Consumidores que se sentem lesados na compra de um produto têm a possibilidade de recorrer ao Procon. No campo eleitoral, há quem gostaria de poder fazer o mesmo. Isso porque parte das medidas adotadas nas últimas semanas de 2014 pela presidente Dilma Rousseff (PT) e pelo governador Beto Richa (PSDB) vai no sentido oposto ao que prometeram na campanha. "O eleitor pode se frustrar, se sentir traído. Mas nós temos de assumir a responsabilidade pelos nossos atos", disse recentemente o líder do governo na Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB). A esses traídos, não há chance de reclamar ao Procon.
Bancos
Em 29 de setembro, Dilma defendeu a política de fomento do BNDES no seu governo e atacou Aécio Neves e Marina Silva, que, segundo ela, estariam propondo a redução de financiamentos por meio dos bancos públicos, o que colocaria em riscos programas governamentais. Ela defendeu ainda que são justamente os bancos públicos, ao desempenhar um papel importante e anticíclico, que permitem investimentos em momentos de crise econômica.
No dia 19 de dezembro, por meio de medida provisória, a presidente endureceu as regras do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que contém linhas para investimentos de empresas. Com isso, a partir de 2015, o BNDES deixará de financiar 100% do bem a ser adquirido. Na maioria das linhas do PSI, o porcentual foi reduzido de 100% para 70% do bem a ser financiado. As taxas de juros também foram elevadas. A medida faz parte da estratégia de reduzir os gastos do Tesouro Nacional em subsídios oferecidos pelo BNDES.
Juros
Nos debates contra Aécio no segundo turno, Dilma afirmou que a inflação está sob controle e que o adversário, se eleito, aumentaria as taxas de juros. A petista ainda atacou a proposta do tucano de reduzir a meta inflacionária para 3% ao ano hoje está em 4,5%. Segundo ela, o atual governo sempre teve o compromisso de combater a inflação. Com 3% de meta inflacionária, o resultado, na análise de Dilma, seria desemprego e elevação dos juros. Três dias depois da vitória de Dilma no segundo turno, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, subiu a taxa básica de juros (Selic) de 11% para 11,25% ao ano, surpreendendo o mercado. Em comunicado, o banco disse que considerou o risco da inflação para aumentar o índice. Em dezembro, o Copom voltou a aumentar a taxa, para 11,75% ao ano, o maior patamar desde agosto de 2011. Além disso, pela primeira vez, relatório divulgado no fim de 2014 pelo Banco Central, ouvindo mais de 100 instituições financeiras, prevê inflação acima do teto da meta em 2015.
Medidas impopulares
Na campanha, Dilma tentou colar em Aécio o rótulo de que o tucano tomaria "medidas impopulares" se fosse eleito.Também centrou fogo na proposta do adversário de promover um ajuste fiscal, o que poderia prejudicar programas sociais. "Não condicionamos nossos programas a medidas impopulares, como ajustes fiscais e choque de gestão", disse a petista. Dilma afirmou ainda que não faria reformas na lei trabalhista que reduzissem direitos dos trabalhadores, "nem que a vaca tussa". Futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy vem anunciado uma série de medidas econômicas como parte justamente de um pacote para assegurar um ajuste nas contas públicas. Ele disse que trabalha com a possibilidade de aumento de impostos, "sempre olhando a compatibilidade com o objetivo de aumentar a taxa de poupança [do governo]". Na última semana do ano, por exemplo, o governo anunciou "correções de distorções" no pagamento de cinco benefícios trabalhistas e previdenciários abono salarial, seguro-desemprego, seguro-defeso, pensão por morte e auxílio-doença.
Caixa do estado
Desde que se lançou à reeleição, Richa disse que, depois de ter colocado a casa em ordem, "o melhor está por vir". Segundo ele, o primeiro mandato apresentou uma série de problemas, como a necessidade de pagamento de dívidas herdadas do governo anterior, no valor de R$ 4,5 bilhões, e dificuldades na liberação de empréstimos. Também foi necessário, nas palavras de Richa, pagar promoções atrasadas a carreiras do funcionalismo; contratar professores e policiais; e garantir aumentos salariais aos servidores. Já o novo secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, não economizou nas críticas às contas estaduais: "[O governo do estado] errou no momento em que gastou mais do que devia". Duro nas palavras, o secretário afirmou que o Executivo paranaense não faz investimentos "porque gasta tudo com a máquina". Costa disse que 2015 será um ano de ajuste e que só em 2016 os frutos começarão a aparecer. Segundo deputados aliados, a situação financeira é "desesperadora".
Impostos
Em julho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acatou um pedido da Copel para aumentar a tarifa de energia elétrica no Paraná em 24,86%, na média. Segundo Richa, desse aumento, apenas 1,6% seria do custo Copel. O restante seria responsabilidade do governo federal, que geriu mal o setor. Ele disse também que autorizar o reajuste às vésperas da eleição foi um ato de responsabilidade como gestor público. Em nenhum momento da campanha, Richa mencionou a possibilidade de majorar impostos. Nos últimos dias de 2014, porém, Richa enviou à Assembleia Legislativa projetos para aumentar a arrecadação. As propostas, que já foram sancionadas, aumentam de 12% para 18% a alíquota do ICMS sobre uma extensa lista de produtos, que pode atingir até 95 mil itens de consumo popular. Também houve elevação de um ponto porcentual na alíquota do ICMS da gasolina e de 40% na do IPVA. Além disso, o governo vai passar a taxar em 11% os aposentados e pensionistas do estado que recebem acima do teto do INSS.
Rebeliões em presídios
Às vésperas do 1.º turno, Richa enfrentou a 20.ª rebelião em penitenciárias do estado num período de apenas 10 meses. Dizendo-se "muito preocupado" com os conflitos, o tucano insinuou ser "muita coincidência" que as rebeliões estivessem ocorrendo em ano eleitoral. Apesar do problema, o governador defendeu o modelo de gestão prisional e argumentou que o governo federal convidou o Paraná a ajudar a controlar a crise carcerária no Maranhão. Mesmo com a eleição encerrada, as rebeliões no Paraná seguiram ocorrendo, totalizando 24 conflitos apenas no último ano do primeiro mandato. Além disso, contrariando o próprio discurso de bom desempenho da gestão prisional, nos últimos dias de 2014 Richa tirou o controle do sistema penitenciário da Secretaria da Justiça e passou às mãos da pasta da Segurança Pública. E, como medida mais drástica, anunciou que o governo estuda criar um presídio de segurança máxima para isolar o crime organizado, que comandaria as rebeliões.
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