Após cinco horas de depoimento, com direito a tumulto e ratos, mas sem avanço nas investigações, a bancada do Partido dos Trabalhadores na CPI da Petrobras tem procurado blindar o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, em todos os momentos em que é duramente acusado pelo oposição. Numa estratégia casada com o próprio Vaccari, os petistas também cobram que os tesoureiros dos demais partidos prestem esclarecimentos à comissão sobre as doações das empreiteiras alvos da Operação Lava Jato.
No início do depoimento, Vaccari, desenvolto, levantou-se da cadeira de depoente e usou um projetor para apresentar em slides uma série de dados e reportagens que mostram que o PT recebeu, proporcionalmente, a mesma quantidade de recursos das empresas da Lava Jato. Durante a apresentação, ele chegou a citar até uma reportagem do Estadão em que mostra um “equivalência” entre as doações do PT, do PMDB - o principal aliado do governo Dilma Rousseff -, e do PSDB, o maior partido oposicionista.
A partir daí, em intervenções, deputados petistas começaram a defender a vinda de tesoureiros de outras agremiações partidárias, citando a doação de empresas investigadas na Lava Jato. “Em alguns casos o PSDB supera o PT”, afirmou o líder do partido na Câmara, Sibá Machado (AC). O deputado Jorge Solla (PT-BA) citou que o presidente do PSDB e adversário de Dilma nas eleições, o senador Aécio Neves (MG), recebeu doações de uma das empreiteiras na mira da operação da Polícia Federal.
Sem ter conseguido avançar nas investigações, a oposição passou a criticá-lo pessoalmente. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) foi o mais contundente e disse que ele mentiu à CPI, chamando-o de “cínico” e “hipócrita”.
Sem sucesso em apurar a ação de Vaccari na Lava Jato, o vice-presidente da CPI, o tucano Antonio Imbassahy (BA), perguntou sobre a participação dele na Itaipu Binacional - ele integrou o Conselho de Administração entre 2003 até janeiro de 2015. Ele disse que foi indicado para o cargo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas evitou a dizer se era um nome de confiança do ex-chefe do Executivo. Mesmo pressionado interna e externamente, ele destacou que deixou a função por uma decisão pessoal.
Mesmo munido de uma liminar concedida ontem à noite pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que o garantia direito de permanecer calado na CPI, Vaccari fez questão de dizer que respondeu a todas as perguntas. “Eu poderia me calar, não responder a nenhuma pergunta. Eu respondo a todas as perguntas”, afirmou.
Vaccari Neto, ao responder pergunta da deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO), admitiu ser submetido a um teste com detector de mentiras. “Eu já disse aqui estar à disposição das autoridades”, disse.
Vaccari deu a mesma resposta quando questionado pelo deputado Bruno Covas (PSDB-SP) se aceitaria fazer uma acareação com o ex-gerente de Tecnologia da Petrobras, Pedro Barusco. Barusco, em depoimento em delação premiada, acusou Vaccari de receber propinas de empresas contratadas pela Petrobras. O tesoureiro do PT negou as acusações e, desde as 10h, afirma que o PT não recebeu dinheiro proveniente de propina. As negativas irritaram vários deputados.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) criticou os trabalhos da CPI da Petrobras e disse que a comissão está agindo para criminalizar o PT, ao mesmo tempo em que protege outros partidos ao não aprovar a convocação de depoentes relacionados ao PMDB, como o empresário Fernando Soares, o Fernando Baiano. Ele está preso em Curitiba (PR), acusado de envolvimento em pagamento de propinas.
O presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), reagiu à acusação. “Esta CPI não está protegendo quem quer que seja. Eu não admito esta ilação”, disse.
A deputada respondeu que não fazia qualquer acusação ao presidente da CPI, mas ao colegiado, que até hoje não aprovou requerimentos que pediam a convocação de Soares.
Mais cedo, o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) defendeu o PMDB. “Nosso partido tem recebido acusações, principalmente sobre Fernando Soares, que não tem ligação com o PMDB”, disse.
Pansera apresentou requerimento que pede que membros da CPI viajem a Curitiba para ouvir os depoimentos de Soares e outros 18 presos pela Operação Lava Jato. O requerimento ainda não foi votado.
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