O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou nesta quarta-feira que os parlamentares precisam ser cautelosos com relação às informações prestadas pelo doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona. Dois senadores do PSDB também pediram prudência nesta quarta-feira.
Condenado a 25 anos de prisão por evasão de divisas e lavagem de dinheiro, o doleiro disse a 15 parlamentares que operava para o PT durante a campanha de 2002, trocando dólares por reais. Segundo Barcelona, a operação era feita por vários dirigentes do PT, inclusive o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que coordenou a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.
Delcidio informou que a CPI deve decidir nesta quarta-feira se convoca o doleiro a depor em Brasília.
- Ele faz afirmações que fez operações em dólar para autoridades do governo, para o PT, fala também de outros partidos. Essas são as informações que aparentemente ele teria condições de dar em um depoimento à CPI. Mas temos que ter muito cuidado, muita cautela com relação a isso - disse.
Delcídio acrescentou:
- É preciso cuidado principalmente em função da situação do senhor Toninho da Barcelona, para que, à luz dos holofotes da CPI, ele não venha a afirmar, em seu depoimento, coisas que depois não tenha condições de provar e, conseqüentemente, expor pessoas de maneira desnecessária.
O presidente da CPI ressaltou que vai conversar com o Procurador-Geral da República, Antônio Fernando de Souza, sobre o assunto.
- Ele acompanha esse caso do Toninho da Barcelona já há um bom tempo. Vou conversar com ele para que, inclusive, tenhamos os subsídios necessários para avaliar esse depoimento - afirmou.
O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator de movimentação financeira da CPI, acha que o próximo passo em relação ao doleiro deve ser dado pelo Ministério Público, que poderia decidir se aceita ou não o pedido de delação premiada - instrumento jurídico que permite redução de pena em troca de informações - feito pelo doleiro.
Fruet considerou importante o depoimento do doleiro a membros da CPI, nesta terça-feira, em São Paulo, mas entende que não há motivo para trazer Toninho da Barcelona a Brasília se o doleiro não apresentar provas ou avançar nas denúncias já feitas.
- Não adianta vir para cá para repetir o depoimento - disse Fruet.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) também acha importante que haja prudência por parte da CPI, uma vez que o doleiro está preso e seu principal interesse neste momento é reduzir o tempo de cadeia.
- Para reduzir a sua pena, o Toninho da Barcelona diz qualquer coisa.
Já o senador Romeu Tuma (PFL-SP) acha difícil que Toninho da Barcelona consiga obter o benefício da delação premiada como espera, pois foi condenado a 25 anos de prisão. Para o senador, a CPI dos Correios não pode negociar um acordo assim porque a impossibilidade foi sinalizada pelo Ministério Público.
Tuma lembrou que o doleiro quer fazer novas revelações à CPI dos Correios em audiência pública a ser realizada no Senado, exigência feita na terça-feira, durante a audiência em São Paulo com integrantes da CPI. O senador afirmou estranhar o fato de Toninho ter sido obrigado a assinar um documento na prisão, responsabilizando-se pela sua própria vida.
- Nunca vi isso - disse o senador, que já foi diretor da Polícia Federal.
Na terça-feira, Toninho Barcelona falou por aproximadamente três horas aos parlamentares na Delegacia Geral de Investigações da Polícia Civil de São Paulo. Ele está preso desde agosto de 2004 na Penitenciária de Segurança Máxima de Avaré, interior do estado, onde cumpre pena por evasão de divisas. Estima-se que tenha movimentado, em apenas uma de suas contas, mais de US$ 190 milhões. Toninho da Barcelona dise ter operado para o PT e acusa o partido de enviar dinheiro para o exterior desde 1989.