O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, também presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), disse nesta terça-feira (19) que considera de "gravidade incomum" as ameaças que o juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima alega ter sofrido. O juiz, que conduzia o processo da Operação Monte Carlo, anunciou que pedirá o afastamento do caso por estar em "situação de extrema exposição junto à criminalidade do Estado de Goiás", segundo ofício escrito por ele mesmo ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, em Brasília.

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"É de gravidade qualificada (a situação). Não se pode ameaçar, do ponto de vista da integridade física, moral ou psicológica, nenhum julgador e sua família", disse Ayres Britto. A corregedoria da Justiça Federal de Goiás está à frente das apurações do caso. A corregedora Eliana Calmon disse que vai acompanhar as investigações.

"Eu pretendo chamá-lo aqui, para ter uma conversa com o juiz, para saber que tipos de ameaças, quais as providências que a Justiça vai tomar. Porque a corregedoria, da mesma forma que pune disciplinarmente o juiz, ela também apoia o juiz", afirmou.

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A ministra disse que ficou surpresa com o documento enviado pelo juiz ao TRF. "A minha surpresa foi quando eu vi pelos jornais que o juiz havia pedido para sair. Eu tentei me comunicar com o juiz para saber se ele precisava de apoio. Aí ele me revelou que, diante do que estava acontecendo, que o trabalho dele foi desqualificado e ele estava recebendo ameaças, que ele então resolveu fazer uma carta ao corregedor e pedir para sair", contou Eliana.

O TRF anunciou o juiz titular da 11ª Vara Federal de Goiás, Leão Aparecido Alves, passaria a comandar o processo da Operação Monte Carlo. Ontem mesmo ele se declarou impedido de atuar no caso. Reportagem do jornal Folha de S. Paulo revelou que o juiz é amigo da família de José Olímpio de Queiroga Neto, um dos presos na operação.

"Não sei se (ele) tem ou não condições (de assumir o caso). O que posso dizer é que, no correr das investigações, houve um certo temor do juiz da causa em razão de uma interceptação telefônica que era de um telefone do juiz Leão", disse Eliana Calmon.

A ministra disse que vai conversar com Leão Alves sobre o assunto. "Ouvi dizer, por isso mesmo vou ouvir o juiz Leão para saber dele o que aconteceu. Isso me preocupa. Constaram que efetivamente houve uma interceptação de um telefonema de aparelho dele para alguém ligado a chamada quadrilha do Cachoeira. Ele disse apenas que o telefone estava emprestado à esposa dele. Se há algum envolvimento, se a interceptação indica que uma pessoa tão íntima quanto a esposa está na investigação, é óbvio que isso impede a continuação dele à frente (do caso)".

A Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, resultou em fevereiro na prisão do bicheiro Carlinhos Cachoeira, apontado como chefe da organização que explorava o jogo ilegal em Goiás. Moreira Lima autorizou as prisões de Cachoeira e de pessoas ligadas ao bicheiro.

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O líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), apresenta nesta terça-feira (19) requerimento para que a CPI do Cachoeira ouça o juiz Paulo Augusto Moreira Lima. Para o deputado, a CPI tem obrigação de colher o depoimento do magistrado para ter detalhes sobre essa ameaça e tomar as providências necessárias. "Em primeiro lugar, a CPI tem o dever de se solidarizar com o juiz. Depois, precisa ouvi-lo e tomar providências, já que também está diretamente ligada a investigação. Os integrantes da quadrilha são pessoas extremamente perigosas e com um poderio econômico enorme. Não é à toa que muitos dos seus integrantes estão presos preventivamente até hoje", afirmou Bueno.