Apontado pelo senador Roberto Requião no início de abril como o pré-candidato do PMDB à prefeitura de Curitiba para a eleição de 2012, o ex-prefeito Rafael Greca afirma que a cidade perdeu a capacidade de inovação que lhe deu fama mundial e que as últimas administrações municipais serviram de trampolim político para o governador Beto Richa (PSDB). "A melhor forma de conservar Curitiba, no atual momento, é mudar o seu governo. Precisamos dar um futuro para o nosso passado", disse.
Greca encontrou a reportagem da Gazeta do Povo em um café no centro da cidade, na área do antigo Pelourinho, revitalizada durante a sua gestão na prefeitura de Curitiba, de 1992 a 1996. Durante a hora que durou a entrevista, pelo menos dez transeuntes pararam para cumprimentá-lo, abraçá-lo e pedir emprego. O ex-prefeito (que também já foi ministro, vereador, deputado estadual e federal) demonstra desenvoltura ao andar pela cidade. Chama os floristas e motoristas de táxi da praça pelo nome e relembra sem parar as realizações de sua gestão à frente da prefeitura. Ao lado da estátua de uma mulher com uma lata d'água na cabeça, que fica atrás do Paço Municipal, na Praça Generoso Marques, Greca conta a história da inauguração:
"Esta linda mulher negra foi amante do artista Erbo Stenzel. Quando fui prefeito coloquei a estátua aqui na região do antigo pelourinho onde os escravos eram vendidos e açoitados para homenagear a comunidade negra da cidade. Porém os líderes negros não gostaram da imagem, que mostra a mulher sofrendo e trabalhando. Ponderei com eles: 'Mas é a única estátua de uma pessoa negra que temos, uma obra linda'. Mesmo assim eles não se convenceram. Então, eu disse: 'Tá bom então, esta senhora não é mais negra. Ela é russa, é uma homenagem às mulheres russas de Curitiba'", diverte-se.
Correndo por fora em uma disputa que tem Gustavo Fruet (PSDB) e o atual prefeito Luciano Ducci (PSB) como principais figuras até o momento, Greca espera ver seu nome confirmado pela convenção do PMDB. Até lá vai precisar superar a resistência e a desconfiança de alas de seu fragmentado partido. De maneira informal, ele já está nas ruas. "Não posso repetir a prefeitura que fiz. Preciso fazer uma prefeitura muito melhor", diz.
Depois da derrota na reeleição a deputado estadual, o senhor ainda acha que tem chances em uma campanha à prefeitura de Curitiba?
Não me venha falar que eu perdi a eleição para deputado. O Beto Richa fez 200 mil votos a menos que a Gleisi [Hoffmann, senadora pelo PT] na última eleição. No entanto, ela tinha perdido a eleição para o Richa quatro anos antes. O Lula perdeu três eleições. E o glorioso Coritiba, que estava na segunda divisão, agora está invicto. Estava tranquilo em casa e o senador Roberto Requião foi me buscar para ser o candidato do PMDB à prefeitura de Curitiba. Ser oposição é uma tarefa difícil, mas eu topei a parada e vou encarar. Passei por quase todos os cargos na administração pública, mas o que eu gostei mesmo foi de ser prefeito. O trabalho do prefeito é sagrado: cuidar do lugar onde eu nasci e serei enterrado, da terra onde dormem meus avós e meus pais. A relação do prefeito com o seu povo é democrática e direta. É a atividade mais gratificante da política. A única esfera do poder onde você vê as ideias saírem do papel e modificarem a realidade é a esfera municipal.
O senhor não acha que está sendo usado pelo senador Roberto Requião para que ele possa manter o controle sobre o partido na capital?
Não estou sendo usado. Tenho me reunido com todos os grupos do partido. Com o grupo municipal pró-senador Requião e também, na última segunda-feira, fui em uma reunião dos chamados "amigos do Pessuti". Só tem sentido uma possível candidatura minha se for para unir o partido. Não queremos que o partido sirva a interesses alheios à história da cidade e à história do próprio partido. Éramos dois pré-candidatos quando se discutia a aliança com o Angelo Vanhoni (PT) em 2001. O Gustavo Fruet saiu do partido. Eu fiquei. Não estou exigindo nada. Estou exercendo meu direito de cidadão e de membro do diretório.
