A presidente Dilma Rousseff não gostou nem um pouco do tom ameaçador do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que terça-feira disse "duvidar" que ela o demitisse e que ele não sairá do cargo "nem na reforma ministerial", marcada para o início do ano, quando deverão deixar seus cargos todos os candidatos que estão no primeiro escalão do governo. Dilma incumbiu a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, de transmitir a sua insatisfação a ele. Gleisi disse a Lupi que "houve excesso" na fala dele no dia anterior e que "ele e todos os ministros deste governo sabem que quem nomeia e quem demite é a presidente da República".
Lupi havia dito também que só à força deixaria o ministério. "Não saio do cargo. Daqui ninguém me tira. Só se for abatido a bala. E tem que ser bala de grosso calibre porque eu sou pesado", disse.
O recado a Lupi foi dado pessoalmente por Gleisi, antes de ele participar com a ministra de uma reunião para discutir a instalação de ponto eletrônico na Esplanada. A reunião estava marcada para 11h30. A ministra Gleisi conversou com Lupi a portas fechadas, em seu gabinete, no quarto andar do Planalto, e avisou do descontentamento da presidente Dilma com o episódio. Gleisi ressalvou, no entanto, que acreditava que tudo foi feito, em meio a um "clima de estresse" por causa das denúncias que ele está sofrendo.
Uma retração do ministro Lupi está sendo aguardada pelo Planalto, para que ele amenize e esclareça as declarações dadas terça-feira.
A presidente não pretende tomar nenhuma atitude neste momento contra o ministro e continua lhe dando crédito em relação às denúncias, reconhecendo que não apareceu nada diretamente contra ele.
Escândalo
Lupi deve comparecer hoje à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara Federal para prestar esclarecimentos sobre as denúncias de irregularidades envolvendo a pasta do Trabalho. A audiência está marcada para as 9h30.
Protagonista do último escândalo que atinge a Esplanada, o Ministério do Trabalho já desembolsou em 2011 R$ 89,4 milhões com 108 entidades sem fins lucrativos. O valor, no entanto, ainda está abaixo dos R$ 144,4 milhões que a pasta destinou em 2010 para ONGs, organizações da sociedade civil de interesse público (Oscips), fundações e partidos políticos, além de entidades similares. De 2005 para cá, o total de repasses já chega a R$ 784,7 milhões. Os números são da ONG Contas Abertas.
Ex-parlamentares
Um grupo de ex-parlamentares históricos do PDT se reuniu ontem com o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, para entregar uma petição pedindo agilidade na conclusão das investigações sobre desvios em convênios da gestão Carlos Lupi no Ministério do Trabalho.
Alegando serem integrantes do Movimento de Resistência Leonel Brizola, os políticos afirmaram durante o encontro querer diferenciar o PDT das ações do ministro e das acusações contra sua gestão na pasta. Segundo eles, o partido tem história e tradição e, por isso, é preciso separar o que é responsabilidade do ministério e o que é do partido.
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