Operação Juçara
Prisões levantam nova suspeita de fantasmas
A detenção de duas pessoas com cargo na Assembleia Legislativa do Paraná, durante a Operação Juçara da Polícia Federal que levou 18 acusados de crimes ambientais à cadeia , reacende a suspeita da existência de funcionários fantasmas na Casa. De acordo com o mandato de prisão decretado pela Justiça Federal, Doria Rozana Correa Tozetto, apesar de constar na lista de funcionários da Assembleia, atuava na fábrica de palmitos Palmeira, em Guaratuba.
Guaratuba e Curitiba - A Operação Juçara da Polícia Federal (PF), que na semana passada prendeu uma quadrilha de extração ilegal de palmito no litoral do Paraná, revelou o envolvimento de políticos e funcionários municipais de Guaratuba como suspeitos pelo crime ambiental. Mas as ramificações do grupo não se restringem apenas ao poder público do litoral. Dois dos 18 presos eram servidores da Assembleia Legislativa do Paraná (AL) até ontem, ocupando cargos comissionados no gabinete do presidente da Casa, Nelson Justus (DEM). Eles se demitiram nesta quarta-feira.
Cezar Renato Tozetto e a mulher dele, Doris Rozana Correa Tozetto, foram detidos no último dia 17, junto com o ex-prefeito de Guaratuba, José Ananias dos Santos, por serem funcionários da Indústria Palmeira, que fabricava conservas de palmito extraído ilegalmente, segundo a PF.
O casal Tozetto mantém relações tanto com a família de Justus quanto com a Ananias dos Santos. Os dois trabalhavam na fábrica da família Ananias regularmente. Porém, isso não impedia de receberem também um salário da Assembleia para prestar serviços políticos a Nelson Justus.
Além disso, o filho do ex-prefeito de Guaratuba, José Ananias dos Santos Júnior, é o atual vice-prefeito da cidade, na administração da prefeita Evani Justus. Ela, por sua vez, é cunhada do presidente e deputado Justus. Doris, aliás, é cunhada de José Ananias, o ex-prefeito.
A relação de sustentação política do grupo chamou a atenção da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF). E essa inter-relação é que a investigação pretende detalhar. A PF e o MPF não dão detalhes do conteúdo dos três meses de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça no processo de crime ambiental porque ele tramita em segredo judicial.
O procurador-geral do MPF, Alessandro José Fernandes de Oliveira, afirmou ontem não saber que dois dos presos da Operação Juçara eram funcionários de Justus na Assembleia. Sem dar detalhes, ele comentou que a comprovação disso "é muito importante para o restante da investigação". Na semana passada, o procurador havia revelado que o material recolhido durante as escutas telefônicas iriam promover a abertura de outros inquéritos, com suspeitas de corrupção, prevaricação e de crimes eleitorais.
O delegado que preside o inquérito na PF, Michael de Assis Fagundes, comentou que trabalha na busca de indícios do uso de cargos políticos para proteger a extração ilegal de palmito. Ele levantou a hipótese de o lucro da venda do palmito ser usado ilegalmente para bancar campanhas eleitorais.
A presidência da Assembleia informou ontem que Doris e Cezar Tozetto pediram demissão do gabinete de Justus, após serem soltos por um habeas corpus. Segundo a presidência da Casa, os dois trabalhavam como agentes políticos de Justus em Guaratuba, sem detalhar desde quando. O casal estava contratado, porém, pelo menos desde março, pois o nomde deles conta da lista de servidores da Casa divulgada naquele mês. Na carta de demissão, eles dizem que pediram o desligamento para poder preservar a imagem da Assembleia e de Justus. O casal foi procurado ontem, mas não foi encontrado para prestar informações.
Já o deputado Justus não quis falar diretamente com a reportagem. Por meio de sua assessoria, informou ter sido surpreendido pela notícia da prisão dos dois servidores. "Eu fiquei muito surpreso com esse episódio. Eles agiram com correção ao pedir demissão para poder se defender sem causar constrangimento à Assembleia", comentou o deputado, por intermédio de sua assessoria.
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