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Curitiba, Maringá e Ponta Grossa – O clima de instabilidade política enfrentado pelo governo e pela direção nacional do PT deixou de se concentrar apenas em Brasília e começa a avançar pelo país. No Paraná, a Polícia Federal e o Ministério Público investigam um suposto esquema de caixa 2 na campanha para a reeleição do prefeito de Londrina, Nedson Micheleti, com base em denúncias feitas por uma ex-assessora financeira da campanha petista.

A partir do precedente aberto em Londrina, diretórios petistas de outras cidades paranaenses também estão sendo investigados. Em Ponta Grossa, o Ministério Público averigua supostas irregularidades que envolvem cheques devolvidos, uso da conta do partido para pagamento de gastos de campanha e dívidas não declaradas ao Tribunal Regional Eleitoral.

Duas dívidas que estão sendo cobradas na Justiça podem indicar a existência de um caixa 2 na cidade. Pelos menos três empresas que prestaram serviços para a campanha local não receberam e não constam na prestação de contas apresentada ao TRE. Uma delas é a gráfica Kembec Ltda., que produziu santinhos e panfletos para a campanha do ex-prefeito Péricles de Holleben Mello. O pagamento foi efetuado com um cheque de R$ 7,6 mil, assinado pela presidente do diretório municipal, Ana Maria Holleben, irmã do candidato. Como não havia saldo bancário, o documento não foi compensado. Desde janeiro, a dívida se transformou numa ação de execução por título extrajudicial na Justiça.

Outra conta que deixou de ser paga foi a hospedagem de uma equipe de marketing da campanha num hotel da cidade. De acordo com o advogado do hotel, Cleofas Viana de Morais, pelo menos R$ 20 mil deixaram de ser pagos em diárias e despesas de restaurante e frigobar. "As hospedagens foram garantidas pelos diretores do PT, mas não foram pagas. A equipe entrou e saiu com a autorização dos coordenadores da campanha", afirma o advogado. A dívida também está sendo reivindicada na justiça.

A presidente do PT local afirma que o partido pagará as dívidas oficiais. Embora o cheque de R$ 7,6 mil sem fundos entregue para a gráfica Kembec – que não consta no TRE – tenha a sua assinatura, ela prefere não se manifestar sobre as contas do caixa 2. Segundo ela, os R$ 369 mil devidos oficialmente serão arrecadados numa campanha entre filiados.

Os gastos de campanha do PT também passam por investigação em Maringá, a partir de uma denúncia feita pelo PP, em dezembro de 2004. "Foi uma campanha milionária e com muita gente que não era da militância", declara o presidente do PP maringaense, Marco Antônio Rocha Loures.

A direção petista na cidade mostra tranqüilidade. "Não há absolutamente nenhum problema nos nossos gastos", garante o presidente do diretório local, Claudemir Romancini, sobre o questionamento de caixa 2. "Foi um gasto equivalente a previsão do início da campanha e o que foi arrecadado". Sobre a ação do PP contra o PT, Romancini analisa que seja mais uma das intrigas políticas entre os dois partidos rivais e que o PP até tinha mais cabos eleitorais nas ruas. Já o PP compara que tinha só um comitê e o PT tinha dez comitês.

Caça às bruxas

Se por um lado a onda de denúncias sobre supostos desvios em campanhas traz à tona uma série de irregularidades, parte do meio político também se aproveita do momento de "denuncismo" generalizado para conseguir espaço na mída. "Estamos vivendo um momento de grande turbulência", analisa o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que teve seu nome citado nas denúncias de caixa 2 em Londrina. "As CPIs são assistidas como se fosse o Big Brother ou uma novela da Globo." Em depoimento à Polícia Federal, a ex-assessora do PT em Londrina Soraya Garcia disse ter a impressão de que sempre que o então deputado federal Paulo Bernardo visitava Londrina, o tesoureiro do PT Augusto Dias Jr. deixava de reclamar de falta de dinheiro. No entanto, Soraya diz que nunca viu nem ouviu qualquer fato que relacionasse Bernardo ao suposto caixa 2. O ministro minimiza a denúncia. "Durante a campanha eu ia toda semana a Londrina. Se fosse assim, não faltaria dinheiro nunca", ironiza. Paulo Bernardo defende que a campanha de Londrina seja investigada. "Nessa conjuntura, ninguém pode pretender ser honesto por definição, mas também não se pode transformar qualquer ilação em denúncia, já com uma condenação a priori."

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