A Procuradoria da República em São Paulo denunciou à Justiça a socialite Valdirene Aparecida de Marchiori, a Val Marchiori, por crime do colarinho branco. Segundo a acusação, protocolada na 6.ª Vara Criminal da Justiça Federal, Val Marchiori em 17 de setembro de 2013 obteve, ‘de forma livre e consciente, mediante fraude’, financiamento oriundo do Programa BNDES de Sustentação do Investimento - BNDES PSI -, em valor equivalente a R$ 2,79 milhões.
Também são acusados um irmão de Val Marchiori, Adelino Marcos de Machiori, e Alexandre de Melo Canizella, à época gerente geral do Banco do Brasil, da agência Rua Estados Unidos, Jardins, São Paulo.
Formalmente, a Procuradoria acusa Marchiori de violação do artigo 19 da Lei 7492/86 – obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira; pena de reclusão de dois anos a seis anos e multa. A denúncia relata que no dia 18 de julho de 2013, Marchiori, na condição de administradora da empresa Torke Empreendimentos e Participações Ltda, formalizou Proposta de Abertura de Crédito - PAC, junto ao Banco do Brasil, instituição credenciada no BNDES, com objetivo de obtenção de financiamento destinado à aquisição de 5 caminhões e 5 semirreboques (carroceria fechada). A Procuradoria aponta ‘flagrante utilização de manobras, por parte da denunciada, as quais terminaram por macular por completo a sua conduta’.
Irmão
A denúncia revela a participação de Adelino Marcos de Marchiori, irmão de Val, sócio administrador da empresa Veloz Empreendimentos Participações e Administração de Bens. “Para que pudesse desempenhar as atividades de transporte de sua empresa, Adelino necessitava dos instrumentos adequados. Buscou informações acerca dos requisitos necessários à obtenção de financiamento junto ao BNDES, o qual viabilizaria a aquisição de cavalos mecânicos e carretas e, em consequência, o apropriado desenvolvimento das atividades da empresa Veloz.”
A investigação mostra que Adelino procurou a irmã ‘e a induziu a obter, através da empresa que administrava, Torke Empreendimentos, um financiamento destinado à aquisição de caminhões’.
A Procuradoria afirma que foi Adelino quem ‘incutiu’ em Marchiori a ideia de tomar o financiamento uma vez que a Torke reunia, em princípio, as condições necessárias à concessão do empréstimo junto ao BNDES. Mas a Torke detinha objeto incompatível com a linha de crédito pretendida. Segundo a denúncia, o então gerente geral do Banco do Brasil, Alexandre Canizella, teve ‘fundamental participação na conduta criminosa desempenhada por Valdirene’.
O gerente do Banco do Brasil Alexandre de Melo Canizella, segundo a Procuradoria, foi o responsável pelas tratativas iniciais com Val Marchiori acerca do financiamento pretendido. “Instigou a denunciada a prosseguir em seu intento criminoso, ao sugerir que procedesse à alteração do objeto social da empresa Torke, com a finalidade de adequá-la às exigências para a obtenção do financiamento junto ao BNDES’.
“Foi justamente essa alteração destinada, única e exclusivamente, a viabilizar a obtenção do financiamento, que tornou a conduta fraudulenta. O fato é que, diante dessa alteração, caracterizou-se flagrante falsidade ideológica, sem a qual simplesmente não seria possível a obtenção do financiamento almejado.”
Fraude
“Ao mascarar as atividades da empresa Torke, o financiamento obtido por Valdirene assumiu forma nitidamente fraudulenta, eis que somente foi atingido em decorrência da informação ideologicamente falsa inserida no contrato social da empresa por ela administrada”, diz a denúncia.
Em depoimento, Val Marchiori foi categórica, após ser questionada com qual objetivo a empresa Torke possui caminhões ou carretas em seu patrimônio. Ela contou que o marido era proprietário da Big Frango/Jandelle e que estava contratando empresas de transportes. Disse que seu irmão e o marido sugeriram a ela que comprasse caminhões, pois a Jandelle iria precisar.
Marchiori relatou que foi à agência do Banco do Brasil, onde possui conta desde 2006 e solicitou o financiamento. Afirmou que a Torke possuía quase R$ 3 milhões aplicados na mesma agência do Banco do Brasil. Alexandre Canizella declarou que não pode orientar o cliente da agência sobre alteração do objeto social ou do contrato social da empresa, mas pode orientar que a atividade social precisa ser compatível ao financiamento pleiteado.
Segundo ele, com a atividade descrita no contrato social anterior não seria possível a concessão do financiamento. A reportagem não localizou Val Marchiori na quarta-feira, 18, e os outros denunciados pela Procuradoria.
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