A lua de mel durou pouco. Governadores e prefeitos de capitais que são filiados a partidos rivais chegaram a esboçar uma relação cordial no início de 2013, quando os novos gestores municipais tomaram posse. O clima amistoso, porém, não resistiu. Em pelo menos três dos seis maiores colégios eleitorais do país, o governador e o prefeito já escancararam a animosidade entre eles. Um dos casos mais evidentes é o de Beto Richa (PSDB) e Gustavo Fruet (PDT). Como pano de fundo, estão as eleições de 2014. "Em âmbito federal, nenhum governador é capaz de fazer uma oposição ferrenha à presidente porque tem uma relação de quase dependência com a União", explica cientista político Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR. "Mas, nos estados, a arena de debate é mais acentuada, sobretudo porque os prefeitos têm maior autonomia orçamentária em relação ao governador."
Subsídio ao ônibus abriu conflito entre Fruet e Richa
Apesar de terem estado em lados opostos na eleição do ano passado, o prefeito Gustavo Fruet (PDT) e o governador Beto Richa (PSDB) mantiveram o discurso de colocar o bem dos curitibanos acima de qualquer divergência na transição e no início da nova gestão na prefeitura ainda que houvesse um certo constrangimento mútuo quando eles estavam juntos (foto 1). Mas a decisão de Richa de cortar o subsídio de R$ 64 milhões anuais ao transporte coletivo de Curitiba acabou com a cordialidade. Fruet evitou polemizar o tema, mas seus aliados classificaram a medida como eleitoreira pelo fato de o benefício ter sido concedido às vésperas da eleição ao então prefeito Luciano Ducci (PSB), aliado de Richa. "Estou perdendo cerca de R$ 1 bilhão de receitas em função dos últimos anúncios do governo federal. Nem por isso estou aí choramingando", rebateu o governador. De certa forma, o atrito antecipa a disputa pelo governo do estado em 2014, na qual Fruet é tido como grande trunfo para a candidatura da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT), contra Richa.
Em São Paulo, até estação vira motivo de atrito (foto 2)
O início de janeiro marcou diversas parcerias entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB, à esq.), e o prefeito paulistano, Fernando Haddad (PT, dir.). Os acordos envolveram áreas como segurança, educação, habitação, transportes e saneamento. No total, os investimentos anunciados chegavam a R$ 320 milhões. A primeira rusga, entretanto, surgiu na falta de sintonia na fiscalização de estabelecimentos após a tragédia de Santa Maria (RS). Logo em seguida, Alckmin passou a reclamar de algumas ações de Haddad por, supostamente, extrapolarem as atribuições do município. Um exemplo foi a decisão do petista de deslocar para rondas noturnas PMs que trabalham para a prefeitura nas horas vagas. Também houve atritos em relação às propostas de Haddad, discutidas à revelia do governo, para estadualizar a inspeção veicular, construir uma estação de metrô no Jardim Ângela e discutir o bilhete único mensal do transporte coletivo.
Metrô desencadeia briga em Salvador (foto 3)
O retorno do carlismo na Bahia reencarnado no novo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) foi considerado uma das maiores derrotas do PT na última eleição. Surpreendentemente, porém, as divergências eleitorais cessaram e ACM Neto (esq.) e o governador Jaques Wagner (PT, dir.) estavam mantendo uma relação harmônica e até de proximidade. Wagner chegou, inclusive, a ciceronear ACM na primeira reunião do novo prefeito com a presidente Dilma Rouseff. A primeira tensão no relacionamento surgiu em relação à obra do metrô da capital baiana. A ideia é passar a responsabilidade para o governo. Mas a prefeitura não abre mão de algumas estações já negociadas com a iniciativa privada. Soma-se a isso o fato de petistas baianos reclamarem constantemente da lua de mel entre Wagner e ACM.
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