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O coordenador da Promotoria de Investigação Criminal (PIC), Paulo Kessler, garantiu que a apuração feita pelo órgão aponta quem é o cliente do policial civil Délcio Rasera, preso desde setembro por realização de escutas telefônicas ilegais. "Temos indícios. E um indício é um princípio de prova", afirmou ontem, durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do grampo. Ele foi a primeira pessoa a ser ouvida pelos deputados estaduais que integram a comissão. O procurador Dartagnan Cadilhe Abilhôa, também convocado para falar na Assembléia Legislativa, não compareceu.

A declaração sobre quem seria "patrão" de Rasera foi a única relevante sobre o caso, que está sendo julgado no Fórum de Campo Largo. Kessler negou-se a responder as demais perguntas objetivas sobre o investigador. Quando foi preso, o policial ocupava o cargo de assessor especial da Casa Civil, no Palácio Iguaçu. Entre outros serviços, teria sido o responsável por grampear o superintendente do Porto de Paranaguá, Eduardo Requião, a pedido do seu irmão e governador, Roberto Requião (PMDB).

"Acho que uma das coisas mais importantes desse primeiro depoimento é que o promotor deu a entender que tem a certeza de quem eram os responsáveis pelos grampos. Ele está muito seguro disso, apesar de ter preferido não dizer quem era", disse o relator da CPI, Jocelito Canto (PTB). Apesar disso, o deputado preferiu não indicar um possível envolvimento do governo do estado. "O jogo está apenas começando, estamos nos cinco minutos do primeiro tempo."

Kessler também afirmou que a PIC não foi responsável por vazar CDs com escutas ilegais para a imprensa, durante a campanha eleitoral deste ano. Segundo ele, o material que chegou de maneira anônima a vários jornais – incluindo a Gazeta do Povo – parece pertencer ao mesmo lote do que foi apreendido com Rasera. "Será que isso tinha algo de realmente importante depois de todo o trabalho que tivemos?", diz o coordenador. Por outro lado, admitiu que em uma oportunidade um funcionário do órgão teria feito um grampo ilegal.

Em 2003, um policial civil identificado apenas como "Cavalo", um entre outros 47 que na época trabalhavam para a PIC, teria feito escutas sem ordem judicial a pedido de um outro colega investigador, Mauro Castro. Castro morreu no início do ano passado, em circunstâncias desconhecidas. Ele estava envolvido no grampo do juiz federal Sérgio Moro. O caso ganhou projeção nacional e provocou a prisão do advogado Roberto Bertholdo. Kessler garantiu que, além desse, nunca houve outro caso comprovado de irregularidade nas escutas feitas pela promotoria.

Outro assunto tratado durante o depoimento foi o "Caso Mexicano", que envolve o policial civil Ricardo Abilhôa, filho do procurador Dartagnan Abilhôa, que também é ex-coordenador da PIC. Kessler disse só saber das informações pela imprensa e classificou o tema como "campanha de bastidor", na qual estaria se tentando atingir a credibilidade da promotoria. Segundo investigação da Polícia Federal, Ricardo teria participado de um esquema milionário de extorsão do traficante mexicano Lucio Rueda-Bustos, preso no dia 20 de julho deste ano em São Paulo. Dartagnan não justificou o motivo da sua ausência. De acordo com o Ministério Público, ele está de licença-prêmio até o fim do ano.

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