Eunápolis, BA (Folhapress) No momento em que o MST mantém invadidas unidades do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em diferentes pontos do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem a visita a um assentamento em Santa Cruz Cabrália (BA) para dizer que fica "chateado" com determinadas ações do movimento.
"Eu, às vezes, fico chateado, porque a gente pode fazer os acordos sem precisar até de muito barulho. Até porque, às vezes, eu acho que sem barulho ele pode sair melhor", afirmou o presidente, diante de um grupo de trabalhadores rurais que, até a semana passada, estavam num acampamento apelidado de "Lulão" extinto com a entrega de três áreas ainda em fase de desapropriação e aquisição.
Na terça-feira, o presidente até cogitou cancelar sua visita ao assentamento como uma represália ao fato de líderes do MST terem se recusado a deixar as superintendências do Incra, invadidas ao longo desta semana. Lula, porém, foi convencido pela manutenção da agenda para não acirrar ainda mais a relação com o movimento. "Seria uma insensatez minha fazer com que o povo, a quem eu tinha prometido vir aqui, pagar por uma divergência que possa ter entre o presidente da República e lideranças (do MST)."
Apesar de ter admitido sua contrariedade ao "barulho" do movimento, Lula também teceu elogios ao MST, dizendo que ele consegue dar esperança e transformar em "guerreiros e guerreiras" pessoas que "estão quase virando párias da sociedade".
Ontem, apesar do bem-humorado, Lula demonstrou irritação com as críticas à falta de infra-estrutura nos assentamentos da reforma agrária. E aproveitou para ampliar o prazo da promessa que havia feito em janeiro passado aos mesmos sem-terra. À época, em visita ao "Lulão", afirmou que em seis meses iria assentá-los com "dignidade", inclusive com direito a "casinha com telhado".
Como ainda não cumpriu o acordo, prorrogou a dívida para o ano que vem: "Nós vamos fazer uma coisa de qualidade para botar inveja nos adversários da reforma agrária neste país".
Lula retornou ao sul da Bahia sem ter conseguido cumprir a promessa de assentar as famílias do "Lulão" no prazo por ele mesmo estipulado e que, ainda não assentadas de fato (o que ocorre assim que receber o registro de beneficiário), tais famílias tiveram de montar novos barracos de lona em terras áreas sem água, luz e rede de esgoto.
Ontem, ao tratar desse tema, Lula primeiro foi irônico, dizendo que irão cobrá-lo por ter ido num assentamento que não tem TV a cabo, telefone celular e casa com uma varanda. Depois, tirou o microfone da base e passou a entrevistar dois sem-terra (Anita, 64 anos, e Tertuliano, 82 anos). "Mas eu queria, dona Anita, que a senhora dissesse, sobretudo para os companheiros da imprensa, que estão ali, o que que significa esse lote para a senhora?", questionou o presidente, ouvindo, a seguir, palavras de agradecimento dos camponeses.
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