A prefeitura de São Paulo pretende rebatizar 17 vias cujos nomes fazem menção a personalidades e fatos da ditadura militar. Os nomes de torturadores, como Sergio Fleury, ou de ditadores, como o ex-presidente Castelo Branco, devem dar lugar a vítimas do regime, ativistas pela democracia e defensores dos direitos humanos.
Desde dezembro de 2013, a prefeitura mapeia os nomes das ruas da capital e as cruza com o nome de torturadores e autoridades do período militar. Pouco mais de 30 ruas nessas condições foram encontradas. Como alguns casos eram ambíguos em relação ao histórico do homenageado, a prefeitura adotou como prioridade a alteração de quase duas dezenas de vias. O plano é escolher junto com os moradores do lugar um novo nome e então instalar uma placa que explique quem é o novo homenageado e justifique a mudança.
As ruas que devem sofrer mudanças em SP
Veja o que muda com o fim dos nomes ligados à ditadura na capital paulista
Leia a matéria completaNo fim do ano passado, a Comissão Nacional da Verdade endossou as intenções da prefeitura de São Paulo ao recomendar, em seu relatório final, que ruas cujos nomes tivessem relação com a ditadura fossem rebatizadas. A medida é polêmica e já angariou críticos. Os moradores da Rua Sergio Fleury, por exemplo, disseram à Prefeitura que não têm interesse na mudança.
“A mudança atende a uma demanda da sociedade, sobretudo daquelas pessoas que tiveram familiares torturados e mortos por esses agentes e que se sentem afrontadas de ver essas homenagens nas placas”, afirma Carla Borges, coordenadora de Políticas de Direito à Memória e à Verdade do governo municipal e uma das responsáveis pelo projeto, chamado de Ruas de Memória.
“ Foi um papelão isso. Mudar a vida de todo mundo, de 60 casas, por uma questão política? O nome da rua nunca trouxe desgraça para ninguém. E a Prefeitura já veio com um nome pronto, de um padre que foi morto e ninguém nem conhece, contaram uma história triste. Estamos precisando de muitas coisas aqui, como iluminação, que são muito mais necessárias do que essa história do nome”, afirma um morador da rua, sem saída, que preferiu não ter o nome divulgado.
De acordo com a Prefeitura, vítimas da ditadura tem sido levadas a conversar com o público que deve ser afetado. Há também projeções do filme “Batismo de Sangue” nas ruas. Segundo Carla Borges, muitos moradores não tinham a menor ideia de quem eram as personalidades que emprestavam os nomes para as vias.
“ Não estamos querendo apagar a história. Só achamos que esses nomes não fazem mais sentido para ruas em uma sociedade democrática. Há resistências mas também há quem queira mudar e homenagear um benfeitor local”, diz Carla, referindo-se à Rua Golbery Couto e Silva, na zona sul, que receberá o nome de Giuseppe Benito Pegoraro, um padre que criou um centro de promoção social na região.
Outras mudanças já previstas são a do Viaduto Trinta e Um de Março, que passará a se chamar Therezinha Zerbini, em homenagem à ativista que criou o Movimento Feminino pela Anistia e o Elevado Presidente Arthur Costa e Silva que vai passar a ser simplesmente “Minhocão”, apelido pelo qual é mais conhecido entre os paulistanos.
Cada novo batismo dependerá ainda da aprovação da Câmara dos Vereadores. E a prefeitura afirma que depois das ruas, escolas, hospitais e ginásios de esportes também deverão ser rebatizados.