Na primeira vez em que falou publicamente sobre o acidente envolvendo o deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho (PSB), o promotor de Justiça Rodrigo Chemim afirmou que depoimentos de testemunhas e provas materiais não deixam dúvidas de que o parlamentar dirigia em alta velocidade e apresentava sinais evidentes de embriaguez. Segundo ele, que foi designado pelo Ministério Público para acompanhar as investigações, imagens das câmeras de segurança de um posto de gasolina registraram o momento em que o carro do deputado se chocou com o Honda Fit no qual estavam os dois rapazes que morreram , que vinha em baixa velocidade após fazer uma curva. A gravação ainda descarta qualquer possibilidade de que um racha estivesse sendo disputado.
Até ontem, nove testemunhas tinham sido ouvidas. Segundo os garçons que serviram Carli Filho no restaurante no qual ele esteve poucas horas antes do acidente, o parlamentar jantou com o tio e também deputado estadual Plauto Miró (DEM) e, em seguida, se juntou a um grupo de amigos que estava em outra mesa. Até o momento em que deixou o estabelecimento, Carli Filho bebeu quatro garrafas de vinho não se sabe se sozinho ou com os amigos e demonstrava estar embriagado. Depoimentos dos policiais militares que atenderam o acidente e o relatório emitido pelo Siate também apontam a embriaguez do deputado.
Para ter uma prova material a partir de exames de dosagem alcoólica, o promotor disse que o Hospital Evangélico garantiu que ainda guarda amostras de sangue do parlamentar colhidas no dia do acidente. No entanto, Chemin revelou que o Instituto Médico Legal é quem irá determinar se o material ainda tem condições de ser analisado. "Independentemente disso, as testemunhas já são uma prova que confirma a embriaguez", declarou.
Testemunha
Uma moradora da região e o motorista de um carro que vinha logo atrás do Honda Fit viram o acidente e afirmaram que o deputado dirigia em alta velocidade. Essa última testemunha disse também que o carro de Ribas Carli saiu do solo antes de bater no outro veículo. "As imagens do posto de gasolina são de baixa qualidade para termos detalhes da batida", informou o promotor. "Mas todas as evidências deixam claro que o deputado estava embriagado e dirigindo em velocidade excessiva." De acordo com Chemin, a perícia constatou que o velocímetro do Passat dirigido por Carli Filho está zerado e, por isso, ele segue atrás de informações técnicas que possam confirmar a velocidade desempenhada pelo deputado no momento do acidente. Em relação ao histórico de multas do parlamentar, ele disse que as infrações não têm influência direta nas investigações, mas podem pesar numa eventual condenação.
O promotor declarou que as imagens dos radares próximos ao local da colisão não indicam que o parlamentar tenha passado pela Rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi pouco antes da batida. "Já solicitei à Urbs um tempo maior de gravações, já que aquele é o caminho por qual necessariamente o deputado passou até a colisão", disse.
Chemin não estipulou prazo para a conclusão do caso. Segundo ele, o inquérito está em estágio avançado, porém mais testemunhas serão ouvidas e novos documentos serão anexados ao processo entre eles, o laudo do Instituto de Criminalística, que deve ficar pronto em até 20 dias. "Ainda não podemos fazer nenhum juízo de valor definitivo, mas não há dúvida de que se trata de um crime grave, uma verdadeira tragédia."
O promotor revelou ainda que nenhum advogado se apresentou em nome de Ribas Carli para ter informações sobre o inquérito.
No acidente que aconteceu no último dia 7 de maio, em Curitiba, morreram Gilmar Rafael Souza Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20.
Sangue
O Ministério Público entrou em contato ontem com o Hemobanco, que atende o Hospital Evangélico, para ter acesso a uma amostra de sangue do deputado Carli Filho. Esse material teria sido colhido no momento em que o parlamentar deu entrada no pronto-socorro do hospital, na madrugada de quinta-feira. O banco de sangue aguarda a apresentação de uma ordem judicial para liberar a mostra.
Segundo o diretor técnico do Hemobanco, Paulo Tadeu Rodrigues, é armazenada uma amostra de sangue por dez dias de todas as pessoas que recebem transfusão. O material é guardado em geladeira e não é adicionada nenhuma substância na amostra, afirma Rodrigues. O diretor técnico do Hemobanco não soube precisar, porém, se depois de tanto tempo ainda poderão ser detectados possíveis vestígios de álcool no material
Segundo o psiquiatra Luiz Fernando Carazzai, especialista em drogas e álcool do Hospital de Clínicas de Curitiba, se não foi adicionada nenhuma substância ao sangue e se ele foi conservado de maneira adequada, o exame de dosagem alcoólica ainda é possível.
Colaborou Caroline Olinda
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