A Polícia Civil do Paraná divulgou nesta terça-feira (31) que suas investigações apontam que prefeito eleito de Piên, Loir Dreveck (PMDB), assassinado em dezembro do ano passado, foi vítima de um complô, armado pelo seu antecessor no cargo, Gilberto Dranka (PSD), e o presidente da Câmara de Vereadores do município da Região Metropolitana de Curitiba, Leonides Maahs (PR). Além dos dois, estão presos também Ovandir Pedrini, de 44 anos, e Amilton Padilha, de 29, ambos acusados de terem participado diretamente do crime.
Ex-prefeito de Piên tenta se esconder no forro de casa; assista
Dreveck foi alvo de tiros enquanto viajava para Santa Catarina com a família, no dia 14 de dezembro, e morreu três dias depois. Dranka foi preso nesta terça pelo Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), unidade de elite da Polícia Civil, em um mandado de prisão temporária, válidos por 30 dias. Maahs era alvo de um mandado de condução coercitiva (quando a pessoa é levada a depor, se necessário com uso de força), mas acabou sendo preso por posse de munição de uso restrito.
Segundo a Polícia Civil, os dois políticos articularam a morte do prefeito eleito após ele anunciar que iria cortar cargos comissionados, substituindo-os por funcionários de carreira da prefeitura de Piên. Ambos teriam se sentido traídos, pois investiram na eleição de Dreveck.
A polícia afirmou que Maahs chegou a doar R$ 40 mil para campanha do prefeito eleito no ano passado. O grupo político contava com indicações de cargos comissionados e de secretários para ser beneficiado em contratos do município.
A investigação
De acordo com o delegado titular do Cope, Rodrigo Brown de Oliveira, logo após o crime, a polícia localizou a moto e o capacete usados pelo assassino em um barranco na região. No acessório de proteção, peritos do Instituto de Identificação localizaram impressões digitais do atirador. Pertenciam a Hamilton Padilha, que atualmente estava detido em Itajaí (SC) pelo crime de roubo. Ele já tinha passagem pela polícia por outro homicídio e teria recebido um veículo modelo Gol e R$ 10 mil em espécie pela morte do prefeito eleito de Piên. A polícia contou que ele teria trabalhado com Ovandir Pedrini.
“O histórico da moto também mostrou um caminho para investigação”, disse Oliveira. O veículo tinha passado por oito pessoas. A polícia descobriu que o último comprador era Pedrini, que havia repassado o veículo a Padilha. Eles buscaram a motocicleta em São Bento do Sul (SC).
Pedrini foi detido em Piên durante a operação desta terça-feira por força do mandado de prisão temporária. Ele é dono de uma oficina e prestava serviço para a empresa de Dranka na região. Durante a manhã desta terça, ele confessou sua participação no crime e deu detalhes à polícia de cada passo do esquema que culminou na morte Dreveck.
Na confissão, Pedrini disse que seria beneficiado futuramente com contratos sem licitação, assim que o grupo de Dranka conseguisse reassumir a prefeitura de Piên. O vice-prefeito de Dreveck, que assumiu após o assassinato do prefeito eleito, está doente. A polícia acredita que os suspeitos contavam com uma licença de saúde dele para que Maahs, como presidente da Câmara, assumisse a prefeitura.
Após identificação da digital, os investigadores também solicitaram à Justiça a quebra do sigilo telefônico dos suspeitos. Além de mencionarem fatos do esquema por telefone, as escutas foram fator fundamental para colocar Dranka no contexto do crime. Ele ligou várias vezes momentos antes do assassinato para Pedrini.
Segundo a polícia, o papel de Dranka foi avisar o momento que Dreveck saia com a família para a viagem a Santa Catarina. A suspeita da polícia, de que o próprio presidente da Câmara ajudou na fuga do atirador, foi confirmada na confissão de Pedrini.
Outro lado
O advogado de defesa de Gilberto Dranka, Claudinei Szymczak, afirmou que o ex-prefeito ainda não sabia o motivo de sua prisão e que tentava entender o que estava acontecendo. O defensor explicou que nunca houve desentendimento entre prefeito eleito e Dranka.
De acordo com o advogado, os dois haviam construído uma campanha junto. Estavam sem problemas de relacionamento. “A relação era sempre essa, de aperto de mão. Nunca houve desentendimento narrado pelo Dranka. Estavam felizes pela eleição”, comentou. Segundo o advogado, durante a operação policial, seu cliente achou que ladrões estavam invadindo a residência. Por isso, teria tentado fugir.
“Ele teve a primeira reação de entrar no forro. Quando a polícia chega, muito intensa, gritando. Não entendia se era ladrão ou não”, afirmou. Até o momento, a reportagem não localizou as defesas dos outros suspeitos.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”