a coligação do PPS com o PFL no Paraná. O presidente nacional do PPS contesta a afirmação. "O PPS é um partido de esquerda que tem história. E eu diria até a esquerda democrática moderna do país", ressalta Freire.

Participação

A conferência, que pretende contar com a participação de lideranças políticas, da Europa e América Latina, e sociais, filiadas ou não ao partido, parece que terá na pauta temas polêmicos. "Devemos continuar pensando como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que invade propriedade com o objetivo de excluir pesquisas que estão sendo realizadas para o mundo da produção?", questiona Bueno.

O cientista político admite a importância do debate proposto pelo PPS. "É importante o debate político, que tem de acontecer. Mas também há uma diferença entre o mundo real, das práticas politicas reais, e o mundo do discurso político, um mundo imaginário. Não se pode julgar um partido político pelo discurso, você tem que julgar pelas suas práticas políticas reais", afirma Oliveira, ao analisar as últimas alianças políticas.

Ainda segundo ele, os partidos considerados de esquerda no atual sistema partidário são o PCO, PSTU e PSol. O cientista afirma que o PT caminha para o centro-esquerda e exclui do cenário político da esquerda partidos como o PPS e PCdoB, citando um exemplo. "O presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB), ficou mais conhecido por ter tentado dobrar os salários dos parlamentares do que lutar por uma agenda política à esquerda", diz.

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O presidente da Paraná Esporte, Ricardo Gomyde (PCdoB), defende que Rebelo não era presidente do país para propor um governo de esquerda. Já no Paraná, Gomyde afirma estar em posição confortável ao lado do governador Roberto Requião (PMDB). "Como governador, ele sempre se contrapôs a esse movimento neoliberal. Tem uma gestão centrada na esquerda."

A discussão sobre a esquerda no Paraná veio à tona após o discurso de posse do governador Roberto Requião, no início do ano. Para Roberto Freire, o governador paranaense tem algumas características de esquerda. "É evidente que talvez seja dentro do PMDB um representante de um setor mais democrático e de esquerda. Mas uma esquerda que não me agrada. Seu principal referencial político é Hugo Chavez da Venezuela e seu governo, com conceitos meio atrasados", opina.

Para o professor da UFPR, o governo "é muito maior" do que o governador. "Requião pode ser classificado como o governador mais à esquerda das 27 unidades da federação em várias das suas medidas. Mas sua equipe, os seus secretários, e boa parte da bancada dos parlamentares do PMDB estão mais ligados ao centro e à direita", diz Oliveira. Ele cita nomes tradicionais ligados à direita, como Reinold Stephanes, Rodrigo Rocha Loures e Nélson Justus, que estão ligados a Requião.