
O PT ameaça romper com o governo de Roberto Requião (PMDB) e entregar os cargos dos secretários de estado petistas, Valter Bianchini (Agricultura) e Lygia Pupato (Ciência e Tecnologia). O anúncio oficial deve ser feito hoje. No caso de ser confirmada a ruptura, marcaria o fim de uma parceria de sete anos entre o PMDB e o PT no Paraná.
A Executiva Estadual do PT fez ontem duas reuniões uma pela manhã e outra à noite para discutir uma reação oficial às acusações feitas pelo governador Roberto Requião ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT). De tarde, alguns integrantes do PT chegaram a anunciar o rompimento com o governador, mas o presidente estadual do PT, o deputado estadual Ênio Verri, negou que a decisão tivesse sido tomada.
Desagravo
A possível ruptura pode ser interpretada como um sinal de desagravo do partido ao ministro do Planejamento, acusado por Requião de propor o superfaturamento da construção do desvio ferroviário entre Guarapuava e Ipiranga obra que nunca saiu do papel.
Na semana passada, o governador acusou Bernardo de propor a construção do ramal por R$ 500 milhões, quando o valor real da obra, segundo Requião, seria de apenas R$ 150 milhões. Ou seja, Bernardo, de acordo com o governador, teria proposto um superfaturamento de R$ 350 milhões.
Sem descartar alianças
Apesar dos atritos entre Requião e os petistas, o presidente do PT no Paraná, Ênio Verri, foi diplomático. Disse que o partido está discutindo o "relacionamento com o governador". Mas, segundo ele, uma possível saída do governo não deve ser interpretada como um descarte definitivo de uma aliança entre os dois partidos na eleição deste ano, embora PMDB e PT caminhem hoje em direções opostas: o vice-governador deve ser o candidato peemedebista ao Palácio Iguaçu enquanto os petistas tendem a apoiar a candidatura do senador Osmar Dias (PDT).
Verri ontem afirmou que o partido aguarda a vinda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Paraná, no próximo dia 12, para dar o primeiro passo nos vários "estágios" da aliança com o senador Osmar. Embora não tenha dito claramente, especula-se que um desses estágios seja a tentativa de agregar o PMDB na coligação PT-PDT.
Mas nem todos petistas foram tão diplomáticos. Membro da direção nacional do PT, o deputado federal André Vargas defendeu a saída imediata do partido do governo estadual. "Foi o Requião que saiu da aliança", disse. "Depois que ele atacou o Paulo Bernardo, não tem mais sentido ficar no governo."
Ao saber que os petistas poderiam deixar o governo, deputados do PMDB ironizaram. Lembraram que falta um mês para o prazo final da renúncia do próprio Requião, que pretende disputar as eleições deste ano e terá de se desincompatibilizar do cargo até o início de abril.
Os peemedebistas também ironizaram a possibiliade de os dois secretários estaduais do PT deixarem o governo neste período, já que muitos integrantes do primeiro escalão do governo também vão ter de renunciar se quiserem concorrer nas eleições. "Será que eles vão cumprir aviso prévio", provocou um parlamentar, que não quis ter seu nome divulgado. O deputado Reinhold Stephanes Júnior (PMDB) emendou: "O pessoal do PT é tudo cachorro magro. Depois de oito anos, saem do governo na véspera do prazo final".
Sete anos
O PT do Paraná ajudou Requião a chegar à cadeira de governador nas eleições de 2002 e 2006, principalmente com o apoio eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois partidos trabalharam em conjunto nas duas eleições, mas a aliança foi fundamental na última campanha eleitoral, quando o governador conseguiu reeleger-se ao vencer Osmar Dias pela diferença de 10.479 votos. Contraditoriamente, a "briga" entre Requião e Paulo Bernardo deve acelerar a oficialização de uma aliança dos petistas com Osmar.



