O crime organizado deu mais uma mostra de poder em São Paulo nesta quinta-feira. Numa espécie de 'greve' de apoio a Marcos Camacho, o Marcola, que prestava depoimento à CPI do Tráfico de Armas, os presos se recusaram a ser levados a audiências marcadas em fórums do estado. Pelo menos 200 audiências foram prejudicadas.

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Na capital, o Fórum Criminal da Barra Funda ficou vazio. Nas 31 varas criminais, pelo menos seis audiências foram prejudicadas. No Tribunal do Júri, oito réus não compareceram aos julgamentos.

Numa inusitada nota em que comenta a 'paralisação' de presos no estado, a Secretaria de Administração Penitenciária informa que 'os motivos danão apresentação serão cobrados pelos juízes competentes'. A nota informa ainda que o movimento foi pacífico: 'A SAP não registrou ocorrências de indisciplina em nenhuma de suas 144 unidades, em virtude da paralisação'.

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Marcos Camacho, o Marcola, está sendo ouvido desde o começo da tarde por deputados da CPI do Tráfico de Armas no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes. De tênis prata, Marcola veste calça bege e camiseta branca, que é o uniforme do presídio, e está sendo ouvido numa sala pequena, com não mais de três metros de comprimento.

Algemado e sentado, Marcola evitou olhar para as câmeras de tevê e máquinas fotográficas dos jornalistas que registraram sua entrada na sala. Segundo os cinegrafistas, ele estava bastante contrariado.

Os deputados querem saber qual a ligação do criminoso com o crime organizado que determinou ataques terroristas a São Paulo em maio passado, a rota usada para o tráfico de armas e se Marcola negociou ou não com autoridades do governo paulista o fim dos ataques.

Marcola é apontado pela polícia paulista como chefe do crime organizado em São Paulo e mandante dos ataques de terror ao estado ocorridos entre 12 e 20 de maio.

No dia 14 de maio, dois dias depois do início dos ataques a São Paulo, a advogada Iracema Vasciaveo foi levada em avião do governo paulista até Presidente Bernardes, numa reunião com representantes da polícia e da Secretaria de Administração Penitenciária.

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O governo paulista acabou confirmando a reunião depois de um dia inteiro desmentindo que ela tivesse ocorrido, mas nega que tenha feito a Marcola alguma concessão para que ele mandasse suspender os ataques.

Iracema Vasciaveo não é advogada oficial de Marcola. Ela integra uma ONG que, em teoria, defende o direito dos presos e de seus familiares. Ao comentar sobre o uso do avião oficial, Iracema disse que foi 'um gesto de boa vontade' do governo paulista.

Os deputados foram a Presidente Bernardes sob forte esquema de segurança. Policiais federais e militares, armados com metralhadoras e fuzis, fizeram a segurança do Aeroporto de Presidente Prudente, a 565 km da capital paulista, onde eles desembarcaram. Uma viatura da Polícia Federal chegou a ficar parada na posta do aeroporto. Marcola está detido em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que mantém o preso em cela individual e sem contato com o mundo externo.