O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (2) que precisa "desencarnar da Presidência" para deixar que a nova presidente Dilma Rousseff possa fazer seu governo a partir de 1º de janeiro de 2011. Em entrevista a rádios comunitárias no Palácio do Planalto, o presidente admitiu que "não vai parar de fazer política", mas avaliou que precisa "ficar um pouco de fora" dela para pensar o que fazer.
"O primeiro passo [quando deixar o Planalto] é desencarnar da Presidência. Tenho que me mancar, ou seja, eu já fui presidente. Agora é a vez dela [Dilma] ser presidente e eu vou ter que ficar um pouco de fora para depois começar a pensar o que vou fazer", disse Lula.
O presidente também fez questão de dizer que sairá do Planalto "orgulhoso" por ter ajudado a eleger a primeira mulher presidente do Brasil: "Vou sair do governo numa situação altamente privilegiada, com orgulho imenso de ter conseguido contribuir para eleger a primeira mulher presidenta desse país e preciso contribuir para que ela possa fazer um governo excepcional."
Lula disse ainda que pretende "viajar muito pelo Brasil" e criar um instituto para ajudar países pobres da África e da América Latina. "Vou criar um instituto, mas vou criar muito devagar para pensar o que vou fazer. Tenho vontade de levar as experiências bem sucedidas do Brasil para países africanos e latinoamericanos mais pobres do que o Brasil", afirmou.
WikiLeaks
Depois de classificar de "insignificante" o episódio do vazamento de telegramas confidenciais da diplomacia dos Estados Unidos, o presidente afirmou que a revelação das conversas mostra que os EUA "fazem as bobagens que todo mundo faz". Nos últimos dias, mais de 250 mil telegramas da diplomacia dos EUA foram vazados pelo site WikiLeaks.
"Vocês vejam o que está acontecendo agora, com os telegramas do governo americano. Estão desnudando uma sabedoria, que todo mundo pensava que os americanos eram melhores dos que os outros, e vocês percebem que eles fazem as bobagens que todo mundo faz", disse Lula, durante a entrevista. Monopólio
Ao falar da discussão do novo marco regulatório dos meios de comunicação, Lula afirmou que "há um monopólio no Brasil", mas disse que o setor avançou do ponto de vista da democratização dos veículos de comunicação.
"Acho que há um monopólio da comunicação no Brasil. Nós avançamos do ponto de vista da democratização. Hoje já não tem um monopólio de um jornal ou de um canal de televisão, já está mais pulverizado. Saímos de 489 meios de comunicação para 8.010 que recebem recursos do governo", afirmou.
O presidente defendeu a regulação citando outros países que adotaram medidas de controle dos meios de comunicação: "Agora, que fizemos essa conferencia internacional, que trouxemos aí americanos, ingleses, alemães, espanhóis e portugueses, ficou claro para todo mundo que no mundo inteiro tem regulação, algum tipo de regulação tem. Estou convencido de que nós vamos conquistar muita coisa na elaboração desse marco regulatório."
Preconceito na campanha
Ao falar de preconceito e da campanha presidencial deste ano, Lula revelou ter ficado assustado com que viu durante o período eleitoral. O presidente se referiu à oposição como "eles" e lembrou as críticas sofridas pela presidente eleita Dilma Rousseff.
"O que vi nessa campanha me assustou, porque sempre fui vítima de preconceito -- e isso as pessoas não percebem, o preconceito é uma doença que deixa marcas profundas --, e eu não tinha noção que eles seriam capazes de fazer uma campanha preconceituosa como a que fizeram contra a Dilma. Peço a Deus que eles estejam todos mais civilizados e que a Dilma possa governar esse país", afirmou Lula.
Futebol
O presidente, que é notório torcedor do Corinthians, não perdeu a oportunidade de mostrar que está otimista com um possível título brasileiro para o "Coringão" na última rodada do Campeonato Brasileiro, no próximo domingo (5).
"Como corintiano, não desisto nunca. Ou seja, sou um cristão, acredito em milagre, portanto, nada impede que o Guarani ganhe do Fluminense, o Coringão ganhe do Goiás e o Cruzeiro perca para o Palmeiras, que já deu férias para os seus jogadores", afirmou Lula.
Em segundo na tabela, com 67 pontos, o time do Parque São Jorge precisa derrotar o Goiás -- já rebaixado para a série B -- e torcer para que o Fluminense, que tem 68 pontos, não passe pelo Guarani, também rebaixado. Ciente do desafio, Lula brincou dizendo que irá torcer para que o time goiano seja campeão da Copa Sul Americana e, em troca, pediu "uma gentileza" do clube esmeraldino no domingo.
"Estarei torcendo para que o Goiás possa, na quarta-feira que vem, derrotar o Independiente da Argentina e ir para a Libertadores. Agora, domingo, ele [Goiás] precisa fazer uma bondade. Que não venha aquele pessoal marcar gols no Corinthians", brincou Lula.