Em sigilo, as cabeças mais coroadas do PT nacional já admitem que é irreversível a situação do governador Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, envolvido por meio de alguns dos seus principais auxiliares com a organização do bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso na penitenciária nacional de Maceió.
O envolvimento de Agnelo está comprovado em no mínimo 70 gravações de conversas telefônicas grampeadas pela Polícia Federal com autorização da Justiça. A direção nacional do PT e parte da direção do PT de Brasília ouviram algumas das gravações mais comprometedoras.
Já começou a pressão sobre Agnelo para que renuncie ao cargo. Se ele concordar que não lhe resta outra saída, a pressão passará a ser exercida também sobre seu vice, Tadeu Felipelli, do PMDB. Nada até agora foi descoberto que ligue Felipelli a Cachoeira.
Mas o PT não quer entregar o governo ao vice, que, no passado, foi homem de confiança do ex-governador Joaquim Roriz. Caso ele e Agnelo renunciem aos mandatos, haverá nova eleição direta para os dois cargos. É o que manda a lei quando metade dos mandatos ainda não foi cumprida.
Não será fácil para o PT eleger o sucessor de Agnelo. Primeiro porque o partido não dispõe de um candidato natural. O próprio Agnelo nunca foi petista. Era do PCdoB. Entrou no PT só para ser candidato ao governo.
O partido dispõe de pesquisas de intenção de voto que apontam José Roberto Arruda como, disparado, o nome mais forte para disputar a vaga de Agnelo. Arruda (DEM) se elegeu em primeiro turno governador do Distrito Federal em 2006.
No final de novembro de 2009, a Polícia Federal descobriu que ele pagava o apoio de deputados distritais com dinheiro tomado de empresas que prestavam serviços ao governo. Era o mensalão do DEM. Em um vídeo, de antes de ele ser eleito, Arruda apareceu recebendo dinheiro de um assessor do então governador Joaquim Roriz.
Preso em fevereiro de 2010, Arruda depois renunciou ao mandato. Seu vice, o empresário Paulo Octavio, acabou renunciando também. A Câmara Distrital elegeu um governador para completar o mandato dos dois. Até hoje, o Ministério Público não denunciou Arruda.
Na quinta-feira, Agnelo concedeu entrevista negando que tivesse se reunido com Cachoeira. Na sexta, voltou atrás e admitiu que se reunira com ele, segundo seu porta-voz, quando era diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Agnelo soube que seriam divulgadas gravações onde seus dois secretários mais poderosos diziam querer "se enturmar" com o próprio Cachoeira.