PSDB e DEM decidiram nesta segunda-feira que vão apresentar uma nova representação contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), agora para investigar a denúncia de que ele teria tentado montar um esquema de espionagem contra os senadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Demóstenes Torres (DEM-GO). Será a quinta investigação contra o presidente do Senado.
O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que toda a Casa está contra Renan:
- Não dá mais, o Senado virou um centro de patifaria e canalhice. A Casa já se voltou contra Renan - afirmou.
O presidente do PSDB disse que vai convidar o PT para participar do movimento contra Renan. Caso o partido não dê seu apoio, terá que assumir o ônus de ficar ao lado do presidente do Senado, segundo o tucano.
- Será o fim da governabilidade. (Se não participar), o PT será sócio-proprietário da patifaria - disse Tasso.
Mais cedo, o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), dissera que o partido considerava insuficiente a notaem que Renan nega envolvimento no suposto esquema de espionagem, mas que pretendia aguardar um pronunciamento dele com mais explicações antes de decidir pela representação. Só que à noite Demóstenes Torres confirmou que o partido também iria entrar com uma representação.
Irritado com o que classifica como omissão do Conselho de Ética com os processos contra Renan, Demóstenes cogitou ainda entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Procuradoria-Geral da República contra o presidente do Senado. Ele criticou a reação de Renan à nova denúncia:
- Isso não é normal. O que me chama a atenção é que não há qualquer demonstração da parte de Renan de que ele tenha se assustado com isso. Quando alguém toma conhecimento de que houve alguma coisa errada, se ele tenta protegê-lo, é porque há uma conexão - disse o senador do DEM.
Na nota, Renan nega as denúncias e afirma que a espionagem não faz parte de seu caráter. "Eu sim tive a vida devassada e não recorreria a indignidades como as que me foram falsamente atribuídas", diz o presidente do Senado no comunicado.
A denúncia foi antecipada pelo Blog do Noblat e publicada na edição desta semana da revista "Veja". Senadores de oposição dizem que esse não é um fato isolado. Para eles, é parte de uma estratégia que Renan estaria montando para chantagear seus opositores.
Para o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), está provada a participação do ex-senador Francisco Escórcio, assessor do presidente do Senado, numa trama para espionar ilegalmente adversários políticos. Escórcio negou qualquer envolvimento no suposto esquema.
Demóstenes afirmou ainda que, na semana passada, Escórcio chegou a sentar na sua mesa, durante almoço no restaurante do Senado, para contar que esteve em Goiânia para se encontrar com o advogado Heli Dourado.
- É uma pessoa incoveniente, incômoda. É um cara que mata e vai ao enterro - brincou.
O senador afirmou que sabe das denúncias desde o dia 28 de setembro, quando o ex-deputado Pedro Abrão, que teria sido abordado por Escórcio para ajudar na espionagem, resolveu relatar a Demóstenes o ocorrido. O parlamentar disse que não divulgou o suposto esquema por falta de provas. Ele questiona ainda a existência de várias versões para os encontros de Escórcio com advogados:
- Se o encontro fosse republicano, por que tantas versões?
O corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), já anunciou que vai abrir investigação preliminar para apurar o caso.
- Se for comprovada a denúncia, é intolerável espionagem contra um senador e inconcebível a violação da intimidade de qualquer pessoa. É assustadora a velocidade com que denúncias atingem o Senado. Todas devem ser apuradas com rigor - declarou Tuma, em visita ao Uruguai, referindo-se também a outra denúncia da "Veja", de que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) seria o controlador de duas emissoras por meio de laranjas.
Assessor diz que denúncia é invenção para incriminar Renan
Em viagem a Goiânia no dia 24 de setembro, Escórcio teria tentado cooptar o apoio do empresário e ex-deputado goiano Pedrinho Abrão. O plano era instalar câmeras no hangar de táxi aéreo de Abrão para flagrar os dois senadores embarcando em jatinhos particulares e, posteriormente, usar o material para chantageá-los e baixar assim o tom das críticas ao presidente da Casa. Depois de recusar a proposta, Abrão teria procurado Demóstenes e Perillo para alertá-los sobre a ação de arapongas a mando de Renan.
Nesta segunda, Escórcio divulgou nota para negar as denúncias. Ele rebate afirmação de que teria se reunido no último dia 24 de setembro, em Goiânia, com os advogados Wilson Azevedo e Heli Dourado para tratar de estratégias das chantagens:
"O objetivo da viagem foi o de reunir-me com o advogado patrono da causa de minha coligação partidária contra a diplomação do governador do Maranhão (Jackson Lago, do PDT), e obter cópia de alguns documentos que me foram solicitados por uma televisão desejosa de fazer uma matéria a esse respeito. Só estive nesse logal e de lá regressei, jamais visitando qualquer hangar de táxi aéreo", diz o ex-senador.
Escórcio insiste que não tratou no encontro de assuntos de interesse de Renan:
"No escritório do advogado, encontrei-me com meu velho amigo ex-deputado Pedro Abrão, com quem sempre tive estreita relação. Desde o tempo em que fui secretário-executivo do Ministério da Integração, então ocupado pelo saudoso senador Alexandre Costa. No nosso encontro não constou qualquer sugestão de obter informações sobre senadores de Goiás, nem examinado o caso do presidente do Senado, Renan Calheiros", afirma o assessor, ressaltando ainda que é "amigo pessoal" de Demóstenes.
Azevedo e Heli Dourado também divulgaram notas negando participação no esquema. Azevedo diz que só se encontrou com Escórcio em Brasília e no Maranhão, nunca em Goiânia. Diz ainda que faz mais de cinco anos que não vê o ex-deputado Pedrinho Abraão. Já Heli Dourado afirma que não acompanhou a conversa entre Abrão e Escórcio, e que apenas telefonou para o ex-deputado a pedido do ex-senador.
Jarbas Vasconcelos vai iniciar cruzada contra Renan
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) subiu à tribuna nesta segunda-feira para acusar o presidente do Senado por seu afastamento da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Jarbas disse que Renan está levando o Senado para a "sarjeta" e que cometeu uma agressão contra o Senado, e não apenas contra ele e Pedro Simon (PMDB-RS).
- Numa Casa que se encontra tão degradada como o Senado nos dias atuais, ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de se surpreender com essas medidas pequenas e tacanhas. É injusto, profundamente injusto, atribuir isso apenas a uma questão do PMDB, da liderança do PMDB, que não tem dimensão para tal. A medida foi tomada pelo presidente, o que senta nessa cadeira que V. Exª está sentado, o sr. Renan Calheiros, que tem levado esta Casa à sarjeta -discursou Jarbas, dirigindo-se a Tião Viana (PT-AC), que presidia a sessão.
Aliado de Renan será relator de denúncia contra propina
Na quinta-feira, o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), anunciou que o senador Almeida Lima (PMDB-SE), integrante da tropa renanzista, será relator da representação que o presidente do Senado responde por envolvimento em suposto esquema de propinas para desviar recursos dos ministérios comandados pelo PMDB.
Já o senador João Vicente Claudinho (PTB-PI) é um dos cotados para relatar o processo que investiga a denúncia de que Renan teria usado laranjas para comprar veículos de comunicação em Alagoas, mas está relutando em aceitar o convite.
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