São Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lamentou apenas que a sucessão de conversas com os principais ministros do primeiro mandato não tivessem redundado na criação de uma linha de interlocução direta com Lula, como seria tradicional em países evoluídos. Ele questionou o apelo genérico de Lula – "Precisamos conversar" –, quando o abraçou no velório de Ruth Cardoso, há dois meses. "Se ele quiser conversar, é só pegar o telefone e ligar", rebateu o ex-presidente.

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Mas a linha direta sustentada pelos então ministros Márcio Thomaz Bastos e Antônio Palocci, apesar de duradoura, acabou sem produzir uma interlocução direta entre o atual presidente e seu antecessor. FH confessa que começou a perder o ânimo quando, nos dias posteriores a uma conversa dramática com Palocci, Lula começou a usar uma retórica mais dura com a oposição e com ele próprio, o que lhe pareceu estranho para quem, dias antes, tinha lhe proposto um encontro apaziguador.

Um antigo assessor lulista explicou que o objetivo do presidente era criar um cenário de distanciamento crítico da oposição e de Fernando Henrique. Já outro assessor deu uma versão diferente: que Lula teria achado que Fernando Henrique, embora tivesse prometido, não se mexera para ajudá-lo, como acenara aos mensageiros – muito embora na época o ex-presidente tenha feito declarações públicas contra o radicalismo da oposição, na contramão do furor oposicionista daqueles dias.

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No dia 13 de julho, entre a conversa de Bastos e o relato de Palocci, Lula bradou num palanque: "Não vão conseguir me dobrar!" Dias depois, quando as denúncias acabaram por ferir Palocci mortalmente, o presidente disse não agüentar mais o "denuncismo" da oposição.