Em reunião tensa com a cúpula da Polícia Federal, no dia 14 de julho, em São Paulo, o delegado federal Protógenes Queiroz, responsável pela execução da Operação Satiagraha , disse que não revelou aos superiores a decisão judicial que determinou a prisão dos suspeitos, incluindo o banqueiro Daniel Dantas, por temer que um vazamento favorecesse os acusados. No mesmo encontro, outro delegado da operação, Carlos Eduardo Pelegrini Magro, contou que havia um acordo da equipe de Protógenes com o juiz do caso, Fausto de Sanctis, para manter segredo até o momento da prisão.
- Não podíamos tomar a atitude (exibir a decisão aos superiores antes das prisões). Havia um compromisso com o juiz. Era uma operação altamente sensível, envolvendo altos escalões dos três poderes. Estávamos entre a cruz e a espada - alegou Pelegrini.
- Se fôssemos surpreendidos com HC (habeas corpus a favor dos acusados) no dia seguinte (dia da operação), com cópia da decisão, acredito que o Departamento de Polícia Federal ficaria em maus lençóis. E o juiz nunca iria acreditar que não fomos nós que tínhamos repassado a cópia. Foi para preservar o Departamento de Polícia Federal - completou Protógenes.
A reunião de três horas, cuja gravação, na íntegra, foi obtida pelo GLOBO, expõe a irritação da cúpula da PF com os procedimentos da equipe de Protógenes e a indignação do delegado da Satiagraha com as críticas aos métodos usados na investigação.
Até então, a PF só havia divulgado trechos mais amenos da conversa, entre os quais elogios de Protógenes ao suposto apoio recebido dos superiores e explicações sobre o seu afastamento do caso.
Além de Protógenes e Pelegrini, também participou da reunião a delegada Karina Murakami Souza. Pela cúpula da PF, estavam o diretor de combate ao crime organizado da PF de Brasília, Roberto Troncon Filho, e o superintendente em São Paulo, Leandro Coimbra - este, o mais irritado do encontro, por não ter sido avisado sobre as prisões em sua jurisdição e pelo vazamento para a Rede Globo.
- Não tem como explicar como a TV Globo chegou antes. Não tenho como evitar o inquérito. É muito feio que a imprensa chegue antes - diz Coimbra.
Por mais de uma vez, Protógenes reclama das críticas de jornalistas à operação - fala em "imprensa sem-vergonha" - e das investigações internas sobre a sua conduta no caso. Chega a insinuar que, se o inquérito fosse adiante, teria revelações a fazer sobre os bastidores do caso:
- Houve óbices para que a operação não saísse.
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