Os presídios paulistas são controlados por um grupo de cerca de 700 homens diretamente ligados à cúpula do crime organizado, que cuidam da comunicação da quadrilha dentro e fora das prisões. Cada presídio tem um 'piloto geral' e outros 10 a 11 pilotos, cada um responsável por uma ala do estabelecimento prisional. A descrição do controle do crime organizado sobre os cerca de 120 mil detentos do estado foi feita na CPI do Tráfico de Armas pelo delegado Ruy Ferraz Pontes, do Deic, e pelo detento José Marcio Felício dos Santos, ex-integrante do comando do crime organizado em São Paulo.
Segundo o relato de Pontes aos deputados da CPI, Marcos Camacho, o Marcola, dividia o comando da facção criminosa com outros 10 integrantes do bando, mas passou a ter poder hegemônico desde o início de abril, quando foi morto o detento Sandro Henrique, conhecido como 'Gulu'. Com isso, o projeto da polícia passou a ser eliminar o poder hegemônico de Marcola, isolando não apenas ele mas os cerca de 700 'pilotos' identificados.
O depoimento de Pontes à CPI do Tráfico de Armas fornece um resumo assustador da atuação do crime organizado em São Paulo. Segundo ele, todos os grandes crimes ocorridos em São Paulo são comandados de dentro dos presídios. Do dinheiro arrecadado, parte é reinvestido em armas e drogas para aumentar o poder de fogo da quadrilha.
Segundo o delegado, o crime organizado dividiu a cidade de São Paulo em zonas e, em cada uma delas, um piloto se encarrega de controlar a venda de drogas e da compra de armas. Juntos, armamentos e entorpecentes entram no país vindos do Paraguai, Colômbia e Bolívia. Segundo a polícia paulista, o principal negociador de armas e drogas no exterior para a quadrilha é Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, irmão de Marcola. No dia 27 de abril, a polícia paulista anunciou a prisão de Alejandro no Tatuapé, zona leste da capital.
Pelo depoimento, os 1.200 celulares que funcionam nos presídios podem ser bem mais, já que o número corresponde a apenas 27 das 144 unidades prisionais do estado.
- Cada presídio tem seu quartel-general. Tem o seu piloto. Que comanda o presídio. A atividade do piloto é organizar o presídio, administrar tudo o que acontece dentro daquele presídio e levar ao comando - contou o ex-líder da facção aos deputados, em depoimento no dia 17 de maio, cuja transcrição do conteúdo pode ser vista no site da Câmara dos Deputados.
De acordo com o relato da polícia paulista, a ordem de compra de armas e drogas é centralizada, mas a aquisição é descentralizada por área da cidade, o que torna mais difícil para a polícia encontrar os esconderijos. Além disso, o dinheiro da quadrilha é administrado em milhares de contas-correntes de pessoas comuns, que emprestam o nome para que os criminosos movimentem o dinheiro.
A participação de pessoas comuns no crime organizado é outra faceta surpreendente do depoimento. Segundo Pontes, é comum que a polícia prenda, agindo a mando do crime organizado, dezenas de pessoas sem antecedentes criminais, ou com passagens por delitos leves.
- É uma questão social e psicológica, psiquiátrica também, de tirar da cabeça desse povo, que mal tem passagem, mal passou por uma progressão criminosa, que eles devam agir dessa forma. A gente não consegue entender como é que um menino de 18 anos pegou uma granada, tirou o pino e jogou no Fórum de Osasco. Eram pessoas que mal estavam ligadas, não tinham antecedentes criminais, mas cumprem missões como se fossem ou se tivessem sido preordenadas, desde criança, para esse fim - desabafou o delegado Pontes aos deputados da CPI.
Pontes afirmou à CPI do Tráfico de Armas que o PCC, depois de extorquir, passou a dominar cooperativas de perueiros nas zonas leste e sul da cidade. E explicou que essa foi a forma de o crime organizado encontrou para lavar o dinheiro do crime, justificando assim os bens ostentados por suas famílias.
- Hoje eles dominam algumas cooperativas, tem um sujeito lá que é o laranja. Que toma conta da cooperativa em nome do crime organizado. Eles acharam, eles enxergaram nesse nicho um bom lugar para se lavar dinheiro - contou.
Foi justamente o controle do transporte alternativo na cidade de Campinas, feito por perueiros, que teria sido a causa da morte do prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, assassinado em janeiro de 2001. À CPI do Tráfico de Armas, o detento José Marcio Felício dos Santos afirmou que o seqüestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, matou o prefeito num ato isolado, sem ligação com a quadrilha hoje comandada por Marcola.
Apontado como um dos principais seqüestradores da região de Campínas, Andinho é apontado pelo criminoso José Márcio Felício dos Santos como parceiro de policiais em suas empreitadas.
Como a PF costurou diferentes tramas para indiciar Bolsonaro
Cid confirma que Bolsonaro sabia do plano de golpe de Estado, diz advogado
Problemas para Alexandre de Moraes na operação contra Bolsonaro e militares; assista ao Sem Rodeios
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro