No dia seguinte à saída de Cid Gomes do Ministério da Educação, a presidente Dilma Rousseff admitiu que mudanças pontuais na sua equipe podem ocorrer. Também nesta quinta-feira, o PMDB anunciou que assumirá uma posição de descolamento do governo — que tem o peemedebista Michel Temer como vice —, mas quer mudanças na articulação política e que o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves assuma o Ministério do Turismo. No Rio, o gerente de Comunicação Institucional da Petrobras, Wilson Santarosa, foi demitido. Em meio à crise do vazamento de documento com críticas ao governo, o ministro Thomas Traumann (Comunicação Social) pode ser deslocado para a vaga. Alvo de críticas do PT, a Secom deve ser ocupada por alguém com perfil mais alinhado ao partido.
Na manhã desta quinta-feira, em entrevista, Dilma procurou minimizar as mudanças e afirmou que reforma ministerial não é “panaceia”, e que fará “mudanças pontuais”. Não disse, no entanto, a dimensão das alterações.
“Vocês (imprensa) estão criando uma reforma no Ministério que não existe. São alterações pontuais. Eu estou fazendo uma alteração pontual. Eu não tenho perspectiva de alterar nada nem ninguém, mas as circunstâncias às vezes obrigam você a alterar, como foi no caso do Ministério da Educação”, afirmou a presidente.
Além de acomodar Henrique Alves no Turismo, o PMDB quer que Dilma aproveite a saída de Cid Gomes para indicar Aloizio Mercadante (Casa Civil) para a Educação, pasta que já comandou. Na avaliação dos peemedebistas, o trio palaciano formado por Mercadante, Miguel Rossetto (Secretaria Geral) e Pepe Vargas (Relações Institucionais) não tem condições de operar a relação com a base aliada e com o Congresso.
Apesar da pressão sobre Dilma para deslocar Mercadante de função, ela não se mostra disposta a tirar do Palácio do Planalto o ministro considerado seu braço-direito. Também não é do estilo da presidente aceitar pressão. Ela pode deixar por semanas no comando da Educação o secretário executivo Luiz Cláudio Costa, e até mesmo trazer de volta ao cargo José Henrique Paim Filho, que saiu do MEC para dar lugar a Cid Gomes. A permanência de Traumann na Secom ainda será avaliada quando retornar dos Estados Unidos, onde está acompanhando a irmã, em tratamento de saúde. No fim do ano passado, quando o PT fez uma ofensiva sobre a pasta, por causa da verba publicitária, houve a possibilidade de Traumann ir para a Petrobras. Agora, com a demissão de Santarosa e pela proximidade do ministro com o presidente da estatal, Aldemir Bendine, o assunto voltou à tona.
Mercadante negou os rumores de sua volta para a Educação:
“Não comento, tenho trabalho demais para me preocupar com essas coisas”, disse, após receber um prêmio na embaixada da Espanha.
O ministro da Casa Civil também negou que a demissão de Cid tenha sido fruto de pressão do PMDB, que coordenou o enfrentamento ao ex-ministro, que foi à Câmara explicar sua declaração de que há “400 achacadores” na Casa. O petista contou que Cid ligou imediatamente para ele, pediu uma audiência com Dilma e seguiu da Câmara para o Planalto, onde explicou para a presidente que não tinha mais condições de ficar no governo. Dilma concordou na hora.
Na busca de maior protagonismo, a bancada do PMDB na Câmara anunciou ontem novas bandeiras no Congresso. O partido apoiará a redução do número de ministérios, de 39 para 20; pedirá que seja vetado o aumento do Fundo Partidário e trabalhará pela desoneração do óleo diesel. A prática do PMDB, porém, mostra um histórico contraditório sobre esses temas. O partido ocupa seis ministérios e sempre reivindica mais espaço. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE), almoçaram no Palácio do Jaburu com o vice-presidente Michel Temer para analisar a situação política. Na conversa, falaram da necessidade de “refundação do governo”.
Para os peemedebistas, uma mudança ministerial é a forma mais rápida e fácil de dar novo ânimo e nova cara à gestão Dilma. Com apenas três meses de vida, na opinião da cúpula peemedebista, a imagem do governo é de fracasso. Além disso, o partido quer que as medidas de ajuste projetem uma perspectiva de crescimento e de melhora do cenário econômico.
“Tem um ditado que diz: me dê uma boa política que eu lhe darei uma boa economia. Nós do PMDB achamos que tem que ter uma coisa mais ampla, o que ela (Dilma) fala de concertação. O fato é que temos um problema político e outro problema econômico e temos que resolvê-los. Nossa discussão é uma coalização verdadeira. A disposição do PMDB é ajudar. O PMDB não está reivindicando nenhum cargo, nenhum ministério. Temos é preocupação com a crise política e com a econômica”, disse Eunício Oliveira, após o almoço no Jaburu.
Apesar de ainda pressionar por indicações, o PMDB quer evitar estragos à sua imagem do governo Dilma para evitar que o partido seja tragado pela cada vez maior insatisfação popular.
“É fundamental, no momento em que se propõe ao país o ajuste das contas públicas, que o Poder Executivo dê demonstração clara a inequívoca do seu compromisso com o corte de gastos, com enxugamento de seus próprios gastos”, afirmou Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB na Câmara.
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