Em resposta à pressão do Palácio do Planalto, o PSB planeja anunciar nesta quarta-feira (18) que entregará seus cargos no governo federal. A decisão será oficializada em reunião da executiva do partido, convocada em caráter emergencial. Ainda não há consenso sobre o apoio da legenda à presidente Dilma Rousseff, mas existe uma tendência majoritária no comando partidário a manter a aliança nacional com o PT pelo menos até março de 2014, quando decidirá se o governador Eduardo Campos (PE) será, de fato, candidato ao Palácio do Planalto. O partido comanda o Ministério da Integração Nacional e a Secretaria Especial de Portos.

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Presidente do PSB, Campos está operando para que não haja rompimento agora, apenas a devolução de cargos. O partido tem os ministérios da Integração Nacional e a secretaria de Portos, além de vagas em estatais. A interlocutores, o pernambucano disse que está trabalhando para manter a aliança em solidariedade ao ex-presidente Lula, de quem é amigo.

A entrega dos cargos não estava no horizonte do partido até o último sábado, mas teve de entrar na agenda por pressão de parte de seus membros após ameaças veladas na imprensa de que Dilma tiraria os cargos de Campos. Os motivos da decisão foram explicitados nesta terça (17) pelo presidente do PSB e possível candidato a presidente nas eleições de 2014. "Os cargos nunca precederam nem orientaram a aliança que fizemos há mais de dez anos com a frente política que está no poder", disse Eduardo Campos. "Nossa relação com os governos de Lula e de Dilma sempre foi de apoio desinteressado", completou o governador de Pernambuco.

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Conforme o jornal O Estado de S. Paulo noticiou na quinta-feira (12), Dilma tinha decidido demitir os ministros do PSB, levando em conta queixas feitas por partidos aliados do Nordeste de uma posição ambígua de Campos. A despeito de integrar a base aliada com postos importantes como o Ministério da Integração Nacional e a Secretaria Especial de Portos, articulava candidatura presidencial contra a petista. Mas na sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a convenceu a recuar. Lula acha que ainda é possível dobrar Campos e adiar a candidatura para 2018.

Entretanto, a direção do PSB sentiu-se constrangida com a situação e nesta terça, durante almoço, Campos defendeu a entrega dos cargos. O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), disse que "o partido está constrangido com as ameaças que vêm sendo feitas por intermédio dos jornais. Nós nunca brigamos por cargos". Integrantes do PSB lembraram que, em janeiro de 2012, o ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional) procurou Dilma e falou da decisão de sair. Mas ela não aceitou a demissão. O PSB então divulgou nota dizendo que permanecia no governo, mas não por causa dos cargos.

Apesar da saída, a decisão a ser manifestada nesta quarta não significará o anúncio da candidatura de Eduardo Campos à sucessão presidencial. "A decisão sobre o debate sucessório só ocorrerá em 2014. Essa é uma decisão tomada pelo partido lá atrás e será cumprida", declarou Campos. Ele tentou empurrar a decisão de devolver os cargos para o ano que vem. Mas durante o almoço desta terça com a cúpula do PSB foi convencido a convocar a reunião extraordinária da Executiva para esta quarta para o anúncio oficial.

Cid Gomes

No encontro, também haverá uma tentativa de forçar o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), a obedecer o que for decidido pela Executiva. Como ele é favorável a que o partido permaneça no governo, terá de seguir a decisão que for tomada.

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Sabe-se que Cid, ao tomar conhecimento de que poderia haver o rompimento com o governo e a consequente entrega dos cargos, planejou filiar o ministro Leonidas Cristino (Portos) no PROS, partido que está sendo criado. Mas agora poderá ficar de mãos amarradas. A não ser que deixe o PSB, o que pode ocorrer. Cid Gomes negocia também a filiação de alguns aliados no Solidariedade, o partido que o deputado Paulinho da Força (PDT-SP) está criando.

A executiva do PSB deverá decidir ainda que o partido não tomará nenhum cargo do PT ou de outros aliados que façam parte da equipe de governos socialistas. Campos disse, por exemplo, que não vai fazer nenhuma mudança em seu secretariado por causa da decisão do partido. Chegou a comentar que Dilma pode contar com o apoio da legenda no Congresso.