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Fatos e versões

Veja como foi o leilão de concessão dos aeroportos e o que os partidos dizem sobre isso:

Concessões

Foram repassados para a administração privada três aeroportos: Guarulhos (SP), Viracopos (Campinas, SP) e Brasília.

Valores

As empresas pagaram R$ 24,5 bilhões para operar os aeroportos por até 30 anos.

Parceria

A Infraero, estatal do setor, continua com 49% de participação em cada um dos aeroportos.

O que diz o PSDB

- O modelo seria uma cópia das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, inclusive pela participação do BNDES, que poderá financiar até 80% do valor.

- O PT teria mentido para seus eleitores ao demonizar o modelo defendido pelo PSDB.

- Os petistas teriam perdido tempo, já que as concessões, para o PSDB, deveriam ter ocorrido na década passada.

O que diz o PT

- O modelo é diferente, de concessão, e com permanência do setor estatal, por meio da Infraero.

- Os valores mais altos obtidos pela atual administração seriam uma prova de que as privatizações do PSDB teriam sido malfeitas.

- O partido não seria contra todo tipo de diminuição do Estado, desde que haja fiscalização e foco no usuário.

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A concessão de três dos principais aeroportos do país para a iniciativa privada, realizada pelo governo federal na semana passada, mostra que o PT é cada vez mais pragmático e menos ideológico em suas ações. Segundo cientistas políticos, o movimento da presidente Dilma Rousseff em direção à privatização é mais um ponto de inflexão na história do partido, que sempre tentou colocar em seus adversários a pecha de "privatistas". Apesar disso, os especialistas não veem problemas eleitorais que a suposta contradição possa trazer para o partido.

Pelo menos em um primeiro momento, o PSDB nacional pareceu empolgado com a possibilidade de um novo argumento eleitoral contra os adversários petistas. A concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília seria "a prova definitiva do estelionato eleitoral", nas palavras do líder tucano no Senado, Alvaro Dias. "O PT renegou 20 anos de discurso e, de uma forma farisaica, tenta chamar de concessão o que todos sabem ser uma privatização", afirmou o senador na semana passada.

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Pré-candidato à Presidência em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) chegou a dizer em uma passagem pelo Paraná, logo após o anúncio das concessões, que o governo de Dilma se transformou em um "software pirata" da gestão de Fernando Henrique Cardoso. Disse que ele próprio era um dos defensores do modelo de concessão. "Exatamente o modelo que, depois de enfrentar toda essa resistência, hoje eles assumem", afirmou.

No entanto, cientistas políticos afirmam que dificilmente o PT terá problemas eleitorais em função da decisão de conceder os aeroportos. Segundo Maria do Socorro Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a avaliação do governo foi de fundo prático, não ideológico. "Houve uma percepção de que o Estado não teria como fazer o que era necessário e partiu-se para uma parceria público-privada. Mas isso não é uma contradição com o discurso mais recente do PT, que já governa com a direita há muito tempo", diz.

David Fleischer, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília, concorda. "Em tese, é uma contradição com o que o partido defendia historicamente. Mas era uma necessidade. E desde o início dos anos 2000 o antigo presidente do PT, José Dirceu, convenceu os petistas de que era preciso fazer um governo menos radical", diz. Fleischer lembra que já no governo Lula (2003-2010) o partido fez reformas que, de acordo com a ideologia tradicional do PT, poderiam ser vistas como contraditórias. E, mesmo assim, isso não afetou o desempenho eleitoral da legenda.

Para Fabrício Tomio, da Universidade Federal do Paraná, um possível dano eleitoral ao PT dependeria da habilidade de seus adversários, especialmente do PSDB, de conseguir explorar o assunto. E ele não vê uma maneira de isso ocorrer. "O PSDB teria dois caminhos", afirma. "Um é assumir a defesa das privatizações e dizer que o PT está copiando seu plano. Mas eles nunca assumiram essa defesa do governo FHC. A outra estratégia seria dizer que os dois partidos são iguais, mas não vejo como isso traria benefícios eleitorais para eles", diz.

Discurso alinhado

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Desde que a concessão dos aeroportos foi anunciada, petistas e tucanos começaram a se engalfinhar sobre o significado da concessão. A primeira reação dos pesos-pesados das duas legendas partiu do presidente Fernando Henrique Cardoso, dizendo que o fato de o PT aderir à desestatização punha fim à disputa ideológica sobre o tema. Em seguida, os petistas responderam, afirmando que o atual processo não tem qualquer semelhança com o que ocorria no governo do PSDB. "As empresas eram torradas nas bacias das almas a preços de compadre, agora os ganhos para o poder público são enormes e aplicados para o desenvolvimento do país", diz o texto preparado pelo comando petista.

Secretário nacional de comunicação do PT, o deputado federal paranaense André Vargas afirma que há "várias diferenças" entre as políticas do atual governo e as dos tucanos. "Basta ver que a Vale do Rio Doce foi entregue por um quarto do preço da concessão de Guarulhos", diz o deputado.

A Vale foi vendida em 1997 por R$ 3,3 bilhões. Guarulhos foi concedido por R$ 16,2 bilhões. A comparação, no entanto, é feita com base em valores desatualizados: os R$ 3,3 bilhões da Vale seriam o equivalente hoje a R$ 7,9 bilhões, ou pouco menos da metade do preço de Guarulhos.

O PSDB, porém, pretende aproveitar a oportunidade para questionar o que considera ser uma incoerência do partido adversário. José Serra, presidenciável do partido em 2010, escreveu artigo afirmando que o PT prima pelo oportunismo. "Na campanha eleitoral de 2010, a proposta de concessões foi satanizada. Pois o novo governo petista adotou-a em seguida! Perdemos cinco anos!"