Líder do governo
"É preciso saber a hora de ir em frente e a hora de retroagir"
Ao justificar a decisão de deixar a votação do projeto da Fundação Estatal em Saúde (Funeas) para 2014, o líder do governo, Ademar Traiano admitiu que a proposta chegou tarde à Assembleia e que ela precisa ser melhor discutida. "Nunca tive medo das galerias, mas é preciso saber a hora de ir em frente e a hora de retroagir", afirmou. "Tivemos a grandeza de respeitar os questionamentos de parlamentares que sempre votaram a favor dos projetos de interesse do governo. O recuo foi necessário para construir o entendimento."
O tucano, porém, rebateu as críticas de que o Executivo estaria privatizando a saúde do estado. "Esse é um discurso ideológico do PT, que criticava as medidas tomadas pelo ex-presidente FHC e, agora, está privatizando todas as áreas. Nada será privatizado no Paraná."
Críticas
Já o líder do PT, deputado Tadeu Veneri, afirmou que a proposta foi enviada ao Legislativo de forma precipitada e apresenta uma série de equívocos. Segundo ele, nem mesmo o secretário estadual da Saúde, Michele Caputo Neto, soube explicar determinados pontos do projeto em reunião realizada ontem na Assembleia com os parlamentares, pouco antes da sessão. "Como ficará, por exemplo, a situação dos hospitais universitários, do Hospital Militar? Essas e outras dúvidas levantadas ainda perduram", disse. "O Conselho Estadual de Saúde nem sequer foi consultado. Esperamos que, agora, sejam realizadas audiências públicas antes da votação."
Em pauta
Confira como ficaram os principais projetos que estavam na pauta de ontem da Assembleia:
Aprovados
670/13 Estende a todos os servidores do TJ o direito à primeira progressão na carreira por antiguidade desde a entrada em vigor da Lei 16.748/2010, ao custo de R$ 12 milhões anuais aos cofres públicos.
693/13 Cria uma conta-garantia abastecida com recursos públicos, que serão usados exclusivamente para que o governo cumpra com suas obrigações financeiras em parcerias público-privadas.
694/13 Transforma a Ambiental Paraná Florestas S.A. de empresa de economia mista em autarquia.
696/13 Autoriza o Executivo a liquidar o extinto Banco de Desenvolvimento do Estado do Paraná (Badep), que tem um débito de R$ 2,1 bilhões.
720/13 Aumenta para até R$ 2 bilhões o capital social autorizado para a Agência de Fomento do estado.
638/12 Aumenta de R$ 817,80 para R$ 1.822,88 o valor máximo que pode ser cobrado pela taxa do Fundo de Reequipamento do Poder Judiciário (Funrejus).
Adiados por uma sessão
721/13 Estabelece normas para ocupação e uso de bacias hidrográficas destinadas ao abastecimento público.
609/13 Eleva em 11,45% as custas cobradas pelos cartórios no estado e permite que o presidente do Tribunal de Justiça passe a reajustar as taxas anualmente com base na inflação.
118/13 Cria o Fundo Estadual de Segurança dos Magistrados (Funseg)
Ficaram para 2014
726/13 Cria a Fundação Estatal em Saúde, entidade com personalidade jurídica de direito privado que será vinculada à Secretaria da Saúde.
22/13 Regulamenta o trecho da Constituição Estadual que permite a criação de autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações.
Pela segunda vez em menos de uma semana, o governo Beto Richa (PSDB) se viu pressionado e adiou a votação do polêmico projeto que cria a Fundação Estatal em Saúde (Funeas) entidade que seria instituída para contratar médicos sem concurso público. Dessa vez, porém, a decisão foi deixar a análise da proposta para fevereiro de 2014, quando a Assembleia Legislativa retornará do recesso parlamentar. Até lá, o Executivo promete abrir espaço para debater o assunto com mais profundidade, depois de ter tentado aprová-lo às pressas.
Entidade com personalidade jurídica de direito privado que será vinculada à Secretaria da Saúde, a Funeas vai driblar a legislação e permitir que o governo contrate profissionais da área médica pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e não como servidores estatutários. O objetivo é não comprometer oficialmente a folha do estado com o pagamento de profissionais da área médica. Isso porque o Paraná atingiu 48,81% de comprometimento da receita corrente líquida com pessoal, muito próximo do teto máximo de 49% estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O projeto era um dos 63 que estavam na pauta de ontem da Assembleia.
