Presidente do Conselho de Administração da Gerdau nunca escondeu proximidade com Dilma

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Em mais uma etapa da Operação Zelotes, que investiga um dos maiores esquemas de sonegação fiscal já descobertos no país, a Polícia Federal cumpriu 18 mandados de busca e apreensão em endereços relacionados a empresa Gerdau nesta quinta-feira (25).

Outros 22 mandados de condução coercitiva – quando o investigado é obrigado a prestar depoimento – também foram cumpridos nos endereços da empresa em quatro estados.

Um dos mandados de condução coercitiva é contra o André Gerdau, presidente do grupo Gerdau. André Gerdau é filho do presidente do conselho de administração da siderúrgica, Jorge Gerdau Johannpeter. Pela manhã, a PF chegou a informar que Jorge Gerdau prestaria depoimento, mas corrigiu a informação.

Durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), Jorge Gerdau chegou a chefiar a Câmara de Gestão e Políticas de Competitividade, vinculada à Casa Civil, então chefiada pela senadora Gleisi Hoffmann (PT).

Jorge Gerdau nunca escondeu a proximidade com a presidente Dilma. Chegou a se reunir diversas vezes a portas fechadas com a presidente. Ambos se conheceram nos anos 80, mas foi entre 2003 e 2010 que estreitaram laços. Na época, Dilma presidiu o conselho de administração da Petrobras, do qual Gerdau faz parte desde 2001.

Jorge é um dos principais interlocutores entre o empresariado e a presidente Dilma Rousseff. A presidente recorria ao empresário para pedir conselhos não só na formulação de políticas industriais, mas também em outras áreas.

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Ele faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado “Conselhão”, desde a sua criação, no primeiro mandato do presidente Lula. Desde então, a sua proximidade com o Palácio do Planalto só aumentou, gerando inclusive rumores sobre a possibilidade de que Jorge Gerdau pudesse assumir alguma posição no governo do PT.

Em 2006, por exemplo, quando se afastou do dia-a-dia da empresa para assumir a presidência do conselho de administração, chegou-se a cogitar que a sua decisão estaria ligada a um convite para assumir algum ministério no governo Lula, mas isso não se confirmou.

Desde o fim do primeiro mandato da presidente Dilma, porém, Gerdau tem disparado críticas ao excesso de ministérios, à carga tributária, à falta de infraestrutura e à insistência do governo em apostar no Mercosul em sua estratégia de política comercial externa. Neste ano, chegou-se a cogitar a sua ausência na reformulação do Conselhão, mas seu nome permaneceu.

Investigação

As investigações da Operação Zelotes levantaram suspeita de pagamento de propina em tratativas de representantes do Grupo Gerdau para reduzir dívidas no Carf. Empresas do grupo têm sete processos no Carf e em cinco deles as dívidas sobre impostos que não teriam sido pagos são da ordem de R$ 4,5 bilhões.

Além de André Gerdau, foram ouvidos pela PF nessa quinta-feira (25) as advogadas Evanice Canário e Adriana Ribeiro. Elas são sócias do lobista José Ricardo da Silva, que está preso.

A PF constatou que, mesmo após a deflagração da operação, o Grupo Gerdau continuou praticando os crimes de advocacia administrativa, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, além de associação criminosa e lavagem de dinheiro. O esquema se dava pela contratação de escritórios de advocacia e de consultoria, responsáveis por intermediar a negociação do suborno aos conselheiros.

“Em março do ano passado foram identificados os conselheiros e ex-conselheiros e alguns escritórios de advocacia que estavam atuando junto ao Carf na venda de sentenças que iriam beneficiar milhares de contribuintes no país e hoje nós estamos aprofundando a atuação desses contribuintes”, disse a delegada da PF Fernanda Costa.

Outro lado

Em nota, o grupo Gerdau diz que “está colaborando integralmente com as investigações da Polícia Federal” e que, “com base em seus preceitos éticos, a Gerdau não concedeu qualquer autorização para que seu nome fosse utilizado em pretensas negociações ilegais, repelindo veementemente qualquer atitude que possa ter ocorrido com esse fim”.

O grupo reitera “que possui rigorosos padrões éticos na condução de seus pleitos junto aos órgãos públicos e reafirma que está, como sempre esteve, à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos que vierem a ser solicitados”.

Com um faturamento de aproximadamente R$ 40 bilhões, a Gerdau é um dos maiores conglomerados siderúrgicos do mundo e uma das grandes multinacionais brasileiras.