Depois do aval do governador paulista José Serra às prévias reivindicadas pelo colega de Minas Gerais, Aécio Neves, a cúpula do PSDB concluiu que o maior desafio do partido hoje é organizar a oposição, e não a consulta interna para escolher o candidato a presidente em 2010. "O que nós precisamos é aprender a fazer oposição. Temos sido um fracasso nesse quesito", confessa o presidente nacional da legenda, senador Sérgio Guerra (PE).
Preocupados com o prestígio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não para de crescer, e com o aumento da popularidade da candidata petista ao Planalto, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), os tucanos avaliam que, para retomar o poder, será preciso dar foco e eficiência máxima à oposição. A estratégia, já em curso, é profissionalizar a atuação dos tucanos a partir de uma agenda temática consistente e uma análise crítica de cada setor do governo, orientada por especialistas e por pesquisas de opinião.
Para formular a agenda oposicionista e municiar a tropa com a artilharia de argumentos que vão combater o PT e o governo Lula em várias frentes, sobretudo no Congresso, o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES) está coordenando a montagem de um grupo no Rio de Janeiro. Um dos primeiros itens da pauta da oposição será "abrir a caixa-preta da Petrobras". "A maior estatal do país sempre foi impenetrável. Vamos cobrar transparência, saber se a empresa está atuando de maneira eficiente, se está gastando demais e se a direção não está muito partidarizada", anuncia o presidente do partido.
Vellozo Lucas chama a atenção para a questão de pessoal. Lembra que, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a Petrobras tinha 45 mil funcionários concursados e cerca de 100 mil terceirizados. "Na era petista, já são 85 mil crachás verdes (concursados), e o número de terceirizados triplicou, chegando a 300 mil", afirma o deputado. Segundo ele, a diferença maior é que no período de FHC, a produção de petróleo cresceu a uma média anual de 10% e agora não passa de 3%.
"É por essas e outras que, antes de tratar de prévias, temos de discutir o legado do governo Lula e o que o PSDB, vencendo as eleições, terá de pegar pela frente", emenda o deputado federal Edson Aparecido (PSDB-SP). Ele também entende que o partido perdeu tempo demais com questões internas e que agora terá de tirar o atraso, não dando trégua ao PT. "O discurso e o programa de governo que levaremos ao palanque serão definidos muito em função do que a oposição fará daqui até as eleições do ano que vem."
Mobilização
Para dar consistência ao debate político e criar as bases do programa de governo para 2011, o PSDB está mobilizando economistas, sociólogos e especialistas em diversas áreas, além dos parlamentares e dirigentes do partido. Instalar o quartel-general no Rio de Janeiro tem serventia múltipla. Além de fincar pé no terceiro maior colégio eleitoral, que é tradicionalmente de oposição, o PSDB aproveita o fato de que os coordenadores dos dois grupos temáticos mais importantes são cariocas.
Depois do carnaval, um grupo de coordenação vai se reunir semanalmente, dando orientação aos grupos temáticos que irão aprofundar os principais temas. Não por acaso, o debate prioritário é o do desemprego. A discussão sobre economia e conjuntura será comandada pelo ex-presidente do IBGE Sérgio Besserman Vianna, com a colaboração dos economistas Luiz Roberto Cunha e José Roberto Affonso, ex-superintendente do BNDES. O sociólogo Alberto Carlos de Almeida coordena as pesquisas.
Sem agressão
"Faremos uma oposição de mérito, sem xingamento e sem agressão. Não temos outro caminho que não a racionalidade", pondera Vellozo Lucas. Ele está convencido de que a oposição tem de se organizar, mas não porque não tenha feito nada até aqui. "O problema é que estamos lidando com um fenômeno de popularidade, um presidente que se tornou um mito, e um adversário voraz e pragmático. O PT não tem limite para fazer alianças sem princípios, nem para aparelhar o Estado despudoradamente", acusa
A avaliação geral é que a tarefa dos tucanos é conduzir o debate eleitoral de olho no projeto futuro. "O eleitor não vota olhando para trás", analisa Edson Aparecido, para concluir: "Vamos ter que mostrar que somos melhores e precisamos dedicar tempo para construir o sonho que o partido vai apresentar como projeto de governo à sociedade, a partir de experiências de êxito, como em São Paulo e Minas."