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Em carta a Dilma, Eduardo Campos fala em desapego

Em uma carta de duas páginas destinada à presidente Dilma Rousseff, o presidente do PSB, Eduardo Campos, formalizou à petista o desembarque de seu partido do governo. No documento, o governador de Pernambuco ressaltou não que a legenda não tem apego a cargos nem é fisiológico.

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O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB), deverá se encontrar com a presidente Dilma Rousseff ainda na noite desta quarta (18) para conversar sobre a entrega de seu cargo. Bezerra, que faria também nesta quarta uma cirurgia no olho direito, desmarcou a operação para participar da reunião do partido em Brasília.

Defensor da aliança entre PT e PSB, no entanto, o ministro resolveu seguir a orientação de seu partido. À tarde foi para o ministério, onde aguardava até o início da noite ser chamado pela presidente Dilma. Ele fez questão de se despedir pessoalmente dela. Bezerra pretende ficar no cargo até que seu substituto assuma a vaga.

Quando a relação entre PT e PSB começou a azedar, Bezerra tornou-se o principal companheiro de viagens de Dilma. A presidente demonstrava afeição pelo pernambucano de Petrolina em temas extraoficiais. Nesta noite, a assessoria do ministro publicou um texto de despedida nas redes sociais de Bezerra. "Só tenho a dizer que fiquei muito honrado em ter recebido a confiança do partido e o apoio da presidenta Dilma Rousseff para servir ao Brasil como ministro da Integração Nacional", afirmou o ministro no texto."Ter ficado a frente do Ministério da Integração Nacional foi uma experiência de muito trabalho e de muita dedicação", afirmou.

No ministério, Fernando Bezerra comandou uma das principais obras do governo federal, a transposição do rio São Francisco, e enfrentou uma série de desastres naturais, como fortes chuvas no Rio de Janeiro e a maior seca dos últimos 50 anos no Nordeste.O ministro já apresentou seu nome ao PSB para disputar o governo de Pernambuco, mas não tem qualquer garantia nesse sentido do governador Eduardo Campos. Em 2010, Fernando Bezerra quis concorrer ao Senado, mas não recebeu o aval de Campos. Em 2012, para pressionar o PT, obedeceu o governador e mudou seu domicílio eleitoral para o Recife, mas não foi escolhido para disputar a prefeitura da capital.

O ministro já foi prefeito de Petrolina, deputado estadual e federal e secretário de Campos. Já passou por quatro partidos (PDS, PFL, PMDB e PPS) em sua trajetória, além do PSB.

O PSB decidiu nesta quarta-feira (18) deixar o governo da presidente Dilma Rousseff, e o presidente da legenda, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, disse que o desejo atual dos socialistas é de ter uma candidatura própria à Presidência no ano que vem. "O desejo hoje do partido é pela candidatura própria", afirmou Campos a jornalistas após reunião da Executiva Nacional, em Brasília em que a saída do governo foi decidida.

O governador, apontado como provável candidato ao Palácio do Planalto, ressalvou, no entanto, que uma decisão sobre candidatura própria só será tomada em 2014 e que a saída do governo deixa o partido à vontade para debater essa possibilidade. "Vou comunicar nos próximos momentos a presidenta Dilma que nós estamos deixando o governo e entregando as funções que ocupamos", disse Campos.

O PSB comanda no governo federal o Ministério da Integração Nacional e a Secretaria Especial de Portos. Campos declarou que a votação pela saída do governo foi quase unânime --apenas o governador do Ceará, Cid Gomes, se absteve, enquanto Leônidas Cristino, ministro dos Portos, não compareceu.

O líder do partido na Câmara, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), disse que "a partir de agora o governo está autorizado a demitir todo mundo que tenha sido indicado pelo PSB". Segundo ele, integrantes do partido sentiram-se "constrangidos" com a pressão exercida por setores do PT e de outros aliados do governo Dilma para que a presidente tomasse os cargos dos socialistas, uma vez que o presidente nacional da sigla e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, se movimenta para uma eventual candidatura à Presidência da República em 2014.

"Nós queremos ficar livres, soberanos, independentes", disse o deputado. "É uma decisão madura de um partido que quer discutir livremente a sua candidatura." De acordo o líder, o partido apoiará o governo nos temas que considerar adequado em votações no Congresso.

Lula

A saída do governo já havia sido acertada nesta terça-feira (17), quando o governador de Pernambuco desembarcou em Brasília. À noite, ele comunicou a decisão a Lula, que ainda tentava articular a manutenção do PSB e de Campos na órbita do governo federal.

Um dos principais aliados do governo Dilma dentro do PSB, o governador Cid Gomes (CE), presente na reunião da Executiva, manifestou oposição à ruptura, que disse considerar "intempestiva" nesse momento, mas, segundo relatos, afirmou que "assinava embaixo" a entrega de cargos caso essa fosse o entendimento da maioria da legenda. A Bahia também se declarou contrária à saída do governo.

O clima entre o PT e o PSB já não era dos melhores havia algum tempo. Na semana passada, Dilma e os integrantes de seu conselho político informal chegaram a discutir a expulsão do PSB da Esplanada, mas Lula acabou conseguindo barrar essa movimentação. Antes Dilma já havia comentado com assessores ter sido uma provocação a foto em que Eduardo Campos aparece, sorrindo, ao lado do oposicionista Aécio Neves (PSDB-MG), outro virtual candidato à Presidência em 2014.

Na reunião, vários socialistas criticaram o ministro Aloizio Mercadante (Educação), apontado com o interlocutor de Dilma nas ameaças de expulsar o PSB da Esplanada dos Ministérios. Indicado por Campos para o cargo, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, estava na reunião e deve deixar o cargo. Leônidas Cristino (Portos), afilhado de Cid Gomes (PSB-CE), está em viagem ao exterior, mas Cid afirmou no encontro que ele também deve sair.

Nono partido da Câmara dos Deputados, com 25 cadeiras, e oitavo no Senado, com 4 vagas, o PSB diz agora que discutirá o apoio do partido ao governo no Congresso caso a caso, em uma posição de independência. "Não vamos ser oposição radical, esse nunca foi o nosso papel", afirmou Beto Albuquerque.

Nos últimos tempos, porém, a posição da legenda já tem sido mais na linha da independência. Na noite de ontem, por exemplo, o partido de Eduardo Campos liberou sua bancada a votar como quisesse na análise do veto da presidente Dilma ao fim da multa de 10% sobre o FGTS pago pelos empregadores ao governo em caso de demissão sem justa causa. O veto acabou sendo mantido pelo Congresso.

Apesar do discurso de independência, o clima na reunião foi de muitas críticas ao PT e a Dilma. "Ela [Dilma] é uma excelente figura humana, mas é uma péssima política. Ela era é a tal gestora, mas tal gestora está vendo que gestão política, uma coisa não bate com a outra. Mas é até injusto cobrar dela. É aquela coisa, bananeira não dá laranja", disse o deputado federal Márcio França (SP). De acordo com a última pesquisa do Datafolha, Campos tem 8% das intenções de voto no cenário mais provável hoje, contra 35% de Dilma.

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