A pressão do PMDB por uma troca no comando da Fundação Real Grandeza, que gere um patrimônio de R$ 6,3 bilhões em recursos de previdenciários dos trabalhadores e aposentados de Furnas Centrais Elétricas, pode provocar uma greve de grandes proporções na maior geradora de energia do País Unidos aos aposentados, os funcionários da empresa reunidos em 20 bases sindicais são contrários à proposta de substituição no comando do fundo de pensão, que deve ser proposta amanhã (26) em reunião extraordinária do Conselho Administrativo.
Paralisações estão programadas para ocorrer a partir das 7h30 de amanhã no Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, além de uma megamanifestação organizada por funcionários e aposentados. Apesar do PMDB negar a pressão por mudanças, o próprio presidente de Furnas, Carlos Nadalutti, distribuiu carta aos funcionários da empresa na última sexta-feira (20) revelando a intenção de mudar a diretoria do fundo de pensão sob alegação de que havia sido uma "orientação do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão". Nesta quarta, segundo fontes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teria chamado Lobão para "entender melhor a situação". A informação não foi confirmada oficialmente pelo Planalto.
A proposta de substituir a diretoria da Fundação deverá ser apresentada oficialmente pelo presidente do Conselho, Victor Albano. Na semana passada, durante protesto de funcionários em frente à empresa, Albano negou que levaria esta discussão ao Conselho. Dois dias depois mudou de opinião e convocou uma reunião informal apenas com os conselheiros indicados ao cargo (há ainda outros três eleitos pelos funcionários e aposentados) para anunciar sua decisão de levar o tema para votação na próxima reunião do Conselho.
O anúncio provocou a renúncia do conselheiro Ronaldo Neder, que foi substituído pelo atual chefe de Gabinete de Nadalutti em Furnas, Luiz Roberto Bezerra. O suplente de Albano, Marcos Vinicius Vaz também deixou o cargo, elevando para seis o número de renúncias desde o final de 2007, quando a proposta de substituição do comando da Fundação começou a ser cogitada. Naquela ocasião, a proposta foi rejeitada pelo Conselho, mas voltou à tona este ano e recebeu os holofotes por ser emblemática das declarações do senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) de que "boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção".
Em carta aos funcionários e conselheiros, a Associação dos Aposentados de Furnas, a Após-Furnas, convocou o protesto contra o que chama de "atos inescrupulosos que ameaçam o patrimônio da Fundação em nome de interesses políticos para a campanha eleitoral de 2010". "Será a primeira greve ideológica que se vê no País. Sem luta por melhores salários, mas contra a ingerência política em recursos do trabalhador", disse Horácio de Oliveira, funcionário aposentado da área financeira de Furnas, eleito como membro do Conselho Administrativo da Fundação.
Os manifestantes querem que sejam concluídos os mandatos do presidente da Fundação Sérgio Wilson Ferraz Fontes e do diretor financeiro, Ricardo Gurgel Nogueira, que termina em outubro. Escolhidos para o cargo em 2005, ambos assumiram seus cargos em condições bastante desfavoráveis, após a fundação ter perdido R$ 153 milhões com aplicações no falido Banco Santos e com apenas R$ 2 milhões de superávit atuarial. De lá pá cá, a Fundação Real Grandeza acumulou rentabilidade de 81% sobre o patrimônio, contra exigência atuarial de 40%, e o superávit chegou a R$ 1,2 bilhão, o que levou Fontes a ser escolhido o dirigente de fundo de pensão do ano em votação aberta dos membros da Associação Brasileira de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) em 2008.
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