O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a intervir e levou o diretório do PT fluminense a adiar - sem nova data definida - o desembarque petista do governo Sérgio Cabral Filho (PMDB), que, segundo combinado anteriormente, seria oficializado nesta sexta-feira, 29. Depois de uma quinzena marcada por movimentação do Palácio Guanabara, ex-presidente pediu o adiamento diretamente ao senador Lindbergh Farias, pré-candidato da legenda à sucessão estadual. Sem alternativa, o parlamentar aceitou, mas integrantes do seu grupo político asseguram que manteve a disposição de levou o PT a sair do governo Cabral ainda em dezembro, para preparar a candidatura.
Em seu pedido a Lindbergh, Lula alegou que, também nesta sexta-feira, vai se reunir com a presidente Dilma Rousseff e a cúpula do PMDB para discutir a aliança dos dois partidos nos Estados. Seria desagradável, alegou , que a legenda no Rio rompesse ao mesmo tempo em que se fazia a costura nacional. No PT do Rio, porém, suspeita-se que algo maior pode estar acontecendo. Um dos sinais foi que, de acordo com interlocutores há 15 dias, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, perguntou a Lindbergh: "Por que vocês não adiam a decisão de sair?" O senador respondeu com outra pergunta: "Você fala em nome da presidente?" Mercadante, porém, afirmou falar em nome próprio.
Na quarta-feira, houve mais um sinal. Um dirigente nacional do PT avisou ao grupo de Lindbergh que é possível que tentem rever a candidatura própria.
Para o governo Cabral, que desde as manifestações de junho vive uma crise de popularidade - a última pesquisa Ibope o mostrou com apenas 18% de avaliação boa e ótima, 34% de aprovação e 58% de desaprovação -, a saída do PT poderia piorar o cenário. Seu pré-candidato, o vice-governador Luiz Fernando Pezão, aparece na sondagem em sexto lugar nas intenções de voto, com 4% nas intenções de voto, empatado com o novato Bernardinho, do PSDB. O adiamento da decisão pode ser interpretado como uma vitória do governador, que, em conversas com o partido, já insistiu que a discussão da candidatura própria fosse adiada para junho de 2014 o que virtualmente inviabilizaria a candidatura própria.
Na última semana, os secretários petistas Carlos Minc (Ambiente) e Zaqueu Teixeira (Direitos Humanos) e o líder do PT na Assembleia Legislativa, André Ceciliano, foram questionados pelo governo sobre a iminente saída. Responderam que o assunto já estava decidido. Por isso, a intervenção de Lula gerou, no grupo de Lindbergh, desconfianças sobre uma possível ação do próprio governador, junto ao ex-presidente, para levá-lo a agir.
Novela
A discussão sobre a saída do PT do governo Cabral já dura meses - pelo menos desde julho se fala no assunto. Inicialmente, o grupo de Lindbergh tentou marcar para 4 de agosto uma reunião da executiva para agendar o encontro do diretório regional que discutiria o assunto. Mas não foi possível: houve pressões do presidente nacional do PT, Rui Falcão, sobre o regional, Jorge Florêncio, e o encontro foi desmobilizado. Cerca de dez dias depois, Lindbergh, em reunião com outros petistas, acertou uma data para a reunião do diretório que oficializaria a saída (6 de outubro) e combinou que tentaria uma "sintonia com Lula" para marcá-la. O ex-presidente, porém, não gostou.
"Que pressa é essa?", perguntou a Lindbergh. Depois, em conversa telefônica com o senador e pré-candidato, pediu cautela. "Vamos conversar. Acho que você está muito apressado. Vai devagar". Já então, Lula mostrava ser favorável a que o PT ficasse no governo até dezembro. Na época, especulava-se que Cabral renunciaria ao cargo no fim de 2014, para que Pezão assumisse e pudesse trabalhar sua imagem. Isso, contudo, parece afastado.
O PT local acabou fechando a data de 30 de novembro para a reunião do diretório regional. O objetivo era evitar que a discussão se misturasse ao Processo de Eleição Direta (PED) das direções petistas, então em curso. Em reunião em 11 de outubro com Falcão, chegou a ficar acertado que a data da reunião seria dia 25 de novembro, dia seguinte ao segundo turno petista. Mas o partido acabou voltando a fixar 30 de novembro - data que, após o pedido de Lula, vai servir apenas para discutir a questão, mas não para decidi-la.
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