Um professor de ensino fundamental e médio de São Paulo teve no mês de maio vencimento bruto de R$ 143 mil. Entre os 147 mil contratados na administração direta, mais de 2.418 pessoas receberam em maio vencimentos acima de R$ 12,3 mil - em termos de comparação, o valor é o salário pago ao prefeito Gilberto Kassab (DEM). Somente na Secretaria Municipal da Educação, 1.255 servidores receberam mais que o teto no mesmo período. Os dados foram divulgados na terça-feira (16) na internet pela Prefeitura no portal "De Olho nas Contas", como uma das medidas de transparência prometida por Kassab no dia de sua posse.

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Em vez de esclarecer sobre os valores da folha de pagamento no município ou de apontar possíveis supersalários, a exposição dos vencimentos brutos dos servidores causou revolta na categoria, que vai entrar na Justiça contra a medida. Pela lista, fica impossível saber o que se trata de salário bruto e o que são vencimentos com incorporações diversas, como casos de indenizações trabalhistas, reposições salariais referentes à década de 80, evolução funcional e pagamentos atrasados.

"A Prefeitura expôs desnecessariamente os servidores, já que muitos dos valores divulgados vêm de disputas judiciais travadas há anos. A medida coloca ainda os funcionários sob ameaças de roubo e sequestro. Os professores ganham aquilo que foi estabelecido em lei", disse o vereador Cláudio Fonseca (PPS), presidente do Sindicato dos Professores Municipais. Associações ligadas aos servidores já entraram na terça-feira com ação judicial para retirar do site as informações, alegando que a divulgação dos nomes, cargos e salários constitui "invasão de privacidade". A Prefeitura afirma que o "questionamento dos sindicatos não se justifica porque a folha de pagamento é pública, princípio consagrado em decisões judiciais".

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Cláudio Lembo, secretário de Negócios Jurídicos, defende a medida. "A transparência sempre causa terremotos, ninguém gosta da verdade. O que é mais importante? É saber as despesas da Prefeitura, dar publicidade aos gastos ou evitar que esses números sejam publicados? Se você quiser, pode omitir, fazer como o Congresso, como o Senado", disse Lembo. O secretário afirma acreditar que todos os vencimentos estejam de acordo com o teto do funcionalismo. "Nessa lista há pagamentos de precatórios, de 13º e de férias. Não acredito que tenha gente acima do teto. Mas eventuais distorções podem ser corrigidas. Agora é o momento."

Aliados consideram que o prefeito vai conseguir capitalizar uma boa imagem ao tentar divulgar os salários, mesmo que a medida seja suspensa pela Justiça. "Pelo menos o prefeito vai ter a chancela de dizer que tentou fazer algo que nunca seus antecessores pensaram por medo de retaliações da categoria", afirmou um aliado do DEM.