A intenção da base governista era aprovar a matéria em todas as votações necessárias ontem mesmo, na base do "tratoraço", sem discussão, e já enviá-la à sanção governamental. No entanto, com as galerias completamente lotadas de servidores, o líder do governo na Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), anunciou logo no início da sessão que iria adiar a análise do projeto para o início do ano que vem.
Mesmo com o anúncio, a sessão era constantemente interrompida por vaias e aplausos, conforme o teor do discurso a respeito da criação da Funeas. Munidos de faixas e cartazes, os servidores gritavam "não à privatização". Em meio ao tumulto, Traiano disse a eles que "a vaia de vocês para mim não tem valor". Na tentativa de conter as manifestações, o presidente da Casa, Valdir Rossoni (PSDB), também foi vaiado e afirmou aos servidores que poderiam usar a tribuna quando se elegessem deputados.
Depois de a sessão permanecer suspensa por quase 30 minutos, os funcionários públicos deixaram o plenário e os trabalhos voltaram à normalidade.
Também ficou para 2014 a votação do projeto do governo que regulamenta o trecho da Constituição Estadual que permite a criação de autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações. A proposta é necessária para viabilizar a criação da Funeas. Pelo texto, a medida poderá ocorrer na saúde, e também nas áreas de assistência social, cultura, turismo, comunicação social, esporte e ciência e tecnologia.
Assembleia aprova fundo público para garantir PPPs
A Assembleia Legislativa do Paraná aprovou ontem, em primeira e segunda discussões, projeto do governo para garantir que empresas que atuem em conjunto com o estado não saiam no prejuízo. A proposta cria uma conta-garantia abastecida com recursos públicos, que serão usados exclusivamente para que o governo cumpra com suas obrigações financeiras previstas em contratos de parcerias público-privadas (PPPs). Hoje a matéria passará por mais duas votações apenas de praxe , antes de ser enviada à sanção governamental.
Atualmente, o Executivo negocia com o setor privado a implantação de 17 PPPs. A primeira a sair do papel, em janeiro, deve ser a duplicação da PR-323 entre Guaíra e Maringá. E, para garantir que o governo cumpra suas obrigações contratuais, será criada a conta-garantia, a ser gerida pela Agência de Fomento do Paraná. Pelo projeto, os recursos depositados nessa conta só poderão ser usados para assegurar o cumprimento contratual por parte do poder público. Os repasses se darão à medida que o estado firmar as parcerias.
O ponto mais controverso da proposta estava no fato de que "qualquer fonte que o governo julgue relevante" poderia abastecer a conta. Diante da polêmica, os deputados aprovaram uma emenda para que a destinação desses recursos definidos como "relevantes" pelo governo precise de aprovação prévia da Assembleia.
"Com contratos de grande dimensão econômico-financeira e de alta longevidade, as PPPs urgem por segurança jurídica no que tange a constituição de garantias sólidas tanto por parte do parceiro privado quanto pelo parceiro público", alega Richa na justificativa do projeto.
Aprovados três projetos que mexem com as finanças do PR
A Assembleia Legislativa do Paraná aprovou ontem três projetos considerados prioritários pelo governo. Um deles aumenta para até R$ 2 bilhões o capital social autorizado para a Agência de Fomento do estado o valor que hoje é de R$ 900 milhões. A medida, porém, não significa que haverá um aporte imediato ao órgão. Apenas abre a possibilidade de seus acionistas, entre eles o próprio governo, investirem mais recursos na agência. Com o aumento de capital, a Fomento Paraná poderá ter acesso a empréstimos, sobretudo internacionais, o que hoje não consegue devido ao seu "tamanho" financeiro.
Outra proposta transforma a Ambiental Paraná Florestas S.A. em autarquia hoje, ela funciona como empresa de economia mista. O principal objetivo da mudança é garantir mais verbas aos cofres públicos. "Cada vez que se vendia um conjunto de florestas, 40% eram destinados ao pagamento de impostos. Ao transformar [a Ambiental Paraná] em autarquia, o patrimônio volta ao estado", afirmou o secretário da Casa Civil, Reinhold Stephanes.
Por fim, foi aprovado o projeto que autoriza o governo a liquidar o extinto Banco de Desenvolvimento do Estado do Paraná (Badep). Contraída na década de 1980 com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a dívida do Badep cobrada na Justiça chega a R$ 2,1 bilhões. Segundo o Executivo, a ideia é repassar ao BNDES o crédito de R$ 1,7 bilhão que o Badep tem a receber e, assim, reduzir o débito com o banco federal para R$ 463 milhões.
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