
Aos 78 anos de idade e meio século de vida pública, José Sarney (PMDB-AP) assumiu na semana passada a presidência do Senado com um discurso que promete inovação. A vitória folgada sobre o petista Tião Viana (31 anos mais jovem), porém, simbolizou a dificuldade de formação de novas lideranças na política brasileira.
Tanto em Brasília, quanto no Paraná e em Curitiba, a regra das últimas décadas tem sido a manutenção daqueles que já estão no poder. Como Sarney, Michel Temer (PMDB-SP), 68 anos, também chegou ao terceiro mandato como presidente da Câmara dos Deputados.
No caso estadual, o governador Roberto Requião (PMDB) completará 12 anos de gestão em 2010. Na capital paranaense, João Cláudio Derosso (PSDB) foi escolhido em 2009 para o sétimo mandato consecutivo na presidência da Câmara de Vereadores.
O conservadorismo na escolha de quem dirige internamente o Poder Legislativo contrasta, no entanto, com os índices de renovação das eleições recentes. Dos 513 deputados federais eleitos em 2006, por exemplo, 48,7% são novatos.
A porcentagem foi acima da média das duas disputas anteriores. Na eleição de 1998, a renovação foi de 41,9%, e na de 2002, de 41,6%. Nenhum novato, entretanto, conseguiu eleger-se na semana passada para qualquer dos 11 postos da Mesa Diretora da Câmara.
O diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, afirma que o resultado das eleições internas no Congresso Nacional é preocupante. Segundo ele, é saudável que o Parlamento passe por uma renovação quantitativa, mas há um problema crônico no recrutamento de jovens lideranças.
"As novas gerações, excessivamente pragmáticas, possuem pouca capacidade de indignação. Em geral adotam uma postura despolitizada, sem apego à defesa de ideologias, princípios e utopias, preferindo desqualificar os espaços de disputa política em lugar de participar deles", afirma.
Queiroz defende a tese de que há um vácuo deixado pelos movimentos sociais e estudantis. E que as poucas novidades que se destacam, principalmente entre a oposição, são originárias da política familiar como os deputados federais ACM Neto (DEM-BA) e Gustavo Fruet (PSDB-PR).
Enquanto isso, os espaços de poder seguem sendo ocupados por nomes que participaram do processo de redemocratização do país, há 25 anos. Entre eles, os próprios Sarney e Temer.
Guerra de gerações
Ratinho Júnior (PSC), 27 anos, é o mais jovem entre os 30 deputados da bancada paranaense na Câmara Federal. Eleito pela primeira vez em 2006, ele reconhece que sofre com os políticos mais experientes. "Eles tentam claramente dificultar a ascensão da nova safra. Mas considero isso normal, o tempo corre desfavoravelmente para aqueles que estão no poder."
Do outro lado, Alvaro Dias (PSDB), 62 anos, está no terceiro mandato como senador o primeiro foi conquistado em 1982. Segundo ele, a renovação é um processo natural, que deve começar nas câmaras de vereadores e progredir. "Ocupação de espaço no Congresso Nacional, e especialmente no Senado, é para os mais experientes", definiu. O tucano diz acreditar que o fim dos ciclos políticos depende da situação socioeconômica da população.
Por isso prevê pouca chance de mudança em 2010. "Estamos no meio da crise financeira mundial. Em uma hora dessa, o povo quer alguém que saiba lidar com a situação. A fase da renovação sem conteúdo acabou com a eleição do Collor em 1989."
Estados Unidos
Os entraves na renovação política brasileira são comuns em outros países. O cientista político David Fleischer, norte-americano que leciona na Universidade de Brasília (UnB), cita o caso da família Daley, que administra Chicago nos últimos 60 anos.
Em outra comparação, ele lembra casos de estados e municípios que recentemente impuseram limites para a reeleição no Poder Legislativo. Foi o que ocorreu nesta década na cidade de Nova Iorque e no estado do Colorado.
"Isso só ocorreu porque as pessoas decidiram mudar por referendo. Tal como no Brasil, os parlamentares de lá jamais criariam regras que pudessem prejudicá-los."
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