Em petição encaminhada à Justiça, os advogados do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, um dos delatores do esquema de corrupção da Petrobras, afirmaram que o dinheiro desviado para o pagamento de propina vinha da margem de lucro das construtoras. Costa já havia declarado em delação que empresas embutiam cerca de 3% do valor das obras para “gerarem um excedente de recursos a serem repassados aos políticos”.
“Se uma empresa oferecia uma proposta de 15% acima do orçamento básico e repassava os 3% ela ficava com lucro de 12%”, explica a petição subscrita pelo advogado João Mestieri.
O ex-diretor afirma ainda, através dos seus advogados, que “não se pode dizer que houve sobrepreço” nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e na Refinaria de Araucária, no Paraná.
O objetivo do defensor é evitar qualquer interpretação equivocada da tabela reproduzida pelo Ministério Público Federal na denúncia que originou um dos processos da Lava Jato. Na tabela, o MPF mostra preços praticados em obras acima do previsto originalmente para cada uma delas, mas dentro dos 20% a mais que eram aceitos, em geral, pela Petrobras.
O documento diz ainda que Costa “reafirma e ratifica cada um de todos os pontos de sua delação premiada”. As afirmações estão na defesa prévia que os advogados de Paulo Roberto Costa encaminharam ao juiz federal Sérgio Moro relativo a penúltima fase da operação Lava Jato, deflagrada no mês passado, que colocou no banco dos réus o tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o ex-diretor de Serviços, Renato Duque.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) investigam supostos desvios de recursos públicos em obras dos gasodutos Pilar-Ipojuca e Urucu-Coari, e nas refinarias.
Em Curitiba, durante a apresentação da 11ª fase da Operação Lava Jato, nesta sexta-feira, um dos procuradores, Carlos Fernando dos Santos Lima, negou que a petição represente uma reviravolta em pelo menos uma das teses da acusação da Lava Jato: a de superfaturamento nas obras de refinarias da estatal.
“Eu acompanho esse caso desde as primeiras conversas que a gente manteve com o Paulo Roberto. Ele nunca admitiu o superfaturamento, ele sempre admitiu que a Petrobras compunha o preço de forma justa. Mas o sobrepreço acontece por conta do cartel que ele permitia, de um lucro exacerbado que as empresas, empreiteiras conseguiam junto a Petrobras. Então, 3% para cada empreiteira é custo, ele vai repassar na proposta“, disse o procurador.
Carlos dos Santos Lima declarou ainda que “me parece que o Paulo Roberto está tentando se proteger um pouco”, mas o procurador reafirmou que, na verdade, esses 3% repassados para a “Casa, como eles chamam a Petrobras” é custo que saía dos cofres da Petrobras “de qualquer maneira”, segundo o procurador.
Indagado se a petição muda a delação de Paulo Roberto Costa, o procurador foi taxativo: “não muda nada”.
Deixe sua opinião