Ao contrário de outras votações na Câmara, quando uma maioria dentro do quórum determinado é suficiente, o impeachment tem regras especiais. Para aprovar o processo contra a presidente Dilma Rousseff, são necessários os votos de dois terços da Câmara – independentemente do número de deputados presentes na sessão. Assim, a oposição corre atrás de 342 deputados – e o governo, por outro lado, precisa da lealdade de apenas 172 para evitar o processo.
Nas contas do governo, no momento, este número é relativamente fácil de ser alcançado. Partidos considerados apoios sólidos contra o impeachment, incluindo o próprio PT, possuem 100 deputados. Outros 216 estão em legendas que hoje contam com ministérios, mas não têm coesão interna o suficiente para garantir um voto fechado. Se apenas um terço deles votasse contra o impeachment, ou simplesmente não comparecesse à sessão, a vitória do governo seria garantida.
No pior momento, Dilma enfrenta nova manifestação contra o seu governo
Leia a matéria completaPara Luiz Domingos Costa, cientista político da Uninter, as manifestações, dependendo do tamanho, podem ajudar a corroer essa vantagem governista, assim como movimentos futuros da Operação Lava Jato. Entretanto, não deve ser a “martelada final”.
Além disso, a pressão popular será um impulso para a oposição tomar as rédeas do processo, iniciado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “A presença de Cunha à frente desse processo deslegitima o impeachment para parte da opinião pública”, afirma.
Senado “dilmista”
Já o cientista político Leonardo Barreto, doutor pela UnB, avalia que há um fator mais importante que a manifestação popular, que é a posição do Senado. Ainda que o impeachment seja aprovado pela Câmara, cabe aos senadores a decisão final. E, na atual conjuntura, o Senado tende a ser mais “dilmista” do que a Câmara.
Barreto lembra que os votos que a oposição precisa são da base governista, deputados que dependem politicamente do governo ou de lideranças partidárias ligadas ao Planalto. “Se eles votam abertamente pelo impeachment, podem ficar com as ‘tripas expostas’ por nada, caso o Senado vote contra. O deputado não tem uma garantia de que o voto dele vai ser decisivo”, diz.
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