A promotora de Justiça Daniela Thomé, vítima de escuta telefônica ilegal que teria sido feita pelo policial civil Délcio Augusto Rasera, vai entrar com uma ação civil indenizatória contra o governo do Paraná por danos morais. Ela alega que o policial era de responsabilidade do estado na época em que teria executado o grampo. Quando foi preso, no dia 5 de setembro, Rasera estava cedido à Casa Civil e se apresentava como assessor especial do governador Roberto Requião.
"Ela, como vítima, tem esse direito. A minha cliente é promotora de Justiça e não pode se tornar refém do medo nem correr o risco de que haja novos grampos em telefonemas dela", afirmou René Dotti, advogado de Daniela. "Ela precisa ter liberdade para exercer sua função. E como ele (Rasera) é funcionário do governo, o estado tem de ser responsabilizado", disse Dotti.
O advogado classificou o sistema de escutas clandestinas, que estourou durante a campanha eleitoral, como "epidemia do medo". "As pessoas que participaram desse esquema de grampos no Paraná são agentes que semearam a epidemia do medo no estado. O crime organizado e um estado desorganizado são vasos comunicantes do terror e da insegurança", disse.
René Dotti esteve ontem no fórum de São José dos Pinhais para acompanhar o depoimento de duas testemunhas de defesa do caso Rasera. Uma das testemunhas era Alberto Lepaski, o mesmo que acompanhou Rasera quando ele se reapresentou ao juiz Gaspar Luiz Mattos de Araújo Filho, em Campo Largo, na última sexta-feira. O policial havia sido solto antes do Natal por um erro do sistema Judiciário.
Também depôs ontem o técnico em telefonia Edílson Araújo, que defende o profissional da área Mauro Fabrin, que tinha acesso ao banco de dados e aos cadastros de uma empresa de telefonia.
Deveria ter sido ouvido ainda ontem Luís Ernesto Souza Leite, testemunha de defesa de João Formighieri, diretor-presidente da Imprensa Oficial do Paraná, cujo nome esteve ligado ao de Rasera. Durante a prisão do policial, houve apreensão de material do investigador no órgão estatal. Souza Leite, no entanto, não compareceu para prestar depoimento. A alegação é a de que ele estava viajando e não teria sido intimado.
René Dotti afirmou que vai pedir ao juiz Romero Tadeu Machado que marque rapidamente uma nova data para o depoimento da defesa de Formighieri. Segundo o advogado da promotora Daniela Thomé, a importância desse testemunho se deve ao fato de "estarem criando uma versão fantasiosa para os grampos feitas contra sua cliente".
De acordo com ele, testemunhas de defesa estão dizendo que a pessoa grampeada seria uma homônima da promotora. "Estão querendo estabelecer um desvio de acusação. Mas não acreditamos nessa história, já que houve mais de um grampo contra minha cliente e há evidências de que ela foi vítima", disse o advogado. "A versão que estão apresentando é ingênua, que cai com a menor evidência", analisou René Dotti.
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