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Ciro: ele vai suar muito para mostrar que está mais manso. | Wilson Dias/ABr
Ciro: ele vai suar muito para mostrar que está mais manso.| Foto: Wilson Dias/ABr

Brasília - No momento em que o presidente Lula decide firmar a ministra Dilma Rousseff (PT) como sua opção para a sucessão de 2010, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) dá novos tons a um discurso de independência em relação ao governo e ao PT. Aos 51 anos, em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para presidente, ele diz que pode ser candidato a tudo e a nada, mas afirma que ficará contra o PT se entender que o interesse do partido de Lula não é o de servir ao país.

Como o senhor avalia o cenário da sucessão presidencial até 2010?

Tudo o que se vê hoje é uma remotíssima pista daquilo que provavelmente acontecerá. Num primeiro estágio, o cenário será hostil para nós que fazemos política sob a liderança do presidente Lula.

Por causa da economia?

Por causa, fundamentalmente, da economia. Vai influenciar a eleição porque a crise financeira internacional ainda não revelou nem superficialmente os seus efeitos sobre a vida do povo brasileiro. E os efeitos virão. Isso vai afetar o nível de avaliação do governo. Talvez, não da avaliação pessoal do Lula, que já revelou ter atributos intrínsecos que o identificam, com justiça, como um cara que faz o melhor que pode pelo povo brasileiro. Mas não será ele o candidato. A taxa de desemprego vai voltar a subir pela primeira vez; a massa salarial vai encolher. Certamente, isso terá um impacto hostil ao atual momento mágico de nossa relação com o povo.

Qual a chance de um candidato apoiado por Lula?

O candidato de Lula/PT tem 25% das intenções de voto para começar a conversa. E há um outro grupamento que pode disputar outros 20%. Tem a Heloísa Helena (PSol). Todo o petismo arrependido, todo o moralismo exacerbado e excitado por essa seqüência de escândalos, toda a mistificação de uma promessa, que o PT fez a vida inteira, de um governo de anjos e que iria trazer o paraíso para a terra, ao se frustrar, não vai para a reação. Vai para tentar renovar um espaço de intransigência política que, neste momento, Heloísa Helena representa. Isso tem 14%, 12%, 11%.

O presidente diz que nenhum partido tem candidata melhor do que Dilma. Concorda?

O presidente tem o direito de emprestar o capital político dele a quem ele entender. Agora, podemos não concordar com essa percepção.

Nesse caso, o senhor poderia sair candidato?

Eu e mamãe achamos. Agora, precisa saber se mais gente acha.

Setores do PT e do Planalto indicam a possibilidade de uma chapa Dilma-Ciro. O que acha?

Não quero ser candidato a nada. E aceito ser candidato a qualquer coisa, dependendo de um conjunto de fatores. Não estou mais na hora de ser ingênuo e de colocar qualquer legítima ambição na frente do que é mais importante. Abriu-se (no PSB) uma reflexão se estamos prontos, se estamos maduros. Essa dinâmica vai dizer se sou candidato ou não. O governo do presidente Lula vai precisar de uma proteção nossa contra o deslocamento da hegemonia moral e intelectual que se assiste com a voracidade de certos setores fisiológicos de se afirmarem como os grandes vitoriosos das eleições.

O senhor fala do PMDB?

O PMDB.

Qual a influência do PMDB na sucessão presidencial?

O PMDB está mais unido do que jamais esteve. Mas está sob uma hegemonia que recentemente apoiou a candidatura do (prefeito) Gilberto Kassab, por interferência do (governador) José Serra, em São Paulo. Que estranho argumento explica que o (deputado) Michel Temer tenha o apoio do PT e do PSDB? É a crença de um lado e de outro que este movimento será favorável a eles em 2010. Os candidatos desse arco de forças que hoje estão aliados ao Lula podem não contar com o PMDB.

E a candidatura da ministra Dilma Rousseff?

A Dilma tem afinidade com toda nossa percepção. Tem sido uma gestora, e tem melhor informação do que qualquer candidato, porque opera diariamente o governo. Para ela, falta apenas a vivência nacional. O Lula, para chegar à Presidência da República, foi candidato três vezes. Correu o Brasil.

O senhor também já achou que não estava preparado para governar?

Sem falsa modéstia, eu era o mais preparado. A reflexão é em relação à questão psicológica, da idade, e da organicidade política. Evidentemente que posso diminuir o volume da voz e a ranhetice do argumento. Afinal, o que pega é catapora. Fico só imaginando se eu fosse eleito contra o PSDB e contra o PT. Imagine eu eleito, querendo fazer mudanças importantes, tendo o PT fazendo oposição oportunista, esquerdóide, e o PSDB fazendo golpe, como tentou fazer para cima do Lula?

Será difícil fazer aliança com o PT em 2010?

Não há nenhuma chance de o PT não ter candidato próprio a presidente. É uma imposição legítima. Mas a discussão não é o interesse legítimo do PT, mas o interesse do Brasil. Eventualmente, podemos entender que o legítimo interesse do PT não serve ao do país. E sairemos contra o PT, se necessário for.

Por que o PSB, em vez de se alinhar ao candidato do Planalto (Michel Temer), decidiu apoiar Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para presidente da Câmara?

Porque, na nossa percepção, a melhor forma de ajudar o Brasil e o presidente Lula discorda frontalmente deste conjunto de práticas que deriva dessa aliança PT–PMDB. Em nenhum momento o PSB falhou, como sabe muito bem o presidente, em ajudá-lo incondicionalmente e por razões nobres, publicáveis. Por exemplo, nós não apoiamos a CPMF querendo impor a nomeação de fulano, sicrano ou beltrano.

Acha que é possível governar o país sem o PMDB?

Acho. Mas não é o que estou propondo. Um dos traumas que tive no enfrentamento do governo Fernando Henrique, ainda quando eu pertencia ao PSDB, era esse conjunto de coisas. Olha no que deu... Governar o país é importante, e o PMDB é um partido legítimo. O importante é saber se o interesse é a governabilidade do país. As reuniões podem ser feitas com a imprensa dentro, com o gravador ligado? Se for assim, está tudo bem. Minhas conversas podem ser gravadas. Acho que o assédio e a pressão estão aí. E foram exponencializadas com os resultados das eleições.

E a sua experiência na Câmara?

Aqui na Câmara o que há é uma seleção às avessas. Quanto mais mérito alguém tem, mais irrelevante é. Um exemplo: a Comissão de Constituição e Justiça tem entre seus quadros o ex-governador Roberto Magalhães (DEM-PE), Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), Flávio Dino (PCdoB-MA). Todos brilhantes. E a CCJ, por esse acordo PT–PMDB e por essa hegemonia moral e estranha, elegeu o jovem Leonardo Picciani (PMDB-RJ) e, em seguida, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Isso está errado. É grave que os melhores, os mais qualificados e os mais sérios sejam preteridos por aqueles que não têm os mesmos dotes num coletivo onde se ajuíza o futuro da nação.

Por que não se muda essa situação?

Porque não se tem hegemonia moral e intelectual. O que preside a hegemonia hoje é a fisiologia, é a repartição de privilégios, é uma pequena panelinha que escolhe entre si. Para mudar isso, precisa de uma insurgência parlamentar.

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