”É esse o prédio do Lula?”, pergunta uma mulher ao marido ao passar diante do Condomínio Solaris, na praia das Astúrias, Guarujá (SP). “Fora PT”, grita um motorista de dentro de uma caminhonete.
As cenas flagradas pela reportagem na tarde desta quinta-feira (28) têm sido rotina principalmente desde que foi deflagrada a nova fase da Operação Lava Jato , a Operação Triplo X, que apura supostas irregularidades envolvendo o condomínio e a empreiteira OAS, nesta quarta-feira (27).
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O ex-presidente Lula e sua mulher, Marisa Letícia, compraram em 2005, por meio da cooperativa habitacional Bancoop, uma cota para ter um apartamento no edifício Solaris.
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Em 2006, a cota, no valor de R$ 47.695,38, apareceu na declaração de bens de Lula, que concorria à reeleição. Após a cooperativa entrar em crise, o empreendimento foi transferido para a construtora OAS, em 2009. Em novembro do ano passado, a assessoria do ex-presidente afirmou que ele e sua família haviam desistido de ficar com o imóvel. Eles resgataram a cota, segundo a defesa do petista.
Para a proprietária Célia Fernandes, 49, que diz ter comprado um apartamento no condomínio em 2014, já pronto, de um corretor de imóveis, por R$ 420 mil, a situação é “revoltante”. “Sei que meu apartamento está escriturado e totalmente regular. Agora fica uma situação estranha, até um constrangimento no elevador. É revoltante, tem meu suor aqui”, diz a moradora de Itararé (SP), que veio passar as férias no litoral.
Ao longo da tarde, a reportagem viu uma série de curiosos no local. Uma delas é a publicitária Lia Hirakawa, que possui um apartamento na rua de trás e fotografava o prédio para mostrar aos amigos. “Sempre houve boatos de que o Lula iria morar aqui. Vim olhar um apartamento uma vez e a corretora contou isso como vantagem”, diz.
Segundo funcionários do prédio, a vidraça foi alvo de pedras na última semana. “Tá famoso. Não param de comentar, tiram foto e tudo. Hoje pela manhã, o guia de uma excursão até parou para mostrar”, conta Ailton Fidelis, 20, auxiliar de zelador do prédio vizinho.
A arquiteta Juliana Alves, 40, de Campinas (SP), alugou um apartamento no condomínio Solaris por dois dias, a R$ 500 a diária. O imóvel tem três quartos, incluindo uma suíte, banheiro, sala e cozinha. “Não é nada luxuoso, um apartamento normal. Tomara que desvalorize agora”, brinca.
O irmão da leiloeira Vivian Perez, 52, comprou o apartamento na planta. Quando a entrega começou a demorar, vendeu para a irmã, em 2011. “Quando começaram a falar que o Lula moraria aqui achamos até bom, porque o prédio estaria sempre cheio de seguranças”, diz ela.
O marido de Vivian, o fotógrafo Ricardo Rutkauska, 51, diz que o prédio não é de alto padrão. “Pelo contrário, já tem infiltração e os elevadores sempre quebram.” Uma criança que chega ao edifício confirma: “Será que o elevador já voltou a funcionar? Não vou subir de escada de novo”.
Na praia, um turista argentino proprietário de um apartamento no mesmo prédio não quis se identificar por não conhecer detalhes das investigações. “Do Lula não sei nada. Não quer falar da Cristina [Kirchner, ex-presidente da Argentina]?”.
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