Sabe-se que muitos deputados queriam o retorno de Gustavo Fruet ao PMDB. Há uma resistência no partido à sua eventual candidatura?
Não vejo resistência real. Acredito que vamos levar este projeto adiante, se a população bancar nossa candidatura.
O que não foi o caso da última eleição do PMDB...
O reitor [Carlos Moreira, candidato a prefeito pelo partido em 2008, imposto pelo então governador Requião, e que fez apenas 20 mil votos] não conseguiu "sair" da Universidade. Ele é um excelente médico, um acadêmico. Mas ele não soube traduzir o sentimento de curitibanidade. Comigo na disputa, modestamente, isso não vai acontecer. Sei que vou enfrentar grupos poderosos, que terão em mim um opositor, como o cartel do transporte coletivo, a Consilux e outros interesses alheios à história da cidade.
Se o seu nome for confirmado pelo partido, o senhor enfrentará dois candidatos fortes: o prefeito Ducci e Gustavo Fruet.
Se a gente pensar nos outros, não sai nem de casa. Eles são outros dois, três ou dez. Os curitibanos são outros dois milhões. Quando o povo quer, ninguém segura.
Como o senhor avalia as administrações de Curitiba que o sucederam?
O Cassio [Taniguchi, prefeito de 1997 a 2004] me decepcionou muito. Pedi para o povo votar nele, mas sua gestão optou pela terceirização dos serviços e perdeu a sensibilidade social. Mas não acho que se deva fazer julgamento do passado e sim discutir o que queremos para o futuro. Precisamos dar um futuro para o nosso passado. Vejo com preocupação casos recentes de escândalo como as imagens corrompidas dos radares da Consilux. Não é bom para a cidade uma Câmara de Vereadores em que o prefeito tem unanimidade maciça. É péssimo para a cidade a perda da capacidade de inovar. E também não acho que este metrô de R$ 2,3 bilhões seja a solução. Não é um transporte metropolitano, vai apenas do Pinheirinho ao Centro assim como a Linha Verde também não é um projeto metropolitano ainda. Uma eventual candidatura minha seria para tentar atingir as ambições da cidade e não para usar a prefeitura como trampolim político.
O senhor acha que a cidade parou?
Há uma carência de inovações. A melhor maneira de conservar a cidade é trocando o seu comando. Há pontos positivos, claro. Vejo com alegria as ruas da cidadania bem aproveitadas, o Bairro Novo se desenvolvendo. Porém, o transporte coletivo se esgotou. Precisa de readaptações e novas tecnologias. Eu tenho uma proposta para desafogar o tráfego em Curitiba e incentivar o cidadão a deixar o carro em casa.
Como é este projeto?
Não posso falar ainda para não dar ideias e munição para meus adversários. Ao tempo e hora, nós apresentamos. Envolve energia alternativa e está sendo desenvolvido pelos melhores "nerds" curitibanos (risos). Mas o tempo ainda é de ouvir a população e descobrir quais são os seus anseios.
Qual foi o melhor administrador da sua geração: Jaime Lerner ou Roberto Requião?
Cada um deu a sua contribuição. Há também o Rafael Greca de Macedo e outros. Cada um a seu tempo foi grande e foi bom. Eu espero ter sido também e que o povo reconheça isso. Eu sempre tentei exercer a minha atividade política com sensibilidade e paixão. Em um eventual novo mandato como prefeito qual é a obra que o senhor mais quer fazer pela cidade?
Quero recuperar para os cidadãos alegrias curitibanas perdidas, como uma noite de festa na pedreira Paulo Leminski. Dizem que ela está fechada porque os moradores vizinhos reclamam do barulho. Se fosse só isso uma boa conversa resolveria. A pedreira está fechada por conta do lobby dos produtores de espetáculos que só querem fazer eventos a peso de ouro nos teatros da cidade. Outra alegria que quero recuperar é ver um pôr-do-sol de outono no belvedere do Parque Tanguá. Estes dias vi na RPC TV uma reportagem mostrando o abandono do parque. Fiquei sabendo que o rio saiu da calha no Bacacheri. Vendo todo este descuido com as coisas da cidade lembro-me de uma expressão que meu antigo secretário Hitoshi Nakamura usava: "Por isso que, então, né..." eu quero ser candidato e enfrentar este desafio e cuidar de Curitiba do jeito que ela merece.